terça-feira, março 21, 2017

As fusões entre as para-petroleiras no mundo e sua relação com a reestruturação produtiva, a geopolítica, os EUA (Trump) e o Brasil

Para ampliar o conhecimento sobre o setor de petróleo é preciso separar as petroleiras (nacionais-estatais ou privadas) das empresas que fornecem bens e serviços ao setor.

Conceitualmente, as corporações que atuam fornecendo bens (máquinas, equipamentos e materiais), tecnologia e serviços ao setor de petróleo são chamadas de para-petroleiras.

Assim, se distingue suas funções. Elas existem em função das primeiras que detém as reservas, ou operam a exploração/produção e as contratam.

Com a exploração para busca de novos reservatórios em condições cada vez mais especiais (águas profundas, areia betuminosas e rochas de xisto), as para-petroleiras passaram a ser cada vez mais importantes e a se apropriarem de fatia maior da renda do petróleo que é repartida por uma extensa cadeia produtiva.

Cada vez mais, as para-petroleiras se apropriam de parcelas maiores da renda petroleira, obtida na extensa cadeia produtiva, desde a exploração, beneficiamento até a distribuição para o consumo, considerando que o petróleo é uma mercadoria que nunca é consumido in natura.

Em alguns casos, as grandes corporações para-petroleiras (Halliburton, Schulumberger, FMC, etc.), hoje são mais importantes – e fortes economicamente - até do que as próprias petroleiras.

O caso ajuda a explicar porque na fase de colapso do ciclo petro-econômico (2014-2016), as fusões entre elas – mais de 3 mil no mundo segundo consultorias especializadas – são enormes e continuam ocorrendo. Fenômeno que não é observado na mesma proporção entre as petroleiras.

No Brasil a atuação das para-petroleiras cresceu enormemente na última década. Elas somam várias centenas de empresas dos mais diversos tipos e têm origem em mais de duas dezenas de países.

A sua atuação das para-petroleiras no país cresceu com as exigências de "Conteúdo-local" feitas pelo governo Lula e agora, praticamente, suprimidas. Várias delas montaram bases no país e algumas até centro de pesquisa para o desenvolvimento de novas tecnologias, materiais e equipamentos.

A fusão entre as para-petroleiras no mundo têm reflexos imediatos no país e significam redução de bases operacionais, número de empregos e do aumento de força do poder econômico, sobre o poder político, para reduzir exigências regulatórias feitas pelos governos, em suas diferentes escalas.

No plano global, é possível identificar na atuação das para-petroleiras, estratégias que unem interesses corporativos e geopolíticos das nações.

Sobre esta questão se observa que estas corporações dos EUA estão avançando sobre as players do setor na Europa. Trata-se de uma forma que é conhecida entre as empresas como "especialização vertical no setor.

Observando o movimento entre as grandes corporações para-petroleiras pode-se citar:

a) A Halliburton tentou adquirir a Baker e foi proibida, porque foi considerado cartel.

b) Logo após a Baker se uniu à GE fortalecendo ainda mais a corporação americana conhecida no setor.

c) A seguir, a americana FMC se fundiu à francesa Technip ampliando a especialização vertical das corporações americanas do setor óleo & gás.

d) Na semana passada (16/03/2017), o mercado divulgou que a gigante para-petroleira americana Halliburton estaria comprando a grande para-petroleira, norueguesa, Aker Solutions.

Mais uma vez se vê uma hierarquização (verticalização) setorial com o centro deste hub nos EUA, buscando atrair para a América parte deste setor para-petroleiro que até aqui era forte na Europa.

É certo que este movimento não é espontâneo e nem se trata apenas de interesses comerciais.

Não é difícil identificar a relação entre as corporações e poder político (Estado) como objetivo estratégico, centrado em interesses geopolíticos e de hegemonia.

Neste sentido, ele parece estar ainda sustentado na profunda relação do governo Trump com o setor petróleo e com o compromisso que assumiu internamente de fortalecer setores da indústria e dos serviços de alto valor americanos.

A liberação de exigências ambientais para atuação do setor petróleo nos EUA, para exploração e construção de oleodutos são exemplos da forte relação de Trump com o setor, que aliás sempre foi muito forte, em especial, nas últimas cinco décadas.

O assunto tem relação com o Brasil, ao recordarmos que a indústria do petróleo – independente do ciclo – é forte como um dos pilares do desenvolvimento econômico brasileiro. Todas estas players - para-petroleiras – possuem instalações e equipes no Brasil.

Este movimento mexe nos empregos no país e também na localização espacial destas bases, na medida em que estas fusões tendem a unificar as bases operacionais nos vários países, como forma de reduzir os custos, obtidos com a oligopolização do setor, em todo o mundo – de forma transescalar - com reflexos espaciais também no território brasileiro.

Cada vez é mais fácil, identificar o golpe, com mudança de governo Brasil, como parte deste movimento e não como uma pura teoria conspiratória. Os fatos são reais. 

A interpretação global delas, e não de forma fragmentada, sustentada no que se conhece da geopolítica do petróleo e nos processos de mundialização das grandes corporações - e de sua profunda e crescente vinculação ao sistema financeiro (e fundos) - nos oferecem as pistas para compreender a realidade que está em curso.

Desde 2008, se entendia que o Brasil, depois do pré-sal, querendo ou não, tinha passado a ser parte importante deste circuito. Como autonomia e soberania sobre usas riquezas minerais, ou dependente, capturado e controlado pela hegemonia americana que luta contra a decadência.

Muitos ainda não entenderam que para o capital americano, na atualidade, as para-petroleiras da mesma origem, podem ter um papel mais importante para os EUA do que as próprias petroleiras como a Chevron e a Esso.

Isto não quer dizer que estas corporações petroleiras tenham aberto mão dos seus interesses sobre o Brasil que atualmente estariam sendo negociados. As petroleiras americanas entrarão no Brasil de forma cruzada, entre negócios com petroleiras europeias que aqui já atuam com certa influência.

No meio destes negócios feitos com ativos brasileiros estão as grandes para-petroleiras. E os movimentos delas são muito pouco observadas, mesmo por quem atua no setor. 

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