segunda-feira, julho 24, 2017

A geopolítica da energia: os reflexos do ciclo do petróleo e sua relação com o Brasil

Eu tenho tratado aqui com alguma insistência sobre a necessidade de observar o "ciclo petro-econômico" em suas duas fases (boom e colapso) e os efeitos deste movimento cíclico para as nações (produtoras ou importadoras) e para a economia como um todo.

É fato já conhecido que a redução dos preços do barril fecha rapidamente as torneiras de investimentos no setor. Assim, com a fase de colapso dos preços a partir do segundo semestre de 2014 até hoje, esta redução de recursos de investimentos é de cerca de 50%, caindo para algo em torno de US$ 400 bilhões por ano no mundo.

É a primeira vez na história, que por três anos seguidos, os investimentos para exploração de petróleo no mundo, seguem reduzindo. Segundo alguns analistas, os investimentos se reduziram não apenas por conta dos baixos preços, mas porque desde 2009, os gastos eram cada vez maiores e os resultados menores, se achando menos petróleo.

Na prática, este movimento leva à redução da exploração e perfuração - especialmente após 2014 - para a busca de novas reservas, ao mesmo tempo que os campos já descobertos vão se "esvaziando".

Desta forma, com a velocidade de consumo maior do que a reposição de reservas, o início de um novo ciclo e um novo ápice tende a surgir no horizonte.

As descobertas do petróleo diminuíram para 2,4 bilhões de barris em 2016, em comparação com uma média de 9 bilhões de barris por ano nos últimos 15 anos.

Seguindo este raciocínio é possível compreender que se leva anos, entre fazer uma pesquisa inicial de potencialidades de áreas, mais as perfurações, até a produção aconteça e se deslanche ao grau máximo nos poços e campos de petróleo [1].

Assim, observando o ciclo petro-econômico e analisando ainda o gráfico abaixo, produzido pela consultoria Wood Mackenzie e publicado pela Bloomberg, sobre o declínio anual de descobertas de novos campos de petróleo, não é difícil compreender o que se terá pela frente. Com menos reservas de petróleo no mundo, quem as possui tende a ser mais visado.














Este processo só terá um desenvolvimento diferente, se a demanda (consumo) cair muito significativamente, em função de uma paralisia ou decrescimento econômico médio no mundo.

Goste-se ou não, o petróleo é o motor do capitalismo e continuará a ser, por pelo menos mais três ou quatro décadas, especialmente, em função de sua demanda para o setor de transportes, a despeito da ampliação do uso das energias não convencionais.

Assim, também não é difícil compreender porque a maior fronteira de exploração de petróleo descoberta na última década no mundo (pré-sal) - com seis dos dez maiores campos descobertos neste período - é tão cobiçado.[2]

Assim, a economia explica a política (e vice-versa) e ambas passam a se comunicar na geopolítica presente em nosso cotidiano, mesmo que pouco percebido.


[1] MARTENSON, Chris. 2017. The Looming Energy Shock -The next oil crisis will arrive in 3 years or less. Disponível em: https://www.peakprosperity.com/blog/109505/looming-energy-shock?utm_campaign=weekly_newsletter_291&utm_source=newsletter_2017-07. Republicado no site da Aepet em 04 jul. 2017. O iminente choque energético. Disponível em: http://www.aepet.org.br/noticias/pagina/14618/O-iminente-choque-energtico.

[2] As reservas do pré-sal ainda não estão todas contabilizadas. Potencialmente algumas consultorias e especialistas estimam as reservas em mais de 100 bilhões de barris. Porém, a exploração na área precisa também tem sido menor e os campos e poços de petróleo necessitarão passar por Testes de Longa Duração (TLD) para serem confirmadas.
Em 2013, antes desta fase de colapso do ciclo petro-econômico, o Índice de Reposição de Reservas (IRR) da Petrobras estava acima de 100%. Ou seja, o aumento das reservas era maior que a exploração. Depois de 2015, assim como em todo o mundo, o IRR da Petrobras caiu. Em 2016, ele foi de apenas 34%.

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