quarta-feira, abril 03, 2019

A riqueza material da maior petrolífera do mundo tem lucro 2 vezes maior que a Apple: uma das razões que explicam os interesses sobre o nosso bilionário pré-sal

Numa época em que a riqueza material vai sendo substituída pela produção de valor fictício do capital financeiro, a gente fica sabendo que a empresa mais lucrativa do mundo é uma petrolífera. A estatal Saudi Aramco da Arábia Saudita que em 2018 teve lucro bruto de U$ 224 bilhões. O lucro líquido foi de US$ 111,1 bilhões. [1]

O lucro líquido só não é maior porque a carga tributária é grande, em torno de 50%, que vai irrigar o fundo soberano que será comentado adiante.

Esse majestoso lucro em 2018, quando o barril de petróleo esteve na média em torno dos US$ 70. Imaginem, o lucro entre 2010 e 2013, quando no mercado internacional, o barril de petróleo esteve sempre acima de US$ 100.

O fato mostra que não se pode deixar de perceber a importância do espaço e do território onde esses recursos se localizam. A informação também reforça a interpretação sobre a potência dessa fração do capital e do que chamo do Circuito de Produção do Petróleo pelo mundo.

Até então o Ocidente não tinha essa informação sobre faturamento e nem rentabilidade dessa estatal saudita, porque o governo saudita que a controla considerava essa uma informação estratégica apenas sua.

Porém, nos dois últimos anos, o governo saudita vem tentando vender um pequeno percentual dessa gigante petrolífera. Pretende lançar ações e capturar recursos para investir em outras áreas, inclusive petroquímica, sabendo que essa área terá maior importância, na medida em que o transporte vá se descarbonizando com menor uso do petróleo.

Assim, a Saudi Aramco pensa em disponibilizar até 10% de sua maior empresa, para obter esses recursos. Assim, precisou divulgar esses lucros colossais. O planejamento é o lançamento de uma oferta inicial de ações (IPO) em 2021, com expectativa de captar US$ 100 bilhões, depois de ter adiado esse lançamento que antes havia sido planejado para acontecer a partir de 2018.

US$ 111, 1 bilhões de lucro líquido é quase o dobro do lucro da famosa Apple (US$ 69 bilhões) e quase o triplo da soma dos lucros das petroleiras anglo-holandesa Shell (US$ 24 bilhões) e a americana Esso (US$ 21 bilhões).

A Saudi Aramco sozinha é responsável por cerca de 10% da produção mundial de petróleo, na faixa entre 10 e 11 milhões de barris por dia. O grupo tem 257 bilhões de barris de óleo equivalente, representando mais de 50 anos de reservas com base nos níveis atuais de produção. 

Vale lembrar que as petrolíferas estatais (NOC - National Oil Corporation) possuem cerca de 90% das reservas provadas de petróleo do mundo. De outro lado, estão as petroleiras privadas (IOC - International Oil Corporation) que possuem apenas 10% das reservas mundiais, e de alguma forma, "influenciam" os movimentos políticos e os conflitos de poder nos países que possuem essas maiores reservas de forma a construir formas de chegar ao controle e exploração desses campos de petróleo, onde quer que eles estejam.
A estatal saudita é um empresa com enorme liquidez. No final de 2018, a Audi Aramco possuía US$ 86 bilhões livres como fluxo de caixa. Esse extraordinário lucro da Saudi Aramco ajuda a irrigar o fundo Soberano da Arábia Saudita, o Sama que em 2016 possuía ativos de US$ 632 bilhões com investimentos em diversos setores e negócios pelo mundo. [2]

O setor de petróleo é intensivo em capital, mas é altamente lucrativo e explica, muito do que se vê na disputa por hegemonia no mundo e por golpes políticos e pressões contra governos que teimam em defender que esse bem material esteja a serviço da maioria da população e não das gigantes corporações do setor, que já foi conhecida como as “sete irmãs”.

Observando esses dados é possível entender o que se passa abaixo do Equador quando o Brasil e a América Latina foram se transformando em área de importantes reservas de petróleo, tal qual o Oriente Médio.


Referências:

[1] Matéria do Peak Oil – News & Mensagens Board em 2 abr. 2018. Aramco eclipses top earner Apple ahead of debut $10 bln-plus bond sale. Disponível em: https://peakoil.com/business/aramco-eclipses-top-earner-apple-ahead-of-debut-10-bln-plus-bond-sale

[2] Tese do autor, (Quadro 2, p.89/560) defendida em mar. 2017, no PPFH-UERJ: “A relação transescalar e multidimensional “Petróleo-porto” como produtora de novas territorialidades”. Disponível na Rede de Pesquisa em Políticas Públicas (RPP)-UFRJ: http://www.rpp.ufrj.br/library/view/a-relacao-transescalar-e-multidimensional-petroleo-porto-como-produtora-de-novas-territorialidades


PS.: Atualizado às 11:24: Para ligeiro acréscimo no texto.

Nenhum comentário: