sexta-feira, março 25, 2016

De onde ressurge e amplia o fascismo na atual conjuntura política do Brasil?

Eu tenho me feito esta pergunta com alguma frequência. Alguns reportam a uma sintonia com movimentos similares em outros países.

Entendo, mas me parece que há algo para além disso e com cara brasileira. Assim, eu percebo que em conjunturas anteriores, estas ações, nesta linha de ódio, junto com a ideia de "higienização" e assepsia, sempre foram sendo enfrentadas em seu próprio nascedouro e, nunca tiveram muito espaços para evoluir, como se vê agora.

Acho bobagem atribuir isto e "lideranças" que por décadas tentaram bater bumbo nesta linha, como o tal Bolsonaro. Ele apenas é receptáculo deste processo e não sua causa.

O nazi-fascismo alemão não chegou onde chegou sem um imenso poder de comunicação. Esta comunicação foi engendrada a partir de uma construção mental simbólica, na linha da assepsia de tudo que era ruim e que deveria ser extirpado.

Sem este imenso poder de comunicação, a perigosa ideia de assepsia seria natimorta.

A fervura que ajudou na sua evolução possuía bases iniciais de uma disputa de poder local, nacional, como outras, mas derivou em meio às idiossincrasias do embate da luta política real (e no espaço local, como todas) para o campo das intenções simbólicas, inicialmente, não verbalizadas, mas presentes.

Ninguém nasce fascista, mas as pessoas se tornam fascistas por decorrência dos conflitos sociais e da disputa de poder na sociedade.

Liquidar os contra para limpar a sociedade de tudo e todos era ideia simples, que elimina as explicações complexas de como funciona a se estrutura a sociedade. Assim, ela era facilmente enfrentada e ampliada através da comunicação de massa.

É neste contexto que eu arrisco interpretar que o monopólio da comunicação existente no Brasil foi se enredando, em meio à disputa pelo poder político nacional.

A repetição à exaustão como se fosse diariamente um programa eleitoral gratuito de um único lado, que mostra os pontos altos de sua versão, ouvindo seus melhores ideólogos e, para ainda mostrar uma neutralidade, coloca no ar pequenos trechos das falas contrárias, só que em seus piores e desfocados argumentos, dentro da narrativa editorial milimetricamente estudada.

A agressão ao bispo Dom Odilo Scherer e ao ministro do STF Teori são apenas a parte visível do ódio latente articulado no poder simbólico (Bourdieu) do processo. Não. A Globo não propõe a violência explicitamente. Ao inverso ela fala o contrário, daquilo que induz freudianamente.

Como eu disse ontem, em meu perfil no Facebook, ao sugerir e comentar uma análise do Paulo Nogueira (no seu blog Diário do Centro do Mundo) sobre como a Globo foi se enredando neste processo que inicialmente era apenas para tirar o PT e colocar um dos seus, para salvar o império oligopólico de comunicações.

Porém, paulatinamente, como ocorreu com o nazi-fascismo, o jogo foi se transformando numa disputa de vida ou morte.

Assim, o ódio melhor expresso pela "waakanização" do personagem pego nos esquemas denunciados pelo wikileaks de repasse de informações, avançou na linha do carreirismo bem pago, para o processo de "kamelização", misturado a oportunismo, que está ajudando a engendrar uma estrutura mental que traz a ideia de "higienização" e de "assepsia" similar ao esquema do fascismo.

Não se trata mais de uma polarização de disputa pelo pode, que já seria estranho quando travado por uma empresa contra um governo ou partido e não por duas propostas políticas apresentadas por partidos políticos.

A disputa nas ruas e nas redes sociais na última semana mostram de formam evidente que o duelo (sim duelo) se dá entre a Globo contra o governo, um partido e os movimentos sociais que o apoiam.

Este embate nos demonstra de forma evidente os furos, hiatos e os vícios de nosso arcabouço jurídico-político que ainda permite estas excrecências.

Em momentos como este, reclamar da polarização (alguns simplificam chamando de Fla x Flu) não ajuda a lutar por saídas, porque tende a responsabilizar a todos, como se as causas, fossem iguais em extensão e em conteúdo. Não. Os excessos precisam ser controlados sim, mas também a direção dos movimentos.

Hoje, mais do que defender os partidos e seus líderes, agora a causa remete à Defesa da Democracia e do Estado de Direito, contra o Estado de Exceção.

Necessitamos de Mais Democracia, menos intolerância, mais inclusão, menos desigualdades. Só essa luta barra o fascismo e o Estado de Exceção.

Sigamos em frente!

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