quinta-feira, julho 07, 2016

Petrolíferas sinalizam investimentos em novo ciclo do petróleo: Chevron aprova projeto de US$ 37 bi no Cazaquistão

Embora, particularmente, eu avalie que uma nova fase de expansão num novo ciclo petro-econômico, não deva ocorrer antes de três, ou até quatro anos, a atual estabilização do preço do petróleo, em torno dos US$ 50 o barril, já foi suficiente para trazer mudanças por parte das petroleiras privadas, depois de dois anos de cortes de investimentos em todo o mundo.

Assim, a petroleira americana Chevron anunciou novos investimentos de US$ 37 bilhões para expansão da exploração/produção no campo de Tengiz, no Cazaquistão. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (06/07) pelos jornais Wall Street Journal e Financial Times.

O objetivo do investimento é aumentar a produção de petróleo bruto em 260 mil barris por dia no campo de Tengiz operado em consórcio TCO liderado pela Chevron (50%) e que produziu no ano passado o volume de 595 mil barris por dia. Os demais participantes do consórcio são Esso (25%); KazMunaiGas, estatal do Cazaquistão (20%) e a russa Lukoil (5%).

Chevron no Cazaquistão - WSJ
É interessante observar que a petroleira prevê que estes novos investimentos só devem produzir resultados com expansão da produção em 2022.

O título da matéria no Wall Street JournalPetrolíferas globais se animam a investir de novo em grandes projetos” pode evidenciar como as petroleiras privadas - que possuem controle sobre menos de 10% de todas as reservas mundiais de petróleo - estão começando a ficar preocupadas com o “novo ciclo do petróleo”.

Estes dois últimos anos (2014-2016) de preços menores, depois de 4 anos seguidos (e únicos na história) de preços seguidos acima de US$ 100 fizeram com que os investimentos em exploração e buscas de novas reservas de petróleo diminuíssem muito.

Considerando que neste mesmo tempo, as petroleiras mantiveram a extração/produção, por consequência se teve uma redução de suas reservas, com baixas remuneração, por conta dos menores preços do barril.

Segundo a consultoria Wood Mackenzie os investimentos no setor petróleo previstos, par ao período entre 2015 e 2020 caíram, em cerca de US$ 1 trilhão, ou 22% abaixo do que vinha acontecendo até o início do colapso de preços, no ano de 2014.

As duas matérias sinalizam que outras grandes petroleiras Esso, BP e a italiana Eni devem seguir o mesmo caminho voltando a investir, ao considerar que esta faixa de preço de barril, estabilizada em torno dos US$ 50, vale voltar a correr os “riscos”.

As petroleiras sabem que quem sai na frente no novo ciclo leva vantagem, porque ainda nesta fase de colapso e de troca do ciclo do petróleo, os custos de exploração estão bem abaixo do que estava na fase de boom. Assim, os gastos para a exploração com uso de sondas, bombas e outros equipamentos de perfuração, além da mão de obra, serão bem mais baixos.

De novo a concepção do “ciclo petro-econômico”.

Agora imaginem vocês o que estas petroleiras não fariam para ter acesso às reservas do pré-sal, que já produz um volume de 1,1 milhão de barris por dia, a um custo (sem royalties, participações governamentais e escoamento) em torno de US$ 8, o barril?

O pré-sal já é um projeto vitorioso. Como eu gosto de chamar a "nossa joia de coroa", sobre as quais recai enorme cobiça!

Vou repetir o que tenho dito com frequência (até exagerada) aqui neste espaço. Reconhecer o ciclo petro-econômico, trabalhar e aguardar a passar esta fase de colapso é a grande decisão. Resta saber se os entreguistas – que têm pressa – deixarão.

PS.: Atualizado às 12:22: E ainda sobre o assunto vale relembrar matéria da Bloomberg sobre o fato que há 6 décadas as descobertas de petróleo têm o menor nível: "Descobertas de petróleo no mundo têm menor nível desde 1952".

"As descobertas de petróleo atingiram o menor patamar em seis décadas porque as empresas exploradoras reduziram bilhões de dólares em investimentos para sobreviver à maior crise do mercado em uma geração... Cerca de 12,1 bilhões de barris em reservas de petróleo foram descobertos em 2015, marcando um quinto ano consecutivo de declínio e o menor volume desde 1952, disse a Rystad Energy, consultoria do setor com sede em Oslo...O ritmo das descobertas de petróleo provavelmente continuará inalterado até 2018, disse a Rystad Energy."

Mais detalhes da matéria de 24 de maio de 2016 veja no link: http://www.bloomberg.com.br/2016/05/24/descobertas-de-petroleo-no-mundo-tem-menor-nivel-desde-1952/.

4 comentários:

Anônimo disse...

como chegaram a esse valor de U$ 8 o barril ? e por que a Petrobras não consegue ser lucrativa ou sair da divida com esse valor de barril?

Roberto Moraes disse...

O blog já comentou por várias vezes este assunto sobre o custo de extração. A informação sobre ele é da atual diretora de Produção Solange Guedes.

Porém, há que se fazer várias considerações sobre ele. Uma coisa é a informação bruta do custo de produção, líquida. Outra é a inclusão neste valor, daquilo que é pago como participações governamentais (royalties e participações especiais sobre alta produção em campos maiores). É assim em todo o mundo.

Há ainda um terceiro custo de produção usado que é aquele que inclui ainda os gastos referentes ao escoamento da produção, que muitas vezes corre por conta da petroleira operadora.

Há mais outra que são considerados como custos de produção conforme as análises que se queira fazer: a dos custos do dinheiro usado para investimentos para a produção nos poços e campos.

Normalmente se faz muita confusão misturando dados diferentes para se fazer as análises. Evidentemente, isto é um erro, como comparar banana com laranja.

Sobre a outra pergunta sobre empresa ser lucrativa ou sair da dívida pode ser uma outra mistura de laranja com banana.

Roberto Moraes disse...

Completando:

Não há como produzir sem investir. E na grande maioria das vezes isto exige empréstimos e contração de dívidas que viabilizarão a produção e os lucros, que são amortecidas paulatinamente.

A Petrobras ampliou suas dívidas com o aumento de suas reservas para viabilizar a produção. No meio disto, o ciclo do petróleo se inverteu, em todo o mundo. Assim, as receitas caem e as dívidas ficam mais pesadas. Ainda assim, há como pagar pelo potencial que a empresa tem seja com as reservas, pessoal qualificado e tecnologia.

É preciso no curto prazo administrar as dívidas pra esperar o novo ciclo do petróleo com preços melhores.

A conversa é longa, mas passa por aí.

Roberto Moraes disse...

Mais um pouco sobre a proteção de nossas reservas e seu potencial pelos custos de extração:

Livro “A defesa do ouro negro da Amazônia Azul", dos capitães de fragata Luciano Ponce Carvalho Judice e Charles Pacheco Piñon.

O livro descreve as necessidades Defesa Nacional e no caso do Pré-sal fala das ameaças sobre a nossa que nossa soberania naquelas reservas e ainda descrevem o aumento do interesse estratégico dos EUA pelo Atlântico Sul:

"Cabe neste ponto ressaltar o baixo custo de extração da área do Polígono do Pré-sal, que atualmente encontra-se em um patamar inferior a US$10,00 o barril, em relação a outras áreas petrolíferas do mundo, custo esse inclusive inferior aos campos petrolíferos existente no Pós-sal da Bacia de Campos, por serem mais antigos. Em termos de comparações internacionais, de acordo com dados de 2013, compilados pelo periódico Petroleum Intelligence Weekly, os campos petrolíferos do tight oil nos EUA, por exemplo, teriam custos de extração variando entre US$ 56,00 e US$93,00; o offshore do Golfo do México estadunidense teria custos entre US$ 41,00 e US$70,00; e o Mar do Norte teria custos entre US$ 27,00 e US$83,00. Tais dados explicam a queda prevista pela AIE [Agência Internacional de Energia] na citação anterior, considerando a manutenção do preço de mercado do barril de petróleo na faixa atual de US$ 30,00, e evidenciam como é alvissareiro o baixo custo extrativo do Pré-sal, após os investimentos tecnológicos já realizados. Enfim, a ativação de uma Esquadra a partir de um Comando de Força Naval (…) é coerente com o conceito de proatividade estratégica marítima discutido no capítulo teórico inicial deste trabalho. Dentro da visão de atuação global estadunidense, haveria a preocupação de manter uma estrutura permanente que realize planejamentos com vistas a conformar o futuro a seu favor. Nota-se assim, pela ativação da Quarta Esquadra em 2008, uma antevisão de que o Atlântico Sul passaria a ter uma elevada importância estratégica, consoante a possibilidade de diversificação de oferta de combustíveis fósseis, numa área distante do conflagrado Oriente Médio, que agora está ameaçada pelo Estado Islâmico, sem depender do trânsito marítimo por perigosos gargalos, como o estreito de Ormuz. Não por acaso o Polígono do Pré-sal foi incluído no denominado “Triângulo Dourado”.