quarta-feira, maio 13, 2020

A plataformização digital da vida pós-Covid ampliará a vampirização da renda do trabalho num processo de retroalimentação do sistema

Observando o dia-a- dia é impossível não identificar que com o avanço da pandemia do Covid-19, os comportamentos individuais, sociais e corporativos explodiram o uso indiscriminado das plataformas digitais, que a maioria nem tem ideia que seja assim denominada.

Eu vinha, já desde o segundo semestre de 2019, intensificando os estudos e as pesquisas sobre o capitalismo de plataformas e a digitalização da vida social. O uso das plataformas digitais para intermediação entre negócios entre produtor e consumidor e para a captura de dados sobre os sujeitos. Postei aqui neste espaço alguns breves textos sobre o assunto. (P.e: aqui, aqui, aqui, aqui, etc.)

Pois bem, de lá para cá, os usos das plataformas digitais se multiplicam exponencialmente. Uma utilização que pode ser interpretada como quase sistêmica, embora permaneçam excludentes para uma boa parte da população que precisa de socorro para receber os R$ 600 na Caixa. Ou ainda, para “mandar os documentos pelo computador” para viabilizar suas aposentadorias no INSS. Por ali, estes, também têm recebido as primeiras ofertas de empréstimos consignados, porque as financeiras, hoje, sabem antes do cidadão, que esse algoritmo foi reconhecido como aposentado.

A digitalização da vida social entra assim na vida da maioria das pessoas, capturando dados na ânsia do capitalismo de plataformas, que separa quem tem renda para ser capturada, daqueles que são apenas números e bytes. Compras online de todo o tipo até no vizinho. Home-banking. Home-office. Netflix. Amazon Prime, YouTube, Zoom, Google, Uber, AirBNB, IFood, WhatsApp, etc. Plataformização ampla dos negócios e da vida.

O “neohigienismo” que um século depois seguirá como padrão pós-pandemia, empurrará ainda mais pessoas para o capitalismo das plataformas digitais. A sazonalidade entre isolamento e afrouxamento social que determinarão essa nova “forma societal” entre as ondas (surtos) da contaminação por regiões, serão seguidas e controladas pelos rastro de dados que deixamos pelos caminhos digitais.

Os dados exames dos contaminados já são bytes e algoritmos e estão nos bancos de dados das “nuvens” separando os “imunizados” dos doentes e dos que ainda permanecem em risco.

A plataformização digital também serve e se interliga à tecnopolítica que controla a opinião, os medos, ódios e votos dos sujeitos de uma democracia combalida. Sobre a tecnopolítica eu já havia comentado em postagem aqui no blog, em 3 de fevereiro de 2020, sobre o livro Os engenheiros do caos do Giuliano Da Empoli e os movimentos desde a política newtoniana da democracia liberal, á política quântica dos algoritmos e das fake news, que nos trouxe ao momento atual.

As inter-relações do capitalismo de plataformas são ainda mais ampla e com mais vínculos como por exemplo com a “plataforma digital dos fundos de investimentos” que alimenta a si próprio como instrumento do moto-contínuo capitalismo que engorda vampirizando as rendas (onde quer elas estejam) em processos agora automáticos de retroalimentação do sistema.  

Enfim, os que sonharam com uma tecnologia que nos levasse a uma sociedade moderna e solidária do compartilhamento, está tendo como resultado pós-moderno, o controle que sobre os indivíduos que ainda têm renda a ser sugada por ofertas de consumismo frenético.

Os demais cidadãos são os “invisíveis” que apareceram nas filas da Caixa na busca apavorada e sem alternativas por sobrevivência material e assim, sofrem o riscos de serem as vítimas do eugenismo BolsoMilitar da necropolítica do presente no caso do Brasil.

Para encerrar, é ainda impressionante observar que nem o esgarçamento societário com o isolamento físico-social que sofremos no presente, no auge desta pandemia, parece capaz de deter o monstro que se agiganta morro abaixo alimentado pela digitalização interessada sobre as nossas vidas pessoais e sociais.

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