terça-feira, março 06, 2007

Entrevista com o prof. Romeu e Silva Neto

O professor Romeu e Silva Neto coordenador do Observatório Socioeconômico do Norte Fluminense e responsável pela elaboração e publicação, do 16º Boletim, enfocado nas três notas abaixo, sobre a evolução do emprego na região concedeu a este blog, uma entrevista em que aprofunda a análise da nossa situação oferecendo sugestões bastante interessantes.

Romeu é engenheiro civil com doutorado em Engenharia de Produção pela PUC-Rio e especialista em Desenvolvimento Local pela OIT – Organização Internacional do Trabalho (Turim-Itália). Romeu além de coordenar o OSENF é professor do mestrado em Engenharia Ambiental do Cefet e coordenador do curso de Engenharia de Produção do Isecensa.Veja a entrevista:
Blog: A que você atribui esta estagnação do estoque de empregos entre 2005 e 2006 em Campos?
Romeu: À falta de uma política pública de desenvolvimento que privilegie as micro e pequenas empresas (MPE) dos setores de serviços, indústria e agropecuária e à falta de incentivo à criação de novas empresas MPE inovadoras e de base tecnológica.

Blog: A prefeitura divulga constantemente, a informação de que o FUNDECAM teria, nos seus cinco anos de funcionamento, desde 2002, gerado 4 mil novos empregos nos 50 projetos financiados, a um custo de total de R$ 203 milhões. É possível identificar estes empregos nas estatísticas? Você qualifica o fundo como a melhor opção para gerar empregos?
Romeu: Temos dados inéditos da evolução do emprego formal na indústria (setor que o FUNDECAM apóia), os quais temos comparado com os anúncios dos gestores do Fundo. Nossos dados ainda não identificam crescimento expressivo em nenhum segmento industrial. A impressão que temos é que os empreendimentos ainda estão, em sua maioria, em desenvolvimento, mas temos a expectativa de que a partir de sua consolidação esses novos empregos anunciados apareçam nas bases estatísticas que monitoramos (RAIS e CAGED do Ministério do Trabalho e Emprego). Estaremos monitorando e, quando e se aparecerem, informaremos à sociedade. Esse é o papel do Observatório.
Pessoalmente, sou defensor do FUNDECAM, mas também sou crítico. O Fundo tem privilegiado empresas de maior porte e de fora de Campos (uma política de desenvolvimento exógeno). Defendo que atenda também às micro e pequenas empresas locais (uma política de desenvolvimento endógeno). As duas devem atuar em conjunto, podendo até criar relações de complementaridade como, por exemplo, a formação e capacitação de pequenos fornecedores locais para os grandes empreendimentos fomentados.

Blog: É indiscutível que a cadeia produtiva do petróleo é que faz Macaé ter um índice de emprego, maior do que a sua própria PEA. O estoque de empregos de Macaé é praticamente igual à soma de todos os demais municípios do Norte Fluminense incluindo Campos. Você não acha que um plano regional poderia repartir partes destes empregos com os demais municípios da região e assim também diminuir, o impacto sobre a cidade de Macaé, que desta forma sofreria menos violência e favelização?
Romeu: A “capacidade de arrasto” da cadeia produtiva do petróleo sobre os demais segmentos econômicos e sobre a geração de empregos é impressionante. Mas, a análise dos dados confirma que a maioria dos empregos gerados em Macaé é ocupada por trabalhadores de outros municípios (que não os da Região Norte Fluminense e dos Lagos) e de outras regiões do país como o Nordeste. A distribuição desses empregos em nossa região só seria possível se houvesse uma preocupação regional conjunta com a formação de pessoal para a indústria do petróleo (muito exigente no que se refere ao nível de escolaridade e ao de qualificação profissional). Mas, não tenho visto ações nesse sentido. Parece que os municípios estão sentados na estação vendo o trem passar... Blog: O comércio varejista continua o recordista no número de empregos gerados em Campos. Você não acha que esta tendência pode ser revertida paulatinamente com o crescimento do comércio nas cidades vizinhas?
Romeu: Acho que o crescimento do comércio nas cidades vizinhas já vem acontecendo há vários anos, mas pouco tem impactado o comércio varejista de Campos. Creio que o dinamismo do comércio varejista em nossa cidade é motivado mais pela grande injeção de recursos provenientes dos royalties recebidos pela Prefeitura, que permeiam diversos segmentos econômicos do município. Dentre estes, merece destaque o grande número de servidores públicos (principalmente subcontratados) e a capilaridade desses recursos para o comércio varejista. A recente preocupação dos dirigentes do comércio local com a demissão de mais de 30 mil servidores com contratos irregulares reforçam essa hipótese.

Blog: O setor de ensino praticamente estabilizou o número de empregos gerados. Será que ele atingiu o seu ápice?
Romeu: O setor de ensino já teria atingido seu ápice há alguns anos atrás, caso as prefeituras da nossa região não tivessem oferecido um amplo sistema de bolsas de estudo. O problema foi apenas postergado. A maioria da população não tem condições de custear um curso superior. Além disso, a migração de alunos de regiões vizinhas é cada vez menor, tanto em função da crescente oferta de cursos e vagas em outras regiões, como pelos recentes problemas de acesso a Campos.

Blog: Apresente três sugestões para serem implantadas na geração de empregos em Campos.
Romeu: 1. A mais importante ação para a geração de empregos na região deveria ser o apoio às micro e pequenas empresas locais. O crédito até então oferecido pelo FUNDECAM só atende às empresas de maior porte. Faz-se urgente a criação de linhas de créditos específicas para as empresas de menor porte.
2. Entretanto, esse apoio financeiro não deve ser feito de forma dissociada de um apoio tecnológico e gerencial. Por mais que uma pequena empresa receba ajuda financeira e/ou tecnológica, jamais atingirá patamares de competitividade similares aos das maiores empresas. Portanto, faz-se necessário a articulação desses pequenos negócios em consórcios produtivos suportados por uma forte governança local (associações).
3. Outra ação importante e complementar é o fomento ao surgimento de novas empresas, tendo-se como base o grande número de potenciais empreendedores, que são os alunos dos cursos superiores de Campos. A criação de uma linha de crédito (de risco) para esses empreendimentos poderia descobrir novas vocações locais de maior conteúdo tecnológico que os segmentos hoje existentes.

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