segunda-feira, setembro 24, 2012

Um dos significados da pesquisa e da extensão universitária em nossa sociedade individualista

O artigo abaixo é de autoria dos professores Márcio Andrade e Paulo César Barboza da cidade de Pelotas, RS. O texto foi publicado esta semana nos jornais Diário Popular e Diário da Manhã, da mesma cidade.

O artigo traz à tona reflexões, o que defino como questões imprescindíveis, para pensar o planejamento de nossas instituições, quaisquer que sejam suas naturezas e formas de sustento. 

O blog sugere que os docentes que leem este blog, confiram, discordem, concordem, em parte ou no todo, mas, não deixem de ler e refletir sobre o que o curto e denso artigo suscita para o seu dia-a-dia:

"A Efetiva extensão"
Por Márcio Andrade e Paulo César Barboza (professores)

"Uma pesquisa feita pela FIUC - Federação Internacional de Universidades Católicas - com alunos de universidades em geral mostrou, dia desses, que os estudantes acadêmicos priorizam os interesses pessoais aos coletivos. Tal análise induz à reflexão sobre o entendimento de muitos docentes e discentes acerca do papel das instituições de ensino superior brasileiras, especialmente das universidades públicas. Não é incomum, desde o ingresso nas faculdades, notar-se o incentivo à busca sistemática por títulos. Estes, no imaginário de boa parte dos calouros, muitas vezes possuem maior significado que o próprio conhecimento, e fundamentam a hierarquização da vida acadêmica, constituindo a matriz para veneração e obediência ao longo da caminhada universitária.

Conforme o aluno vai avançando nos estudos, menos ele deixa de ser ‘educando’, e mais vai se tornando um ‘pesquisador’, dentro de um processo produtivista, no qual o formalismo certificador tende a suplantar o conteúdo e secundarizar a relevância social da produção acadêmica. Menos o estudante deixa de ser preparado para transformar a sociedade, e mais é moldado para se adaptar a ela. Exasperação da competitividade e da individualidade, numa maratona de “produção” que, em muitos casos, provocaria inveja em Taylor.

Iniciados como pesquisadores, vários estudantes produzem artigos em série, qualificam o seu currículo Lattes e buscam pontuações acadêmicas. Inúmeros pensam o aprendizado para os próprios objetivos, enquanto a comunidade não-douta sofre com a carência de fraternidade, altruísmo e justiça social. Não seria o momento de redirecionarmos aqueles velhos autores, impostos, verticalizados, ensimesmados para algo maior? Quem sabe, começarmos o debate sobre isonomia, valorização do coletivo ou educação cidadã, efetivando a extensão universitária e derrubando os muros que aprisionam a universidade num universo de projetos individuais, algumas vezes surdos às demandas da comunidade.

Assim, criar-se-ão novos laços de cumplicidade com o povo, carente de ideias e ações para viver melhor. E, cada vez mais, reduziremos a peculiar e rotineira “privatização” do interesse público, estimulando o protagonismo social a que se destina a Universidade."

Um comentário:

Anônimo disse...

Roberto
Vivi este dilema entre 'produzir' artigos e publicá-lo (na verdade procurar estratégias para que possam ser publicados) ou me dedicar a aplicar os conhecimentos adquiridos ao logno de minha vida acadêmica em prol da melhoria da vida das pessoas. Optei por fazer a segunda opção, cultivando valores como soidariedade, co-participação, fortalecimento do empoderamento. Isto custa tempo e pouco reconhecimetno, além de não sobrar tempo para me dedicar à vida acadêmcia e produzir artigos. Mas, os alunos não valorizam isto: são fruto de uma sociedade individualista, instrumentalista ao grau máximo. Faço por acreditar na ética da resistência e numa possível mudança de paradigma, mesmo que eu não venha a conhecer.
Vera Marques