sexta-feira, março 11, 2016

Parlamentarismo de araque e de ocasião também é golpe

Vou publicar abaixo no blog dois textos que publiquei ontem em meu perfil no facebook sobre a conjuntura nacional. O debate por lá é mais interativo e as pessoas que comentam possuem perfil e identificação, ao contrário de alguns que pretendem aqui discutir se referindo ao blogueiro e a outros comentaristas, sem querer fazer o mesmo.

O blog tem posição e sempre afirmou que a neutralidade é um mito e todos que a defendem, por antecipação, já merecem desconfiança. Vivemos um ambiente tenso e de golpismo. Sobre ele se deve conversar, e mais do que isto, resistir. Vamos aos dois textos:

"A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa"

A frase nunca foi tão verdadeira quanto no quadro atual da política no Brasil. Assim como em 1962, o parlamentarismo voltou ao debate como proposta dos golpistas. Querem chegar ao poder sem voto.

O jornal Valor, na edição de hoje, traz detalhes das tramas para aprovar no Congresso Nacional o "parlamentarismo". As tramas envolvem Serra, Temer e tentam fechar com Renan Calheiros que já teria resolvido instalar comissão especial para tratar da adoção do parlamentarismo.

Vejam, os detalhes da trama: o relator da proposta deve ser o Serra do PSDB. Discutiram inclusive as fórmulas, se um parlamentarismo mitigado, ou semipresidencialismo, que dizem ter a "simpatia" do vice-presidente da República Michel Temer.

No modelo que fecham nos gabinetes do golpe a ideia é retirar e dividir com o Congresso, os poderes que hoje é da Presidência da República, através do primeiro-ministro.

Eles dizem que esta "saída de emergência" evitaria o trauma de tirar a presidenta Dilma do cargo, seja, pelo processo de impeachment, ou do julgamento do TSE. Falam que a "solução seria mais rápida e cirúrgica" e poderia ser adotada por uma proposta de emenda constitucional (PEC). Dizem ainda que "o sempipresidencialismo teria como vantagem não expulsar o PT do governo".

O fato foi discutido pelo senador Renan Calheiros no jantar ontem com tucanos, onde a trama, além de discutir o novo uniforme, também já começou a ajustá-lo, para ser vestido pelo Serra, que assim, depois de perder duas eleições presidenciais chegaria ao poder, com o cargo de primeiro ministro.

Assim, além de farsa, se vê uma tragédia. Não é aceitável que um povo faça questão de apagar e negar o passado, para repetir a trama, repetidamente gestada pelos mesmos, ainda que com outras figuras, igualmente golpistas.

Haverá resistências.
Pela legalidade.
Mais democracia e menos golpismo!

PS.: Complemento ao texto anterior feito no espaço do facebook:

Vale ainda observar que em 1964 havia entre os golpistas, alguns nacionalistas que se deixaram levar entregando nossa soberania. Hoje, os participantes do consórcio golpista midiático-jurista querem entregar e mudar a orientação do estado. Como disse o Roberto Amaral querem "alterar a natureza do Estado, separando-o dos interesses nacionais e populares".

O Brasil é esteio da América do Sul. Os golpistas se dispõem a abrir mão de um projeto soberano de desenvolvimento autônomo. Como diz o professor Theotonio dos Santos, eles já negociaram nossa dependência, em troca da ajuda para colocá-los no poder sem voto. Não apenas entregaram a dependência, mas garantiram o alinhamento automático aos interesses dos EUA, afastando da liderança e do esforço de integração regional com o Mercosul. 

Os EUA não aceitam isso. Assim, também acordaram em trocar os Brics pela Alca. Assumiram a dependência por completo, num momento em que o cenário, mesmo em meio a problemas, nos trazia oportunidades para caminhar em direção a um mundo sem hegemonia e mais multipolar. 

Não é por acaso que comecem tentando tirar o pré-sal, mesmo sem ser governo, Querem dar ainda mais liberdade ao ajuste fiscal que ampliará o fosso entre ricos e pobres. Direitos serão tirados, programas sociais podados, para encher ainda mais a banca que vive de juros. Como se vê tragédia e farsa se aninham como consequência do golpe. É não apenas necessário resistir. É dever, este de lutar por mais democracia e menos golpismo.

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"Parlamentarismo de araque e de ocasião também é golpe"

Comentei ontem aqui, sobre o novo golpe que se tenta dar no Brasil, com o parlamentarismo de araque e de ocasião, ou com impeachment. O golpe é muito grave e paralisará, ou freará, o país por anos, talvez décadas.

Mesmo que queiram torrar as reservas de mais de 300 bilhões e ainda pegar novos empréstimos à banca lá fora - que está ávida por cobrar bons juros ao Brasil, numa época em que trabalha com juros negativos na Europa - o quadro de desconfiança será cada vez maior e os pequenos mimos não calarão as vozes da resistência.

A polarização não cessará. Ao inverso. Num mundo em que o golpe não se dá mais pela via militar e da força e sim, dos esquemas midiático-jurídicos, não vão conseguir calar quem resiste, como fizeram os torturadores que espancaram, prenderão e mataram nas décadas de 60/70.

Quem golpeia será diariamente bombardeado pelos golpeados. Efeito bumerangue que só se acalma com diálogo e sem ameaça de golpe e com repeito à Legalidade, como defendeu ontem a CNBB, em posição bem distinta da "Marcha da Família" na década de 60, a igreja Católica.

Perderá quem sempre perdeu e ganhará os que sempre ganham com estes golpes. É isto que se tenta todo o dia com o discursos dos gastos públicos, de redução dos impostos, que esconde a sonegação da elite econômica. Sonegação, subsídio e renúncias fiscais que poderiam viabilizar recursos para o país seguir seu caminho em direção ao desejado bem-estar-social.

A discussão do "parlamentarismo já" cresce entre os nossos congressistas animados pela ânsia do poder sem voto.

A elite econômica não pensa a Nação. A mídia comercial faz negócios e vende pautas, neste momento que vive pressionada pelas mudanças informacionais. Precisa de dinheiro, para o qual faz "qualquer negócio" oferecendo em troca o "verbo".

A instituição do Ministério Público criada no bojo de apoiar e estar junto da sociedade, parece, encantada com os seus poderes e pensa que pode salvar o mundo e a política, feita por iguais que estão nas ruas e na política. A Justiça e os juízes em suas abstrações e arbitragens, querem mais poder e enxerga espaços a serem ocupados nos hiatos deixados pelo poder político.

Em meio a um quadro como este, sem deixar de lado a parte mais importante, que tanto descrevo aqui, da geopolítica, do petróleo e pré-sal e dos interesses em nossas novas e surpreendentes reservas, nem "papai do céu" teria unanimidade, quanto mais a mediação política. Esta é feita pelos partidos que tentam na sua parte representar o todo.

A mediação política vive dos conflitos, que como nos ensinava Durkeim, é de onde se pode avançar, mas também se pode retroceder. Na democracia, mesmo que ocidental e capitalista, qualquer solução "Fora da Legalidade" e dos instrumentos jurídicos em vigor, é, e será sempre, um atraso.

Comungar com este viés é apostar no atraso. Eu permaneço apostando no avanço, em meio aos conflitos. Espero e torço que seja sem violência, mas não estou certo que assim será.

Pela legalidade.
Menos golpismo.
Mais democracia!

Um comentário:

Anônimo disse...

Eis o tour de force. Os fuzis e tanques trocados pelos MP ,judiciário , mídia e outros sicarios.
Para o bem ou para o mal a rede cumpre papel decisivo. Não é mais possível monopolizar a informação como antes. Isso é crucial em dimensões continentais como a nossa.
É mais um bode na sala. Ação diversionista para imobilizar o governo.
A lavalento e seletivo já deu o que tinha para dar.
O PT (mais que o governo) deve entender que agora o eixo principal da disputa é a rua.
Ass. Douglas da Mata