quarta-feira, maio 31, 2017

“Os portos conseguiram coisas demais”: o que o processo histórico nos permite interpretar sobre a involução da burguesia nacional?

Ao ler na mídia comercial sobre áudio gravado com assessor de Temer, Gustavo vale com o deputado Rodrigo Rocha que seria relacionado ao decreto assinado no dia 10 de maio, em que Temer concedeu prazo de concessão de até 70 anos para os terminais portuários no país, logo após este diálogo, não há como não analisar o processo histórico deste setor.

Setor que aliás, sempre foi da área de grande interesse de Temer, Cunha e sua turma no PMDB.

A visita de campo feita na semana passada ao complexo portuário de Santos/Cubatão ajuda a relembrar fatos e a comparar como a elite econômica foi mudando para pior a sua forma de atuação.

O Porto de Santos com os velhos trapiches e pontes fincados em terrenos lodosos, desde as primeiras intervenções do feitor Braz Cubas, na época das capitanias hereditárias com Martim Afonso de Souza em 1534 tiveram perspectivas de modernização em 1888, com os Guinle (Eduardo) que ganharam uma licitação para modernizar o porto de Santos.

Na verdade, na ocasião, ainda antes da Proclamação da República e logo após o fim oficial da escravidão, se tratava da implantação do porto saindo de um ponto de apoio com trapiches para a construção do primeiro terminal que exportaria café e mais adiante, passaria também a movimentar cargas importadas.

Imagem do Porto do Santos entre 1900 e 1910
Assim, a Companhia Docas de Santos (CDS) colocou o Brasil de forma mais intensa (para além do Porto do Rio) mais integrado à navegação mundial ao entregar os primeiros 260 metros de cais, na área, até hoje denominada, do Valongo.

De lá para cá, o fluxo de cargas que não parou de crescer. O número de terminais portuários naquele complexo já é maior que meia centena e junto se ampliaram o uso com as retroáreas portuárias que também gerou o crescimento e a urbanização na cidade, hoje transformada na região Metropolitana da baixada Santista.

Pois bem, para empreender e implantar todas as bases materiais, os Guinle mantiveram a concessão dos primeiros terminais do Porto do Santos até o início da década de 80.

Pois bem, agora mais de um século depois, diante da ultra capacidade do mercado e de seu discurso de modernização e agilidade, o governo Temer (PMDB) concede até 70 anos – sim 70 anos - para as concessionárias permanecerem nos terminais portuários já construídos, apenas com pequenas adequações e enormes lucros intergeracionais.

A interpretação é curta e lamentável.

A burguesia (que não pode e nem deve ser chamada de elite) de hoje parece muito pior que antes.

As relações, articulações e cooptação que o poder econômico fazem sobre o poder político, parecem muito maiores e mais promíscuas que antes.

E o pior de tudo é a impressão que o projeto de Nação e os interesses nacionais se esvaíram a favor dos interesses econômicos, sem levar em conta o trabalho que produz as riquezas.

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