Abaixo o blog publica mais um artigo do professor e pesquisador Arthur Soffiati. Ele identificou e descreveu, pontualmente, duas boas oportunidades de evitar o desperdício e aproveitar a água em Campos. Confiram:
Desperdício de água
Arthur Soffiati
Poderia estar acontecendo em qualquer lugar do mundo em que a água ainda é um bem abundante e deve estar acontecendo em várias partes do mundo. Mas acontece também em Campos dos Goytacazes, que vive a mais ingente crise hídrica desde que os registros de chuvas e estiagens começaram a ser feitos com regularidade, em 1930. Campos está inserida na Região Sudeste, onde esta crise se abate com inclemência, malgrado as chuvas pontuais dos meses de janeiro e fevereiro. Embora a crise não seja tão aguda aqui a ponto de exigir o rodízio ou o racionamento de água para abastecimento público, não há como negar que a falta de chuvas afeta a agropecuária.
Um desperdício de água acontece há quase um mês nas obras de rebaixamento do solo para a construção de alicerces que sustentem um edifício do Condomínio Maxime Residence, sob responsabilidade da empresa RMZ Engenharia Ldta., na Rua Doutor Pereira Nunes. Passei por lá hoje (06/03/2015) e o bombeamento de água subterrânea continua, a fim de esgotar água de subsolo para o início das obras. Em feverereiro também estive lá a convite do Site Ururau, que publicou matérias sobre o tema (http://www.ururau.com.br/cidades53782 e http://www.ururau.com.br/cidades53888). São vinte mil litros por hora. A água desperdiçada continua correndo pela sarjeta até encontrar bueiros da galeria de águas pluviais e, por ela, chegar ao Canal Campos-Macaé. Por ele, segue até o Canal de Tocos, onde penetra e alcança a Lagoa do Jacaré, apêndice da Lagoa Feia.
O engenheiro responsável pela obra disse que nada pode fazer para utilizar a água desperdiçada por causa da burocracia da Prefeitura de Campos e do Instituto Estadual do Ambiente (INEA). Procurada, a Secretaria de Obras informou que já notificou a empresa, mas a água continua a fluir livremente na rua. O INEA informou que o caso é de responsabilidade da Prefeitura, acrescentando que este grande volume de água não é perdido, pois cai no Canal Campos Macaé e vai para a Lagoa Feia. Ao passar pela Chatuba, ela é despoluída pela Estação de Tratamento de Esgoto da empresa de saneamento concessionária Águas do Paraíba.
O que de fato acontece com esta água. De longa data, sabe-se que há uma ligação subterrânea entre o Rio Paraíba do Sul e a Lagoa Feia. É o rio o principal responsável por alimentar o lençol freático da margem direita. Se seu nível sobe, o nível do lenço freático sobe também. Se ele desce, o lençol freático o acompanha. O nível do Paraíba do Sul é o mais baixo desde 1930, nesta época do ano. Esta retirada das entranhas da terra fica exposta ao sol e ao calor e evapora. Não há garantia de que o vapor d'água se precipite em forma de chuva na região em que ela foi gerada, pois os ventos empurram as nuvens para longe. Parece, aliás, que esses ventos, estão impedindo a penetração, na região, da zona de convergência de umidade que se forma na Amazônia.
Caindo no imundo Canal Campos-Macaé, ela carreia esgoto e lixo para a Lagoa Feia, pois a Estação de Tratamento de Esgoto da Chatuba não trata as águas do canal, mas as águas de esgoto lançadas no canal. Em resumo, continuamos assistindo a um descalabro sem que as autoridades estaduais e municipais tomem qualquer providência. O mais prudente seria deixar essas água embaixo da terra. Elas seriam melhor conservadas. Não sendo possível, ela deveria ter destino melhor, como água a ser usada para irrigação. Assim, parte dela voltaria ao subsolo.
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Fundo da antiga Lagoa do Furtado, depois do Osório, hoje cabeceira da ponte Leonel Brizola, no lado de Campos. Foto do autor. |
Enquanto isso, as chuvas caídas em 3 de março inundaram vários pontos da cidade, principalmente na descida da ponte Leonel Brizola, no lado de Campos, que passou por obras caríssimas pagas com dinheiro da Prefeitura, portando nosso, e de nada adiantaram. Nunca se pensou que aquele ponto de descida da ponte já foi a drenada Lagoa do Furtado, depois Osório e hoje com o fundo impermeabilizado com asfalto. Essas águas também não deveriam deveriam fluir para o canal. Já está na hora, se é que ela não passou, de o Poder Público Municipal construir reservatórios de água de chuva para sua utilização em limpeza urbana e atendimento à agropecuária. Não estamos mais no século XVI, onde a abundância permitia desperdício. Campos e outras cidades devem proceder como em Kuala Lumpur, capital da Malásia e uma das maiores cidades da Ásia.
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