quinta-feira, agosto 23, 2018

Duas opiniões dos bastidores do poder e da economia liberal sobre eleição presidencial no Brasil

Lendo o que circula em termos de informações para entender os bastidores da disputa eleitoral para a Presidência da República, para além das pesquisas de intenções de voto, eu encontrei duas informações que a meu juízo valem registro. Ambas aparecem publicadas no Valor, o jornal da mídia corporativa e do mundo das finanças no Brasil:

1) Na coluna da página P. A2 na edição de 22 ago., o repórter especial Daniel Ritter diz que a cúpula do governo Temer já desanimou das chances de Alckmin. Ritter informa que os auxiliares mais próximos de Temer reclamam das dificuldades do ex-governador paulista em transformar apoio político em votos e que isto reduziu a crença de que ele possa chegar ao 2º turno. Os mesmos interlocutores do desgastado Temer afirmaram ao jornalista que não creem na viabilidade da sugestão de FHC de união contra Bolsonaro para repetir o cenário francês de Macron contra a direitista Le Pen. Para eles, TSE no início de setembro retirará Lula da disputa e oPT fará a substituição por Haddad que teria assim facilidade em chegar ao 2º turno. Observem que a coluna foi escrita ontem, antes da divulgação hoje da pesquisa do Datafolha. Neste horizonte visto pela cúpula do Planalto e descrito pelo jornalista, a decisão seria entre o PT e Bolsonaro e assim preveem uma transição de governo difícil, “onde pode haver fricções na passagem de bastão que geram preocupações com o diálogo entre as equipes atuais e as indicadas pelo presidente eleito em outubro”. (Veja aqui o artigo do Rittner na íntegra)

2) O segundo registro é de um artigo publicado na 2ª feira (20 ago. 2018, P.A11) do tucano Luiz Carlos Mendonça de Barros, que foi presidente do BNDES de onde coordenou as privatizações do governo FHC, de quem depois foi também ministro das Comunicações. Mendonça de Barros disse: “o cenário eleitoral visto de hoje, é muito incerto e a previsão de quem vencerá é impossível de ser feita seguindo critérios racionais”. Por isso, ele afirmou que iria refletir sobre o que deveria fazer “seja quem for o vencedor a comandar o Palácio do Planalto”. Diz que a partir de sua experiência com a classe política e as reações da maioria dos brasileiros “governar o Brasil com sucesso, depende de uma combinação equilibrada entre racionalidade e sensibilidade social. Em outras palavras, as aspirações de curto prazo da sociedade têm que ser atendidas para que o governante consiga realizar uma agenda de longo prazo”. Evidente que ele fala das mesmas reformas de Temer e Alckmin, mas diz que só podem ser feitas adiante e não como os colunistas econômicos da mídia comercial repetem todo o santo dia. Assim, ele sugere crescimento econômico com racionalidade técnica, considerando que estamos em um ponto do ciclo econômico em que a recuperação cíclica forte pode ser buscada rapidamente por meio da gestão de curto prazo correta de algumas variáveis econômicas, deixando as reformas estruturais sonhadas pelo mercado para ser implementada mais adiante no mandato”. Mendonça diz “para andar devagar com o andor pois o santo é de barro e que a difícil negociação com a sociedade para as reformas precisa de uma difícil negociação com a sociedade e o Congresso”. Mendonça de Barros afirma que “é preciso trazer a população – principalmente os mais pobres e a classe média – par ao lado do governo, apoiando o presidente da República e aumentando seu poder de negociação no Congresso”. Diz ainda que “é preciso unir novamente uma parte relevante da sociedade e que para isso é necessário a voltado crescimento econômico”. Exatamente o que falam os candidatos da centro-esquerda e esquerda e contrário ao que faz Temer e propõe continuar Alckmin e Bolsonaro. Afirma que a agenda de governo deverá ser para reduzir o desemprego e a falta de confiança dos brasileiros no país que seria a seu ver uma combinação explosiva. Neste ponto, Mendonça de barros critica literalmente a “liderança dos economistas de direita, entre eles os de origem na PUC do Rio e Insper em São Paulo que defendem que a marca dos primeiros cem dias de governo deva ser o lançamento de um abrangente programa de reformas estruturais e privatizações. Questiona ainda que esses “a volta do crescimento econômico seria uma decorrência natural do compromisso do governo com a racionalidade econômica e com o ajuste fiscal”. Mesmo que Mendonça de Barros também critique os riscos das propostas da esquerda que chama da Unicamp, com o que chama de “um certo keynesianismo de pé quebrado”, ele diz que o próximo mandato presidencial será difícil e com muitas pedras no caminho, mas defende que o vencedor deve aceitar e entender as razões da revolta da grande parte da sociedade”. O artigo na íntegra pode ser lido aqui no Valor.

O leitor que chegou até aqui, neste já “textão”, pode intuir o que está se passando nas hostes daqueles que apoiaram o golpe e o mandato de Temer. 

Estas análises, de certa forma, refletem de forma complementar e mais estruturada, as pesquisas eleitorais divulgadas nestes últimos dias no Brasil. 

Estas análises são de quem está do lado da centro-direita e de dentro do governo Temer e seus aliados e não de quem faz oposição. 

Por elas se pode identificar que, de certa forma, elas confirmam aquilo que os números da pesquisa de intenções de voto estão indicando sobre as posições dos candidatos ao cargo de presidente da República, assim como as expectativas e as aspirações da população. 

Para melhor ler a conjuntura é preciso tentar ouvir os diversos lados deste processo. Sigamos em frente!

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