sábado, janeiro 25, 2014

Chopis Centis

Abaixo o texto do Mino Carta que é o editorial da Carta Capital desta semana onde lembra o Manonas Assassinas com Chopis Centis:

"O evento Chopis Centis"
Os Mamonas Assassinas já falavam de rolezinhos, mas não previam os atos de arbítrio dos dias de hoje
por Mino Carta — publicado 24/01/2014 05:56

Os Mamonas Assassinas foram proféticos. Uma de suas criações de quase 20 anos atrás intitula-se Chopis Centis, ou seja, Shopping Center, na linguagem de alguém cujo ingresso no JK Iguatemi hoje seria vetado, não fosse o cidadão multado em 10 mil reais. Cidadão chegado de algum fundão do Brasil, seduzido pelo apelo da cidade de ouro com o beneplácito das autoridades. Como bem sabemos, jamais houve políticas para segurar retirantes nas terras de origem. Cantavam os Mamonas:

Eu dí um beijo nela
E chamei para passear
A gente fomos no Chopis
Pra mó da gente lanchar.
Comi uns bichos estranhos
Com um tal de gergelim,
Até que tava gostoso,
Mas eu prefiro aipim.
Esse tal de Chopis Centis
É muitcho legalzinho,
Pra levar as namoradas
E dar uns rolezinhos.

Os Mamonas, está claro, não imaginavam os dias de hoje e os rolezinhos barrados. Pergunto aos meus perplexos botões: o fenômeno do fechamento dos Chopis Centis expostos à chegada da malta era imaginável 20 anos atrás? Sejamos claros: no Brasil seria, e no Brasil estávamos e agora estamos. Os privilegiados, e os aspirantes que acham ter chegado lá, continuam os mesmos.

A situação, conquanto recente, remonta de fato a um tempo anterior às revoluções que mudaram o mundo, a Francesa, a Americana, a Industrial da Inglaterra. Somos é medievais. A divisão na nossa peculiar sociedade de classes é elementar. De um lado, os ricos devastadoramente ricos e os seus reservas perseguidores de tamanha riqueza, a chamada classe média. Do outro, a plebe rude e ignara, a revelar sua extração pela cor da pele e pelos andrajos que veste.

Aquelas revoluções foram burguesas e, ao derrotarem a aristocracia, levaram o burguês ao poder. Quero respeitar os economistas, mas seus argumentos, quando pretendem demonstrar que no Brasil a classe média cresce, não me convencem. Em primeiro lugar, porque basta muito pouco, segundo esses critérios, para ser classe média em um país como o nosso, de mais a mais com custo de vida bastante elevado. Deste ponto de vista, somos de Primeiro Mundo. Em segundo lugar, porque melhorias materiais não correspondem automaticamente à conquista da consciência da cidadania, própria de uma autêntica classe média.

Observe-se, de todo modo, que, no Brasil, quem haveria de ser burguês não passa, com espantosa frequência, de predador ignorante, incapaz de pôr em prática uma criação burguesa, a democracia. A qual haveria de se basear na liberdade e na igualdade.

Houve leitores, na semana passada, que não justificassem o adjetivo “patético” por mim usado para qualificar o evento rolezinhos. Explico. Eu gostaria que a tigrada saída da periferia fosse ao Chopis Centis com intenções outras que se encantar com as vitrines, comer “bichos estranhos” salpicados de gergelim em lugar de aipim, e sonhar com grifes inalcançáveis. Assim como desejaria que a igualdade não fosse quimera em um mundo cada vez mais desigual, digo, o nosso planeta, de um polo a outro. É o que conta, aliás, a reportagem de abertura da seção de Economia desta edição.

O Brasil, no entanto, bate recordes, infelizmente, em matéria de desigualdade, e resistência implacável à compreensão do problema. Deste ponto de vista, os rolezinhos e suas consequências são altamente representativos da velhacaria e do despreparo cultural de quem está por cima. Com um insustentável ato de arbítrio, São Paulo fecha os seus Chopis nos fins de semana para sustar qualquer propósito de liberdade e igualdade, com a pronta intervenção da própria polícia e dos seguranças particulares, ridiculamente engravatados, enquanto os patrões andam de bermudas e havaianas.

O prefeito Fernando Haddad disse dia 13 passado, a propósito dos rolezinhos, que “a cidade tem de ser discutida”. E falou da necessidade de “se abrirem espaços públicos para que as pessoas possam usufruir da cidade”. Palavras oportunas. No dia 22 voltou ao assunto. Segundo ele, há “um certo exagero” na reação dos shoppings aos rolezinhos. “Nada que uma boa conversa não resolva...” Palavras brandas, cautelosas, e muita ilusão.

7 comentários:

Anônimo disse...

Mino Carta deseja um Brasil que não existe. Eu também, mas não tenho ilusões. O sonho do novel proletariado é pequeno burguês, para desespero da esquerda que levou "esta Argentina" de brasileiros a esta condição.
Nas últimas eleições para presidente, vi neste blog um mapa com a vitória do PT na capital paulista. Ficou claro ali que o eleitor do Partido dos Trabalhadores vinha pela periferia e da periferia, para onde são empurrados os pobres. Só que, a medida que esta classe ascende social e economicamente, suas posições afloram e elas são sectárias, preconceituosas, algo fascista, e, para confirmar o Mangabeira Unger, pequeno burguês. E põe pequeno nisso, Mino Carta.
O rolezinho talvez seja um grito. Mas, ao contrário do que deseja parte da esquerda presa na caixinha ideológica, este grito é Prada!

Anônimo disse...

Não existe direito de ir e vir para a população negra e pobre, que não podem entrar em lugares que são tidos como propriedade da elite.

A juventude negra pobre e moradora de periferia sempre soube: andar em shoppings e outros lugares feitos para a classe média e alta sempre apresenta um risco, o de ser abordado por seguranças particulares e ser levado para salinhas de interrogatórios e posteriormente ser retirado do estabelecimento pela força.

Não só shoppings, mas aeroportos, lojas de conveniência e outros estabelecimentos possuem o mesmo procedimento estabelecido, as mesmas salinhas e os mesmos seguranças privados que reprimem os filhos da classe trabalhadora.

Qualquer um pode contar uma história semelhante, em que foi a determinado lugar e terminou a noite numa sala ou mesmo na delegacia, suspeito de qualquer crime. É uma rotina, não uma exceção esse procedimento.

Anônimo disse...

Dados oficiais mostram que os recursos públicos à saúde visam garantir os lucros dos grandes capitalistas

Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) apontou que 75% dos brasileiros não têm plano de saúde e que os 25% que estão conveniados também usam o SUS porque não tem condições de pagar por um plano privado.

O destino de cerca de 8% do PIB para a saúde pública, segundo a Comissão da Seguridade Social da Câmara dos Deputados, confirma que o investimento em saúde no Brasil está abaixo da média mundial.

55% dos gastos em saúde beneficiam os 25% conveniados a planos de saúde; 45% dos gastos cobrem os 75% da população que não tem plano de saúde. Outros 45% dos gastos públicos são utilizados para o reembolso da rede privada contratada, segundo a Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde. 74,5% do total das internações realizadas no setor privado, na década de 2000, foram custeadas pelo SUS . 57% do orçamento público de saúde foi destinados à rede de saúde privada dita "filantrópica" e apenas 43% à rede pública durante período de 2008 a 2012.

De acordo com a proposta original, 25 % dos royalties do Pré Sal devriam ser destinados à saúde pública. Na realidade, de acordo com o relatório Auditoria Cidadã da Dívida, em 2022, o percentual corresponderá a esquálidos 0,4% do PIB.

Anônimo disse...

Um problema de cor e classe

Nas últimas semanas, os “rolezinhos” têm ganhado destaque na imprensa capitalista, em especial depois da repressão sofrida pelos jovens que tentaram promover o evento no Shopping Metrô Itaquera, em São Paulo, e às liminares conseguidas por diversos shoppings para impedir a entrada dos jovens, por meio de uma discriminação descarada.

Que o problema é de cor e classe, nem mesmo essa imprensa conseguiu esconder. Começaram a vir à tona diversos eventos semelhantes, mas de outras ideologias, classes e cores, e que nunca haviam sido reprimidos.

O que mais chama a atenção é o evento promovido pelo centro acadêmico da FEA, Faculdade de Economia e Administração da USP.


Anualmente, desde 2007, os calouros são levados ao Shopping Eldorado, próximo à Cidade Universitária.

Lá, entoam gritos de guerra, alguns sobem nas mesas. A intervenção dos seguranças se limita a pedir educadamente que os estudantes para descer das mesas.


De lojistas a consumidores, ninguém se incomoda. Um ex-integrante do Centro Acadêmico, que discorda da repressão aos “rolezinhos”, comparou: "A gente grita ofensas em alto e bom som, e ninguém fala nada".


Como esse, diversos outros eventos do tipo acontecem em shoppings e nunca foram motivo para repressão. E, do mesmo modo, outras pessoas já foram vítimas de racismo nos shoppings, como o músico cubano, Pedro Bandera, que tinha apresentação marcada no local. Negro, o músico chegou a ser imobilizado e levado a um táxi que o retiraria do shopping.


Mesmo com todas as diferenças que possam ser apontadas, a realidade é que a repressão aos rolezinhos se dá em razão da cor e da classe dos participantes: uma segregação implícita, da qual todos devem ter consciência para se manter em “seu devido lugar”.

Segundo essa norma não escrita, os trabalhadores e seus filhos não podem frequentar os mesmos ambientes que empresários, advogados e outros funcionários e profissionais liberais bem remunerados.

Os que transgridem essa norma são imediatamente vistos como bandidos, elementos suspeitos, pois não haveria outra razão para sua presença naquele local.

Esses casos revelam o caráter profundamente racista da burguesia brasileira e a segregação que existe de fato no Brasil.


A mesma segregação que leva a que a polícia torture e mate à vontade nas periferias e que sejam também os negros os que lotam as prisões brasileiras.

Anônimo disse...

Sonegação e subsídios públicos

A emissora deve mais de R$600 milhões por causa da compra de dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002

A Rede Globo foi acusada de ter sonegado R$ 615 milhões na compra de direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002 a Globo é ré em um processo que tramita no Ministério Público Federal (MPF).

No caso do “mensalão”, os dirigentes petistas são acusados de desviarem R$ 141 milhões. Ou seja, a Globo deve um valor que é mais de quatro vezes superior “ao maior escândalo da história da República”.

A denúncia contra o maior monopólio partiu do Barão de Itararé, grupo de comunicação alternativo que reuni diversos blogueiros e ativistas que defendem a democratização dos meios de comunicação. Segundo o blog Cafezinho, a denúncia foi aceita pela Corregedoria e enviada à Delegacia Fazendária. Mas em julho do ano passado, o processo que estava na Receita Federal "misteriosamente" sumiu.

A Rede Globo nega envolvimento, enquanto a suposta responsável pelo crime, a servidora Cristina Maris Meinick Ribeiro, foi condenada a 4 anos e 11 meses de prisão.
Além do fato não ter sido noticiado, a Rede Globo foi acusada de intimidar parlamentares e partidos políticos para que estes não instaurassem uma CPI que investigaria o caso.

A principal porta-voz da campanha “anticorrupção” e pela “moralidade pública” já foi notificada nada menos do que 776 vezes (!) pela Receita Federal por causa da sonegação de impostos.

As campanhas contra a corrupção nada mais são do que um modo da direita, que domina os principais meios de comunicação, atacar os inimigos políticos.

Segundo a propaganda demagógica da Rede Globo, a corrupção (e não o capitalismo) seria a maior responsável por desvios de verbas para saúde, educação, transporte etc.

Além dos recursos sonegados, a Rede Globo recebe milionários empréstimos ultra-subsidados pelo BNDES e conta com verbas publicitárias do Estado.

Somente em 2012, ela recebeu mais de R$ 500 milhões de verbas publicitárias dos governos. Parte considerável deste montante é dinheiro do governo federal, ou seja, mostra que o poder da Globo se mantêm graças à capitulação do PT .

A concesão da Rede Globo deveria ser cassada, assim como todas as demais concessões públicas que são tratadas como capitanias hereditárias pelos capitalistas. Os tempos deveriam se divididos entre organizações sociais e sindicais e outras organizações populares.

Anônimo disse...

Metáfora:

o conflito na Ucrânia não vai acabar

Pombo solto por papa é atacado por gaivota

Um dos pombos soltos neste domingo, 26, pelo papa Francisco e por duas crianças acabou atacado instantes depois por uma gaivota. O incidente ocorreu durante a tradicional oração do Ângelus, na Praça São Pedro, no Vaticano.

Anônimo disse...

PF ABRE INQUÉRITO
CONTRA SONEGAÇÃO DA GLOBO

“A TV Globo usou uma empresa laranja para adquirir, sem pagar impostos, os direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002″

Agora já temos um número e um delegado responsável. É o inquérito 926 / 2013, e será conduzido pelo delegado federal Rubens Lyra.

O chefe da Delegacia Fazendária da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Fabio Ricardo Ciavolih Mota, confirmou à comitiva do Barão de Itararé-RJ que o visitou hoje: o inquérito policial contra os crimes fiscais e financeiros da TV Globo, ocorridos em 2002, foi efetivamente instaurado.

Os crimes financeiros da TV Globo nas Ilhas Virges Britânicas foram identificados inicialmente por uma agência de cooperação internacional. A TV Globo usou uma empresa laranja para adquirir, sem pagar impostos, os direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002.

A agência enviou sua descoberta ao Ministério Público do Brasil, que por sua vez encaminhou o caso à Receita Federal. Os auditores fiscais fizeram uma apuração rigorosa e detectaram graves crimes contra o fisco, aplicando cobrança de multas e juros que, somados à dívida fiscal, totalizavam R$ 615 milhões em 2006. Hoje esse valor já ultrapassa R$ 1 bilhão.

Em seguida, houve um agravante. Os documentos do processo foram roubados. Achou-se uma culpada, uma servidora da Receita, que foi presa, mas, defendida por um dos escritórios de advocacia mais caros do país, foi solta, após conseguir um habeas corpus de Gilmar Mendes