quinta-feira, outubro 20, 2016

O que a Shell está vendendo pelo mundo para estar no Pré-sal brasileiro

Mesmo que o assunto sobre a compra que a Shell fez da petroleira britânica BG, por conta das reservas petrolíferas (ativos) que esta possuía no Brasil, já seja um tema conhecido, vale voltar ao assunto trazendo novos indicadores.

Assim se liga a melhor as pontas das informações soltas construindo interpretações mais consolidadas e próximas dos fatos reais.

A Shell pagou pela BG uma quantia entre US$ 50 bilhões e US$ 60 bilhões. Por conta disso, a petroleira anglo-holandesa acumulou uma dívida líquida superior a US$ 75 bilhões. (Veja aqui nota do blog em 26/08/16 sobre a dívida de 4 petroleiras que atingem R$ 600 bilhões)

Nesta fase de colapso de preços do barril de petróleo, os custos destas dívidas pressionam a Shell que assim, decidiu vender inúmeros ativos pelo mundo, até atingir a quantia de US$ 30 bilhões.

Porém, a Shell já percebeu que a venda neste momento representa perdas enormes e está adiando o quanto pode. Desta forma, a petroleira só "desinvestiu" US$ 1,5 bilhão até agora.

O movimento parece ser diverso do que a Petrobras segue fazendo no feirão das partes da empresa, vendendo mesmo com os preços baixos de hoje. Entregando até "joias da coroa", como o campo de Carcará no Pré-sal.

Veja que a Shell faz um movimento ao contrário da Petrobras. Comprou aqui para vender no resto do mundo e assim mesmo está segurando, por conta dos preços baixos que estaria apurando no mercado. Tudo isto em troca de estar aqui no Pré-sal brasileiro.

Se desejar ter mais detalhes e relembrar o caso leia aqui nota do blog no dia 16 de fevereiro de 2016, sobre os significados da fala do CEO global da Shell, Van Beurden, quando a corporação fechou negócio e finalmente assumiu a aquisição da petroleira BG no mundo:

"O Brasil será um país-chave na nossa estratégia", afirmou. "Está seguramente no top 3 de nosso portfólio e, se considerarmos apenas a produção em águas profundas, é o maior." "Van Beurden disse acreditar na competitividade do pré-sal, mesmo em um cenário de petróleo barato. "O break even (preço de equilíbrio dos projetos) é muito favorável, mesmo nessa faixa de preços. E, se os preços caem, os custos também caem".

Pois bem, para garantir estar na maior fronteira petrolífera descoberta nas últimas décadas, o Pré-sal do Brasil, a Shell está tentando se desfazer de 16 ativos que estão em processo de venda. Entre estes estão:

1) Pacote de ativos no Mar do Norte avaliado em US$ 2 bilhões;
2) Operações Marítimas no Golfo do México;
3) Refinaria na Dinamarca;
4) Participação na refinaria japonesa Showa Shell;
5) Campos de petróleo na Nova Zelândia, Tailândia e Gabão;
6) Participação no terminal de gás natural liquefeito na Malásia, a MLNG;
7) Reservas nas areias betuminosas do Canadá;
8) Área de xisto americana nas bacias de Delaware e Permiana do Texas e Novo México, consideradas algumas das reservas de xisto mais fáceis de explorar na América do Norte que poderiam valer de US$ 9 bilhões a US$ 13 bilhões, por ser tido como "código postal desejável".

Assim, a Shell quer somar vendas de US$ 30 bilhões para saldar as suas dívidas. Mas não está aceitando fazer feirão ou liquidação topando qualquer preço.

Diante desta realidade é possível fazer relação entre as escutas da NSA denunciadas pelo Edward Snowden sobre as reservas petrolíferas brasileiras, a Petrobras, os interesses estrangeiros, a Lava Jato, a sua ligação com os EUA e o golpe. Tudo isto sem correr o risco em ser acusado de estar tratando de teorias conspiratórias.

Antes que possam questionar a origem dos dados, eu informo que eles estão numa matéria do jornalista Andrew Ward, do conhecido informativo inglês do setor de economia, o Financial Times.

Evidentemente, não com as relações aqui feitas com a Petrobras e sobre as estratégias da Shell no Brasil e as articulações entre os poderes econômicos e os políticos na dimensão em que o assunto exige da geopolítica da energia. Mais claro impossível!

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