sexta-feira, agosto 17, 2012

“Nos Emirados do Chuvisco: é preciso deseconomizar a política”

A opinião abaixo que suscitou o título acima é do Douglas da Mata e foi postado enquanto comentário na nota abaixo “prefeituras mal preparadas desperdiçam a riqueza do petróleo e comprometem o futuro das cidades”.

O blog considerando a relevância do assunto tomou a decisão de trazê-la para este espaço. Como se pode ver o título também tem a simbologia forte, que é uma das várias e boas características do autor da opinião republicada abaixo:

“O problema não se resume a "corrupção", mas é muito mais complexo, e já debatemos isto em outras oportunidades:

É preciso "deseconomizar" a política, quer seja na Europa, nos EEUU, ou nos Emirados do Chuvisco.

Lá, no "mundo civilizado"(como gostam de dizer os leitores da "óia"), o poder financeiro engessa a política com o fatalismo do mercado, e usam o dinheiro dos impostos de TODOS para continuarem a financiar um modelo que traz lucro privado e prejuízo coletivo.

O povo vota, na esperança de solucionar seus problemas, mas não há alternância de poder, desacreditando a política, e pior, e Democracia, inaugurando ideias totalitárias.

Nos emirados do chuvisco, o dinheiro dos royalties financia um modelo que "prefeiturizou" a cidade, matando por inanição a vida econômica e social autônoma da cidade.

Privatiza o orçamento, concentra renda e socializa prejuízos sociais.

Este ciclo se re-alimenta, pois os grupos de interesse que fatiam o dinheiro entre si, aí incluídos desde os trabalhadores-de-cabresto(
temporários), até a elite parasita(empreiteiros, prestadores de serviços e mídia) não conseguem enxergar outra solução senão a perpetuação daquilo que os favorece.

Como um "deus ex machina" a Justiça acaba por funcionar aqui como a válvula de escape totalitária (lato sensu), na medida que substitui decisões "populares" por monocracia jurídica, e para seu prejuízo, acaba por se deslegitimar, na medida que não "pacifica" conflitos, mas só os agrava.

Como não temos esperança de uma solução por aqui, talvez seja o caso de mobilizarmos para elaboração de regras para o uso destes recursos, via Congresso, onde este orçamento seria "carimbado" e gerido por conselhos comunitários setoriais.

Lógico que estes conselheiros eleitos também poderiam ser "aparelhados", mas a proximidades com as comunidades, a impossibilidade de recondução ao cargo, etc, poderiam funcionar como formas de controle.

Enfim, algo tem que ser pensado e discutido.

Dinheiro não pode servir para concentrar e perpetuar o poder de grupos particulares, mas é preciso cuidado para não tolher a autonomia popular nas suas escolhas.”

7 comentários:

Roberto Torres disse...

Análise irretocável.

"É preciso descominizar a política" é bandeira mais universal possível hoje.

E tanto no sentido de soltar a política de suas amarras economicas - muitas vezes produzidas dentro da própria política. Como no sentido de nao ser econômico na política. É preciso mais política!

No caso dos dos royalties é uma situacao inusitada. Pois o problema nao é o gargalo financeiro que trava a política. Há dinheiro em caixa. O problema é uma lógica política de compra de apoio política - seja indireta por meio dos contratados, seja direta.

Anônimo disse...

Não acho justo isso de "culpar" o contratado pela farra que existe há anos na Prefeitura desta cidade. É preciso ser mais crítico no sentido de ver que não há oportunidades de emprego na cidade. Não vivemos o luxo de escolher onde trabalhar ou rejeitar tal emprego. Não precisa nem ler os jornais para saber disso, basta olhar em volta, seus familiares e amigos. É o mesmo que querer culpar o petroleiro da bacia de Campos pela exploração/desgaste do meio-ambiente marítimo, sendo que você mesmo anda de carro/ônibus/táxi e paga por este combustível. Enfim, a gestão de hoje e sempre da Prefeitura sempre foram vergonhosas. Quem sabe deveríamos ter um movimento próprio em Campos a favor da distribuição dos Royalties, afinal todos sabemos que estes são para enriquecer mesmo um pequeno grupo seleto que mama nas tetas da administração dos "Emirados do Chuvisco".

Ex-contratado :)

Anônimo disse...

Não acho justo isso de "culpar" o contratado pela farra que existe há anos na Prefeitura desta cidade. É preciso ser mais crítico no sentido de ver que não há oportunidades de emprego na cidade. Não vivemos o luxo de escolher onde trabalhar ou rejeitar tal emprego. Não precisa nem ler os jornais para saber disso, basta olhar em volta, seus familiares e amigos. É o mesmo que querer culpar o petroleiro da bacia de Campos pela exploração/desgaste do meio-ambiente marítimo, sendo que você mesmo anda de carro/ônibus/táxi e paga por este combustível. Enfim, a gestão de hoje e sempre da Prefeitura sempre foram vergonhosas. Quem sabe deveríamos ter um movimento próprio em Campos a favor da distribuição dos Royalties, afinal todos sabemos que estes são para enriquecer mesmo um pequeno grupo seleto que mama nas tetas da administração dos "Emirados do Chuvisco".

Ex-contratado :)

Anônimo disse...

Impossível não concordar com o Douglas, mas ainda não consegui ver um modelo que funcione assim. O poder econômico está tão atrelado à política que ele é a própria política vigente.
No nosso triste caso, existe um componente perverso que diminui minhas esperanças: a falta de educação e cultura.
Acho impossível acontecer, mas se migrássemos para um sistema descentralizado de decisões na aplicação dos recursos, o poder econômico voltaria suas baterias para os donos do poder, mesmo que isso significasse fracionar suas ações na mesma proporção da divisão do governo.

douglas da mata disse...

Ao Roberto Torres, grato pelo comentário.

Aos outros comentaristas, idem.

Veja meu caro amigo, eu não busco culpados, mas também não os vejo como vítimas inocentes.

É claro que a falta de oportunidades leva a precariedade dos vínculos, mas veja como a decisão individual (justíssima) acaba pro inaugurar um círculo vicioso.

A permanência deste grupo político no poder, sufragado majoritariamente nas urnas, é prova disto, ou seja: que dar empregos mantém a base eleitoral.


Sua colocação sobre culpa é inteligível, mas não tem lugar neste debate.

É claro que todos que usamos combustíveis fósseis temos que buscar alternativas para minorar os danos ambientais, mas lembre-se que o petroleiro não retribui seu cargo com voto, logo, a relação dele com o fenômeno ao qual você se refere é diferente.

Mas se você considerar que os royalties como uma indenização para diminuir impactos, e que este dinheiro sai das empresas petrolíferas, que por conseqüência sai da riqueza que eles produzem, teremos um caso onde todo processo se "contamina".

Ao outro comentarista:

A história não acabou, meu caro, embora nos dissessem isto há uma ou duas décadas.

Não há um "poder" em si, embora o capital financeiro tenha construído um ambiente que nos leve a pensar como você.

Outro problema na sua análise: Países com nível "cultural", ou nível "educacional" mais altos(na sua análise), como EEUU, França, Inglaterra e Espanha, só para citar os maiores, atravessam o mesmo problema e entraves a alternância de poder.

Enfim, o problema é como redefinir as instâncias de atuação política, redesenhar o papel dos partidos, o sentido da representatividade e dos mandatos, através de debates intensos, e cansativos, eu sei...

Abraços.

douglas da mata disse...

Ao Roberto Torres, grato pelo comentário.

Aos outros comentaristas, idem.

Veja meu caro amigo, eu não busco culpados, mas também não os vejo como vítimas inocentes.

É claro que a falta de oportunidades leva a precariedade dos vínculos, mas veja como a decisão individual (justíssima) acaba pro inaugurar um círculo vicioso.

A permanência deste grupo político no poder, sufragado majoritariamente nas urnas, é prova disto, ou seja: que dar empregos mantém a base eleitoral.


Sua colocação sobre culpa é inteligível, mas não tem lugar neste debate.

É claro que todos que usamos combustíveis fósseis temos que buscar alternativas para minorar os danos ambientais, mas lembre-se que o petroleiro não retribui seu cargo com voto, logo, a relação dele com o fenômeno ao qual você se refere é diferente.

Mas se você considerar que os royalties como uma indenização para diminuir impactos, e que este dinheiro sai das empresas petrolíferas, que por conseqüência sai da riqueza que eles produzem, teremos um caso onde todo processo se "contamina".

Ao outro comentarista:

A história não acabou, meu caro, embora nos dissessem isto há uma ou duas décadas.

Não há um "poder" em si, embora o capital financeiro tenha construído um ambiente que nos leve a pensar como você.

Outro problema na sua análise: Países com nível "cultural", ou nível "educacional" mais altos(na sua análise), como EEUU, França, Inglaterra e Espanha, só para citar os maiores, atravessam o mesmo problema e entraves a alternância de poder.

Enfim, o problema é como redefinir as instâncias de atuação política, redesenhar o papel dos partidos, o sentido da representatividade e dos mandatos, através de debates intensos, e cansativos, eu sei...

Abraços.

Anônimo disse...

Douglas, queria deixar claro que mesmo tendo sido contratado nunca votei no governo vigente, até porque não consegui um emprego por indicações políticas de secretários ou vereadores. E sim, eu sei que 95% ou mais dos que lá estão balançam bandeirinhas e não querem perder a boca. Só quis dizer que na atual situação, com falta de emprego, acabamos pegando estes bicos enquanto não surge nada melhor.

Ex-contratado