sábado, junho 25, 2022

Transformações digitais podem estar nos levando a uma era pós-industrial?

Penso que necessitamos conhecer mais a fundo a atual transformação do que seria para alguns autores, a passagem de uma era industrial, para uma época de hegemonia digital no capitalismo contemporâneo, que se apoia num tripé dividido ainda com a financeirização e o neoliberalismo.

A digitalização e o plataformismo são partes da reestruturação produtiva e de um processo mais radical de acumulação.

Mais que uma infraestrutura que articula o virtual da plataforma digital e o real da logística de entrega das mercadorias, a plataformização realiza o que nem Taylor e Ford, juntos, jamais sequer imaginaram ser possível, como mecanismo de controle sobre tempos e movimentos e aumento da produtividade sobre o trabalhador.

Vivemos uma "quase revolução da etapa de circulação" que amplia a velocidade da "mais-valia" e da captura do valor sobre todos os setores da vida em sociedade. Como meio de circulação, as Plataformas Digitais aproximam as distâncias e assim diminuem o tempo desse processo, com o uso da infraestrutura de logística, através da qual se romperá a barreira da distância. 

Vale destacar que a transformação de um produto em mercadoria só se completa, na forma de mercadoria, quando é vendido. Em estoque é apenas uma mercadoria em potencial. É nesse ponto que se deve entender a ligação que o varejo do e-commerce faz entre o intangível das relações e dos negócios digitais com o mundo tangível da infraestrutura

Há muito a ser investigado. Ainda é muito pouco percebido aquilo que vem ocorrendo com a digitalização do trabalho, com o trabalhador algoritmizado que é controlado full time para além de sua jornada de trabalho, seja na indústria, agricultura, nos serviços e/ou também nas centenas de centros de distribuição (CDs) das players do e-commerce.

A simbiose entre o virtual digital e o real do trabalho, na fábrica, hospitais, comércio, escolas e universidades, nos CDs e na casa do trabalhador online é um tema que pode ajudar a compreender as transformações contemporâneas do capitalismo em diferentes espaços.

Em 2020, eu elaborei um texto (ensaio-relatório) da investigação empírica sobre os agentes, o processo e as estratégias dos players que atuavam no e-commerce no Brasil. (Link nas referências) [1]

Porém, o tema que hoje, mais me atrai, é uma análise mais totalizante sobre as transformações dessa era pós-industrial que parecem estruturais e vinculadas ao capitalismo e à globalização. 

Diante disso cabe a pergunta: este processo se trata apenas de mudanças decorrentes de nova etapa da reestruturação produtiva ou a superação estrutural da sociedade industrial, que há dois séculos foi definindo por um modo de produção e organização da sociedade e do espaço?  

Na relação entre a dimensão econômica e geopolítica, parece que vivemos uma encruzilhada. O capitalismo é por sua natureza expansiva e isso redundou na globalização, que com a Pandemia, guerra EUA-OTAN x Rússia está se deparando com freios, que alguns mais apressados passaram a chamar de desglobalização e outros de tendência de globalização regional.

As mudanças com a fase de digitalização mais financeirização são profundas e aceleradas.

Possivelmente, tão importantes, intensas e de ciclo longo, quanto a que o mundo assistiu com a Revolução Industrial (RI).

Sim, pode ser que isso seja, um exagero, mas também, pode ser que não. Por tudo isso, há muito a ser investigado, muita teoria a ser revisitada e atualizada e muita pesquisa e conhecimento a ser compartilhado sobre as mudanças já em curso.


Referência:
[1] PESSANHA, Roberto Moraes. Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: entre o intangível do digital e a materialidade da logística. Disponível em: https://www.comciencia.br/disputa-no-e-commerce-de-varejo-no-brasil-entre-o-intangivel-do-digital-e-a-materialidade-da-infraestrutura-de-logistica/?fbclid=IwAR21dlT9-4kFWa1WhwB7IGp6Qkk7CMra00Svu82PiUqAPxjz15CyhRHJH4Q#more-6804

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