terça-feira, julho 12, 2022

Sugestão aos amigos professores

Sei que por esse perfil passam muitos professores. Não quero aumentar as suas já altas cargas de trabalho. Não importa se professor de escola pública ou privada. Penso que a partir da 6ª ou 7ª série (inclusive), já seria uma idade suficiente para a abordagem. De forma especial, a partir do Ensino Médio.

Sem deixar o conteúdo próprio de cada disciplina de lado, a ideia que apresento é o de usar uma aula - ou parte dela -, para uma conversa com os alunos. Sim, diálogo. Bidirecional. Ouvir e falar, ou dialogar. Sugerir e intermediar a discussão.

O tema? É um assunto transversal e, na verdade, cabe em qualquer e em todos os conteúdos disciplinares, porque ele é também meio e método.

Sugiro que nem seja muito planejado e nem algo improvisado, mas que o colega professor se prepare minimamente sobre o tema que é algo do seu cotidiano e também dos alunos, para assim ajudar na mobilização intelectual.

Talvez seja um dos temas mais importantes para os adolescentes, jovens e estudantes maduros na atualidade. O professor não precisa dominar o assunto da tecnologia digital. Aliás, é bom que não queira saber demais sobre o tema. A ideia é que como mediador ele traga ao centro do debate um assunto que ele possa mais ouvir.

Assim, penso que o assunto não será enfadonho. Ao inverso, imagino que vá gerar ânsia para falar e ouvir os colegas. Refiro-me a um debate crítico sobre as mídias digitais e as redes sociais. Plataformas digitais como instrumento de trabalho e de comunicação. As redes sociais se tornaram onipresentes depois que entraram nos celulares (internet móvel). Informação (desinformação ou fake news). Estamos imersos em bolhas ou em guetos de grupos digitais? O que é feito com nossos dados? É legítimo a restrição de idade para uso das redes sociais? Em qual idade? Nossas relações em sociedade estão mudando muito ou sempre foi assim? Porque as tecnologias digitais são tão atrativas e simultaneamente preocupantes?

Não pretendo com esse pequeno detalhamento sugerir subtemas. Também não sugiro que apresente eles para os alunos. Eles até podem surgir, mas listo aqui apenas para ajudar o professor a pensar sobre o que poderá surgir da conversa e, se for o caso, inserir um ou outro ponto, como ponderação e reflexão na discussão, a partir do seu papel de mediador. Aliás, é um bom exercício para aquele professor que ainda vai para as aulas professar o que sabe, quando a escola e nós professores, já devíamos ter saltado para um papel que considero ainda mais importante e desafiador.

A sugestão é que seja uma conversa livre, mesmo que mediada, ou intermediada, para dar voz aos argumentos do maior número de alunos possível. Lembro que essa minha sugestão não é para aula específica de informática. Até penso que lá deveria ter espaço para essa “análise crítica”, mas a ideia é que se vá além da tecnologia como ferramenta, mas pensar como ela já influencia as nossas vidas pessoais e em sociedade num mundo em veloz transformação.

Em escolas púbicas e com alunos de baixa renda, mesmo sabendo que se vive com exclusão digital e dificuldades de acesso à internet, o tema poderá instigar a pensar sobre as desigualdades (sim, no plural) que eles vivem. Avaliações críticas surgirão tanto sobre a disponibilidade e captura de dados pelas empresas de telefonia e tecnologia, quanto a privacidade e o tempo que nos é roubado, assim como a quê e a quem tudo isso tem servido?

A ideia não é dirigir o debate para conclusões que, obviamente, podem ser produzidas por alguns, mas instigar reflexões e questões. Sugerir pesquisas relacionadas à disciplina do professor e, especialmente, estimular para tentarem “ligar as pontas das informações” que já possuem e outras que possam capturar, a partir desse diálogo, para a construção de leituras surgidas dessa mobilização intelectual.

Interessa menos o resultado e mais o processo. Aliás, é assim toda vez que se trata de construção de conhecimento e não da já superada e conhecida transferência de conteúdo.

Esse processo tende a produzir conhecimento potente, transversal e transdisciplinar. Apropriação e construção de saber (há quem prefira chamar de competência). Razão de ser (stricto-sensu) da escola. Ao final, se não for pedir demais, sugiro ainda que contem suas experiências aqui em suas redes (para nós) e para outros professores.

Se julgar a sugestão impertinente, deixe-a de lado. Apenas, guardo uma curiosidade sobre os processos que elas possam suscitar tanto aos estudantes quanto aos professores e também à escola.

2 comentários:

torres disse...

Prof Roberto Moraes

Gostei bastante do texto que publicou "Sugestão aos amigos professores".
Como no momento um dos assuntos que está em evidencia é a da kripto moeda
gostaria de pedir ao mestre Um texto sobre o assunto.
O Passado (inicio) meio e o atual estágio em que se encontra as moedas digitais.
Se elas tem futuro, mudando assim todo o sistema no mundo capitalista.
Que o texto seja explicativo do que é, foi e sera a moeda digital ou se é
mais um "negocio" onde como sempre o rico ganha mais e pobre menos ainda.
Aborde o objeto kripto moeda(como funciona) para que possamos entender um pouco que tipo de mercadoria ela é realmente....se uma nova opção ou uma conspiração com um novo tipo de commodities!

abs

Roberto Moraes disse...

Caro Torres,

O que me pede pode ser lido no livro do Edemilson Paraná: "Bitcoin: a utopia do dinheiro apolítico".

Abs.