Os EUA parecem ter escolhido o Golfo (Oriente Médio) como primeira opção para avançar na disputa contra a China deixando de lado ou passando por cima de outros antigos aliados. Na primeira viagem internacional de Trump mais sua trupe (desculpe o fraco trocadilho) de CEOs das Big Techs e Big Funds, foram em busca dos países árabes com seus trilionários/bilionários fundos soberanos que estão ansiosos pelos chips avançados, pelo poder computacional e tecnologia de IA das Big Techs americanas.
Nessa articulação em que um desconfia do outro, os EUA
parecem querer ir além do acordo com os Emirados Árabes Unidos Arábia Saudita e
o Qatar indo até uma negociação com o Irã, suspendendo sua sanção, para tentar afastá-lo
da estruturada aliança estratégica com a China, com o sonho de voltar a ter a maioria do Golfo como seu quintal, talvez, mais até que a América Latina.
As nações do Golfo almejam um salto, das petroleiras do Big Oil para as Big Techs, intermediadas pelo Big Money dos fundos.
Os EUA temem que microprocessadores com suas tecnologias instalados
no Golfo possam também servir ao desenvolvimento das companhias chinesas de
tecnologia, como forma destas, contornarem os controles de exportação dos EUA,
enquanto, simultaneamente, avança e acelera sua própria fabricação de
nanochips.
Porém, algumas Big Techs dos EUA, mesmo antes desses acordos
firmados por Trump nessa semana nos três países do Golfo, já estavam com
negócios avançados, como nos casos da Microsoft junto com a OpenAI e a IA Groq do grupo do Musk em acordo com a petroleira saudita Aramco.
Não está claro se as nações do Golfo buscam soberania cibernética
com seus investimentos no desenvolvimento de pessoal, tecnologia e com os seus
trunfos de capital e energia, ou se já decidiram retornar ao abrigo dos
americanos. Já esses, com o império em declínio, dependem dos petrodólares dos
fundos soberanos árabes para avançar na fronteira tecnológica digital que nesse
atual momento tem demanda muito intensiva em capital que os americanos não possuem
em quantidade suficiente. Parece haver um grau de aposta para afastar as nações
árabes da Ásia Ocidental (OM) da influência dos Brics, da ASEAN e, em especial,
da China com sua Iniciativa do Cinturão e nova Rota da Seda. Porém, não se deve esquecer que a China a maior importadora do petróleo do Golfo.
De outro lado, em outros tempos, os EUA não corriam riscos e nem faziam apostas, apenas decidiam por cima das nações e até da ONU. Nada garante que os países do Golfo sigam buscando acordos múltiplos numa linha de seguir mais em busca de soberania do que de dependência.
A IA ainda está no início e pode levar a rumos e avanços em áreas e a conflitos que podem envolver as instalações dessas infraestruturas e a novos acordos que podem realinhar essas posições em termos geopolíticos. É uma dinâmica muito acelerada e de riscos em várias dimensões e escalas.
No mesmo período, o Brasil, a CELAC e a China fizeram outros acordos baseados em infraestrutura e industrialização, mesmo que nem todos os países da AL tenham se comprometido com a nova Rota da Seda chinesa. Os EUA não se manifestaram sobre isso e não se sabe se terá interesse, para além de alguma retórica, para exigir um lá ou cá.
Acordos e termos de compromisso podem avançar ou
serem paralisados. Não duvidem que os EUA se acertem com o Irã e limite as
ações de Israel, embora, hoje, algumas de suas Big Techs sejam parceiras do
genocídio em Gaza.
O que é certo é que as nações precisam ter bastante claro suas
estratégias e para onde querem ir. A opção pela multilateralidade parece clara,
embora, cada nação tenha mais facilidade em avançar com quem já é parceiro
comercial.
Não vou me estender, além disso, mas creio que todos já tenham percebido que há muitos e fortes movimentos em curso na geoeconomia e geopolítica globais que estão transformando o mundo e suas relações.
São várias transições simultâneas, muito para além da tão falada transição energética com redução do uso dos combustíveis fósseis. Aliás, é com boa parte da riqueza do petróleo e seus excedentes que novos passos estão sendo buscados, o big oil lubrifica as big techs intermediados pelo big money no capitalismo contemporâneo de hegemonia financeira.