segunda-feira, julho 21, 2025

Cartões de crédito x Pix e o esperneio de Trump-Bolsonaro

A facilitação dos meios de pagamento amplia a fluidez do dinheiro. O avanço da bancarização com fintechs (bancos digitais) mais a oferta de cartões de crédito e débito fazem parte dessa realidade.

Imagem gerada por IA.
Colaboração Wellington Abreu
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Essa trajetória passa pela digitalização bancária lá atrás (década de 80) chamada de informatização, a seguir chegam os caixas automáticos, acesso aos serviços dos bancos via internet, depois os aplicativos (APPs) com o celular móvel (regime online 24/7) e vão desembocar no instrumento do Pix controlado pelo Banco Central do Brasil (BCB).

Como tudo que diz respeito ao avanço da digitalização, há sempre várias contradições entre vantagens e desvantagens, riscos e oportunidades. Facilidade do usuário x exposição dos seus negócios (dados bancários) e propriedade do dinheiro e transações. Isso remete a uma antiga brincadeira entre amigos que dizia ser tal como a família: ora faz falta, ora faz raiva (sic). Ou seja, a direção e o uso da inovação e da tecnologia dependem de quem a controla.

Assim, a fluidez transfronteiriça do capital realiza um dos sonhos originais e básicos do capitalismo. O desejo que o capital no andar superior da pirâmide possa fluir sem obstáculos a qualquer tempo e lugar. Visto dessa forma, fica também um pouco mais fácil, compreender porque também chegamos à hegemonia financeira na contemporaneidade.

Pois bem, a partir desses considerandos, observemos o avanço das transações em cartões de crédito e/ou débito e também a entrada em novembro de 2020, em plena Pandemia, do instrumento do Pix no Brasil, após anos de desenvolvimento por técnicos do Banco Central e inicial rejeição dos bancos comerciais.

Em junho de 2024, segundo o Banco Central do Brasil (BCB), em seu relatório “Estatísticas de Pagamento em Varejo e Cartões de Crédito no Brasil” o número de cartões de crédito ativos no Brasil era de 221,2 milhões, maior que a população do país. Já o número de cartões de débito ativos no Brasil era de 162 milhões.

Ainda com dados de 2024, as transações em cartões de crédito tinham sido 2,8 vezes maiores que as realizadas no débito, segundo dados da Abec (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito). Também em 2024, o valor transacionado em cartões de crédito e débito chegou a R$ 4,1 trilhões, sendo R$ 2,8 trilhões em crédito; R$ 1 trilhão em débito e o restante em pré-pago e outros. É importante ainda registrar que em 2024, os parcelamentos sem juros, representou 41% do valor transacionado no cartão de crédito.

Considerando a média que fica retida pela bandeira do cartão é de aproximadamente 2,2% no crédito e 1% no débito, é possível estimar que essas grandes empresas de cartão ficaram com pelo menos R$ 75 bilhões ou US$ 13,5 bilhões, a maior parte sendo enviada aos EUA e origem da chiadeira de Trump e dos EUA na sua imperial taxação ao Brasil.

Dentro do universo de 221 milhões de cartões de crédito existentes no Brasil, as bandeiras de cartão mais fortes e presentes até aqui são das americanas Mastercard com 131,8 milhões, seguido da Visa com 72,6 milhões. Em terceiro vem a bandeira brasileira Elo, controlada pela holding EloPar (BB e Bradesco) e CEF com 9,2 milhões de cartões.

É nesse processo que o instrumento do Pix criou embaraços para o avanço dos cartões de débito e crédito no Brasil. Esse meio de pagamento crescia na ordem de 36% em 2021, tendo passado a pouco mais de 3% nos anos 2023 e depois 2024, embora ainda em crescimento. Em 2024, o número de transações via cartões foi de 45,7 bilhões. Enquanto isso, o Pix atingiu a marca de 63,8 bilhões de transações, com um crescimento de 52% em relação a 2023, tendo movimentado R$ 26,4 trilhões em 2024 com recorde diário de transações de 276,7 milhões de operações.

Assim, o Pix se consolidou, de forma definitiva, como o meio de pagamento mais utilizado no Brasil, superando a soma de todas as demais transações realizadas por cartões de crédito, débito, boletos, TED, cartão pré-pago e cheques, segundo dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). 

Até aqui, o impacto do Pix foi sobre o pagamento no cartão via débito em conta. Certamente se ampliará para o crédito com a entrada em vigor, prevista pelo Banco Central (BC) para setembro próximo, da funcionalidade do parcelamento via Pix. Os dados permitem interpretar que com a entrada em vigor do parcelamento via Pix, os impactos sobre as transações nos cartões serão bem mais fortes.

Todo esse percurso que se amplia dia a dia com a maior digitalização, IA, clouds, computação quântica, etc., evidencia a hegemonia financeira no mundo contemporâneo, da propriedade do dinheiro sem a necessidade do papel-moeda, só como informação concentrada e, ao mesmo tempo, fluida.

Para terminar, vale ainda lembrar e destacar, em importante resgate histórico, que o Brasil é um dos precursores no mundo na informatização dos bancos, num processo depois copiado e ampliado, mundo afora, já como digitalização com uso de vários tipos de plataformas. Um termo, aliás, que nasce nos bancos físicos, nos espaços com um tablado acima do piso original, como destaque, onde gerentes e donos de grandes depósitos, realizavam negócios de crédito e que hoje se espalhou com as hoje conhecidas plataformas digitais. [Adiante penso em resumir num artigo este contexto histórico]

Um processo que venho chamando de plataformização, como infraestrutura de intermediação (meio de produção e meio de comunicação) conectando de forma online e ininterrupta todos durante todo o tempo e em qualquer lugar, sejam cidadãos, produtores, consumidores, fornecedores ou apanhadores de crédito, demandadores e ofertantes de serviços, etc.

Enfim, parodiando o personagem Hamlet de Shakespeare, há mais coisas entre o pix, as operadoras de cartões de crédito e os arroubos imperiais de Trump, do que supõe a nossa vã filosofia.

PS.: Atualizado às 15:24 para breve ac´rescimo no texto.

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