A facilitação dos meios de pagamento amplia a fluidez do dinheiro. O avanço da bancarização com fintechs (bancos digitais) mais a oferta de cartões de crédito e débito fazem parte dessa realidade.
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Imagem gerada por IA. Colaboração Wellington Abreu. |
Essa trajetória passa pela digitalização bancária lá atrás (década de 80) chamada de informatização, a seguir chegam os caixas automáticos, acesso aos serviços dos bancos via internet, depois os aplicativos (APPs) com o celular móvel (regime online 24/7) e vão desembocar no instrumento do Pix controlado pelo Banco Central do Brasil (BCB).
Como tudo que diz respeito ao avanço da digitalização, há sempre
várias contradições entre vantagens e desvantagens, riscos e oportunidades.
Facilidade do usuário x exposição dos seus negócios (dados bancários) e
propriedade do dinheiro e transações. Isso remete a uma antiga brincadeira
entre amigos que dizia ser tal como a família: ora faz falta, ora faz raiva
(sic). Ou seja, a direção e o uso da inovação e da tecnologia dependem de quem
a controla.
Assim, a fluidez transfronteiriça do capital realiza um dos sonhos
originais e básicos do capitalismo. O desejo que o capital no andar superior da
pirâmide possa fluir sem obstáculos a qualquer tempo e lugar. Visto dessa forma,
fica também um pouco mais fácil, compreender porque também chegamos à hegemonia
financeira na contemporaneidade.
Pois bem, a partir desses considerandos, observemos o avanço
das transações em cartões de crédito e/ou débito e também a entrada em novembro
de 2020, em plena Pandemia, do instrumento do Pix no Brasil, após anos de
desenvolvimento por técnicos do Banco Central e inicial rejeição dos bancos
comerciais.
Em junho de 2024, segundo o Banco Central do Brasil (BCB),
em seu relatório “Estatísticas de Pagamento em Varejo e Cartões de Crédito no
Brasil” o número de cartões de crédito ativos no Brasil era de 221,2 milhões,
maior que a população do país. Já o número de cartões de débito ativos no Brasil
era de 162 milhões.
Ainda com dados de 2024, as transações em cartões de crédito
tinham sido 2,8 vezes maiores que as realizadas no débito, segundo dados da
Abec (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito). Também em 2024,
o valor transacionado em cartões de crédito e débito chegou a R$ 4,1 trilhões,
sendo R$ 2,8 trilhões em crédito; R$ 1 trilhão em débito e o restante em
pré-pago e outros. É importante ainda registrar que em 2024, os parcelamentos sem
juros, representou 41% do valor transacionado no cartão de crédito.
Considerando a média que fica retida pela bandeira do cartão
é de aproximadamente 2,2% no crédito e 1% no débito, é possível estimar que
essas grandes empresas de cartão ficaram com pelo menos R$ 75 bilhões ou US$
13,5 bilhões, a maior parte sendo enviada aos EUA e origem da chiadeira de
Trump e dos EUA na sua imperial taxação ao Brasil.
Dentro do universo de 221 milhões de cartões de crédito
existentes no Brasil, as bandeiras de cartão mais fortes e presentes até aqui
são das americanas Mastercard com 131,8 milhões, seguido da Visa com 72,6
milhões. Em terceiro vem a bandeira brasileira Elo, controlada pela holding
EloPar (BB e Bradesco) e CEF com 9,2 milhões de cartões.
É nesse processo que o instrumento do Pix criou embaraços para o avanço dos cartões de débito e crédito no Brasil. Esse meio de pagamento crescia na ordem de 36% em 2021, tendo passado a pouco mais de 3% nos anos 2023 e depois 2024, embora ainda em crescimento. Em 2024, o número de transações via cartões foi de 45,7 bilhões. Enquanto isso, o Pix atingiu a marca de 63,8 bilhões de transações, com um crescimento de 52% em relação a 2023, tendo movimentado R$ 26,4 trilhões em 2024 com recorde diário de transações de 276,7 milhões de operações.
Assim, o Pix se consolidou, de forma definitiva, como o meio
de pagamento mais utilizado no Brasil, superando a soma de todas as demais transações
realizadas por cartões de crédito, débito, boletos, TED, cartão pré-pago e
cheques, segundo dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Até aqui, o impacto do Pix foi sobre o pagamento no cartão
via débito em conta. Certamente se ampliará para o crédito com a entrada em vigor,
prevista pelo Banco Central (BC) para setembro próximo, da funcionalidade do
parcelamento via Pix. Os dados permitem interpretar que com a entrada em vigor
do parcelamento via Pix, os impactos sobre as transações nos cartões serão bem mais
fortes.
Todo esse percurso que se amplia dia a dia com a maior
digitalização, IA, clouds, computação quântica, etc., evidencia a hegemonia
financeira no mundo contemporâneo, da propriedade do dinheiro sem a necessidade
do papel-moeda, só como informação concentrada e, ao mesmo tempo, fluida.
Para terminar, vale ainda lembrar e destacar, em importante resgate
histórico, que o Brasil é um dos precursores no mundo na informatização dos
bancos, num processo depois copiado e ampliado, mundo afora, já como
digitalização com uso de vários tipos de plataformas. Um termo, aliás, que
nasce nos bancos físicos, nos espaços com um tablado acima do piso original,
como destaque, onde gerentes e donos de grandes depósitos, realizavam negócios
de crédito e que hoje se espalhou com as hoje conhecidas plataformas digitais. [Adiante
penso em resumir num artigo este contexto histórico]
Um processo que venho chamando de plataformização, como infraestrutura
de intermediação (meio de produção e meio de comunicação) conectando de forma
online e ininterrupta todos durante todo o tempo e em qualquer lugar, sejam
cidadãos, produtores, consumidores, fornecedores ou apanhadores de crédito,
demandadores e ofertantes de serviços, etc.
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