segunda-feira, novembro 03, 2025

O papel dos celulares na expansão do uso da internet, extração de dados e dominação tecnológica

96% dos usuários de internet no mundo usam celular para acessar à internet e muitos entre nós ainda não se deram conta que a internet não teria se expandido tanto em uso, se não fossem os celulares.

A telefonia móvel com uso dos celulares além de levar internet mais barata a mais pessoas e lugares, permitiu um uso ampliado, numa espécie de regime que ficou conhecido como 24/7, todas as horas do dia nos sete dias da semana. Ou seja, em condições de estar online o tempo todo.

Muitos também duvidaram que os celulares tipo smartphone se tornariam baratos e de uso amplo tornando o computador de mesa ou laptop uma opção complementar para acesso à internet.

Na prática, pode-se dizer que as telecomunicações expandiram a digitalização da informação e permitiu que a “dataficação” (captura de dados como questão central) estruturasse uma colossal economia de dados com participação transversal em todos os setores da economia, em diferentes lugares do mundo, fato que nos remete e explica o gigantismo das corporações de tecnologia (Big Techs) que ora assistimos.



2/3 da população usa internet e 96% deste contingente acessa pelo celular

Estamos falando da extração de dados de 6,04 bilhões de usuários de internet no mundo, ou 73,2% da população mundial, em números, agora, de outubro de 2025.

Insisto, a dataficação no mundo só ganhou volume com o uso do celular. O equivalente a 96% dos usuários de internet no mundo usa celular para acessar à grande rede, estatística global, agora em outubro de 2025. Os celulares são ainda responsáveis por 60% do tráfego mundial da web (internet).

Atualmente, é fácil encontrar pessoas que nunca usaram um computador de mesa, ou laptop, mas que usa intensivamente - e de forma ampla - os recursos dos celulares. Seus aplicativos, são mais amigáveis que os softwares dos computadores. Além disso, os celulares são em geral bem mais baratos e têm portabilidade, podendo serem levados para qualquer lugar e em qualquer tempo.

Amigos professores têm, sistematicamente, relatado vários casos de alunos que nunca usaram um computador. Estes, sequer conseguem entender qual seria sua utilidade destes, se o celular pode fazer tudo que o equipamento móvel (mobile) faz.

A portabilidade do celular nas mãos, no bolso ou nas bolsas e sua quase imprescindibilidade para a comunicação instantânea (cada vez mais por mensagem de todo tipo, texto, áudio e/ou vídeo) tem levado a um uso exagerado das telas para todo tipo de atividade, rompendo a barreira entre trabalho, compras, serviços, estudo, atendimento à saúde, lazer, etc.



Tempo de tela está diretamente ligado à internet móvel usada nos celulares

A média global de uso da internet está hoje em 6h38 por dia. Já os brasileiros passam 9h13 conectados, sendo 3h37 nas redes sociais com outros usos que cruzam a simples interação social. O brasileiro em média tem ainda cerca de 1,2 celulares (smartphones) por habitante. O fluxo de dados gerados por esse movimento gera uma colossal extração de dados e de valor. 

Os diferentes usos dos celulares e da internet se integram em vários sistemas (que alguns gostam de chamar de ecossistema), plataformas e aplicativos que servem de infraestrutura digital para ligar duas pontas que também se misturam entre produção e consumo.

A digitalização e a dataficação da sociedade são processos complexos que se articulam com a economia, a política, a geoeconomia, a geopolítica e as relações de poder em diferentes esferas, porém para uma análise mais aprofundada desse fenômeno é preciso que algumas destas passagens, na linha do tempo do uso, da nova onda da tecnologia digital fiquem mais claras.



Dados como fator de produção, sociedade dataficada e hegemonia financeira

O uso expandido dos celulares ampliou o maior acesso da internet (móvel) e de todas as demais utilizações aí penduradas e dependentes. Portanto, essa é uma destas importantes etapas da tecnologia digital e a que melhor explica a explosão da “sociedade dataficada”.

Além do poder da comunicação móvel e portátil na expansão do uso da internet (quase 2/3 da população mundial) que o celular oferece, a tecnologia digital possibilita a ampliação de outro fenômeno que ganha potência com o regime 24/7, a “dataficação”. Essa quase onipresença da tecnologia digital em nossas vidas, mistura o trabalho vivo com o trabalho morto, extraindo valor de ambas, durante todo o tempo e em todo tipo de navegação na internet. 

Assim, hoje, já se trabalha com a ideia dos dados como fator de produção. Dados extraídos de quase tudo no mundo, natureza, das coisas, máquinas, das comunicações, das pessoas (seus movimentos, desejos, pensamentos, etc.).

Dados como commodity e como capital. Na sociedade contemporânea, ambos: os dados e o capital precisam sempre ser ampliados. Eles não podem interromper essa trajetória de acumulação para não fenecerem, o que leva ao conhecido ciclo de reprodução e aos novos mercados que vemos diariamente.

Assim, observa-se como o grande capital (o Big Money) investiu, e segue investindo, fortemente nas grandes corporações que se tornaram as Big Techs. Mas não se trata apenas de investimentos e retorno aos investidores.

O interesse e a demanda que o grande capital nutriu pela imposição da hegemonia financeira, partiram da compreensão do potencial pervasivo (grande capacidade de se espalhar) que a tecnologia digital possui intrinsecamente. Potencialidade de ampliar a fluidez e a acumulação no sistema.

Assim, finanças e tecnologia se entrelaçaram e explicam a dominância da primeira e a hegemonia da segunda. Não há como estudar os processos de plataformização e dataficação sem compreender o imbricamento entre esses elementos e também o papel desempenhado pelo uso dos celulares e da internet móvel na sociedade contemporânea.