sábado, dezembro 28, 2013

Soffiati cita 5 motivos estruturais para a não construção de um novo porto em Macaé

No dia 20 de dezembro de 2013, o blog publicou aqui a informação sobre a realização da Audiência Pública para a analisar os impactos sobre a implantação de um novo porto em Macaé, o TEPOR.

Hoje, o blog recebeu do professor Aristides Soffiati o documento (também publicado aqui no Pravda da Rússia) elencando cinco "motivos estruturais para a não construção de um novo porto em Macaé" que segue abaixo:

"Motivos estruturais para a não construção de um novo Porto em Macaé"
28.12.2013 - Por Arthur Soffiati - PhD. ecohistoriador e ambientalista

1- O trecho costeiro entre a margem esquerda do Rio Macaé e a margem direita do Rio Itapemirim é geologicamente novo. Podemos identificar nele três formações. A mais antiga é a Formação Barreiras, com idade estimada em 60 milhões anos, ou seja, menos de 10% da zona serra, que domina o noroeste fluminense. A segunda é representada pelas planícies aluviais, com menos de 5 mil anos. A terceira é constituída por três restingas: a de Jurubatiba, a do Paraíba do Sul e a de Marobá. A de Jurubatiba tem cerca de 120 mil anos. Como não existem formações pedregosas nesta costa, qualquer empreendimento da estatura de portos implica em grande destruição do ambiente, de forma a ajustá-lo aos interesses do empreendimento. Como o fundo do mar é raso, torna-se necessária a abertura de longos, largos e profundos canais de acesso, o que significa revolvimento de fundo e disposição de sedimentos também no assoalho marinho. Não havendo formações pedregosas, é preciso construí-las no mar, o que causa pressão sobre pedreiras. A retroárea aumenta mais ainda os impactos ambientais.

2- A circulação de navios vai aumentar as perturbações na zona marinha, já empobrecida pelos cerca de 30 anos de funcionamento das plataformas de exploração de petróleo da Petrobras e de outras empresas. Os impactos sobre a atividade pesqueira aumentarão.

3- O porto projetado encontra-se na zona de amortecimento do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e das Unidades de Conservação do Arquipélago de Santana.

4- A cidade de Macaé já se encontra saturada com as atividades da Petrobras e de empresas associadas. A parte urbana consolidada se expande cada vez mais em direção à Região dos Lagos, promovendo a conurbação de Macaé-Rio das Ostras-Barra de São João-Unamar. A saturação de Macaé também está obrigando a cidade a se expandir para o interior, sobre área rural, exigindo o nivelamento do terreno com aterros. Assim, elevações estão sendo desmanteladas para fornecer material de aterro de áreas que funcionam como amortecedores de cheias e como ecossistemas aquáticos ricos em vida.

5- Nesta mesma zona costeira que se estende do Rio Macaé ao Rio Itapemirim, existem quatro complexos portuários em andamento: o de Barra do Furado, o do Açu, o de Canaã e o de Presidente Kennedy. Um terminal a mais só aumentará a sinergia negativa. A sobrecarga para a zona costeira já é grande demais para comportar novo complexo portuário.

Um comentário:

Anônimo disse...

Há poucos dias comentei o artigo do Martinho Santafé sobre o porto macaense. A posição dos ambientalistas conforta a alma mas não traduz o que todos nós, inclusive eles, fazemos.
É consenso que o crescimento composto infinito é inviável, mas como eu comentei, nunca o ser humano deteve-se antes do limite. Não há indícios de que o faremos agora.
Como conciliar o nosso desejo de conforto com a preservação do meio ambiente? Por favor sem respostas, porque não há respostas.
A militância ambiental é necessária mas critica a consequência do problema.
Se utilizamos automóvel, celular, computador, fazemos exames clínicos, dormimos no ar condicionado, escovamos os dentes e tudo o mais, como podemos achar que isto está dissociado da degradação do meio ambiente?
A construção do porto em Macaé tem a ver com tudo isso. Ser contra não é suficiente.
Nosso vício em conforto nos levará para o abismo, isto é certo.
Talvez o segredo seja não ir correndo.