segunda-feira, maio 06, 2013

"Onde está o dinheiro? O gato comeu?"

O artigo abaixo é do sociólogo Emir Sader e foi publicado ontem, aqui, em seu blog no Portal Carta Maior. É curto e denso e enfrenta a questão central e atual do debate econômico e do crescimento econômico no Brasil e na América Latina:

"Onde está o dinheiro? O gato comeu?"
"A maior disputa de centralidade da agenda hoje no Brasil é aquela que se dá entre a prioridade da retomada do crescimento ou o suposto “descontrole inflacionário”. Ela reflete as distintas visões que a esquerda e a direita têm do país.

Para a direita – como sempre – a preocupação central é a inflação, razão pela qual aponta para os gastos do governo, a diminuição da taxa de juros, as políticas sociais, os aumentos de salários. Diz preocupar-se com os salários – que nos seus governos foram dilapidados –, mas se preocupa com os ganhos do capital financeiro e com as contas públicas. Por um lado, ataca o suposto descontrole inflacionário, por outro busca capitalizar eventuais descontentamentos produzidos pelo aumento da taxa de juros.

As pressões conseguiram que o Banco Central voltasse a aumentar a taxa de juros – mesmo sendo um aumento mais simbólico do que real –, mas suficiente para demonstrar que o BC havia assumido a pressão sobre ele. A própria Dilma tem reiterado nos seus pronunciamentos que a preocupação com a inflação é central no governo, o que, enquadrado como ela tem feito no marco das políticas econômico-sociais do governo, é correto. Mas não deixa de colaborar com a campanha opositora para colocar a inflação como tema central da agenda política.

O problema central do país não é esse, hoje. É a dificuldade que o governo enfrenta para conseguir retomar o crescimento econômico. O governo tomou e segue tomando iniciativas nessa direção, sem que se constate efeitos concretos. Baixa taxa de juros à metade do que ela era há algum tempo, diminui sistematicamente impostos para grande quantidade de setores, controla o câmbio, faz investimentos – mas não consegue fazer com que os setores privados invistam.

Não dispõem de recursos? Ou os canalizam para a especulação e até para os paraísos fiscais – como revelações recentes evidenciaram? Onde está o dinheiro?

O grande empresariado privado alega “incerteza”, que são produzidas por eles mesmos, ao privilegiar mais os investimentos especulativos do que os produtivos. Que aumentam os preços e alegam riscos inflacionários.

Para que a economia volte a crescer, é o Estado que tem que assumir o papel determinante. Além dos investimentos públicos diretos – ao invés das desonerações, que não tem tido retorno do capital privado –, o governo tem que condicionar fortemente a circulação do capital financeiro – elevando substancialmente sua taxação –, e condicionar toda concessão feita aos setores privados. A desoneração da cesta básica não chegou plenamente aos consumidores. As desonerações não têm tido contrapartidas do setor privado – seja na contenção de preços, seja na elevação dos investimentos.

Nenhuma empresa estrangeira se dispõe a sair do Brasil, considerada uma economia segura e com grande potencial e expansão. É o grande empresariado privado, com a boca torta do cachimbo da especulação, quem sabota o desenvolvimento econômico do país."

4 comentários:

douglas da mata disse...

O nível de liquidez dos detentores do capital é enorme.

Mas eles rejeitam movimentarem-se sem que possam dar as ordens novamente, a fim de criarem novos ambientes de expansão descontrolada, sorvendo ativos dos países de moeda mais fraca, inundando-os e elevando câmbio, destroçando as indústrias nacionais e lucrando horrores com as políticas de substituição de importações, e as taxas de arbitragens cambiais.

É em nome deste pessoal que fala a direita no Brasil.

Anônimo disse...

Não concordo quando fazes críticas à Direita. A economia brasileira, nas mãos da mesma, foi super bem gerida! Claro que os tempos eram outros, o Brasil era um país de incertezas ainda, tínhamos uma democracia virgem ainda, mas a atual gestão não conseguiu despontá-la devido a falta de obras em infraestrutura. Já analisou as obras da ferrovia Transnordestina (e, como se não bastasse esse atraso, a Dilma anunciou mais uma ferrovia)? Uma obra feita sem projeto executório! Pode isso?

Anônimo disse...

Tenho uma pequena, quase média, indústria. Fico mais pobre a cada ano. Trabalho como um condenado e tenho as mesmas obrigações da grande indústria. Sou cobrado do mesmo jeito, ou até mais duramente que as grandes empresas.
Minha empresa vale 10 milhões. Todo dia me pergunto o que estou fazendo lá. Todas as condições sinalizam que eu deveria vender os ativos e passar a lucrar como o capital sem ter que me aborrecer com produção, legislação ambiental e trabalhista, distribuição, riscos etc.
Até hoje ainda não fiz isso mas não sei até quando vou resistir...

É isso que o Emir falou: o privilégio é para a especulação e não para a produção. Enquanto os bancos não forem enfrentados do ponto de vista dos seus privilégios especulativos, dos altos ganhos com os juros elevados, não dá para o pequeno produtor sobreviver. Melhor é capitular.

Na minha rasa opinião falta isto ao governo Dilma. Enfrentar o capital especulativo.

douglas da mata disse...

Economia bem gerida? E ainda temos que digerir esta!

Economia gerida para 10% da população, enquanto milhões sofriam na miséria?

Putz, Roberto, eu confesso que não vou polemizar, tô se saco cheio de tanta burrice.

Cara, quando é que estes imbecis vão olhar os números?

Não há UM, eu digo, UM indicador dos governos anteriores que sejam melhores que os dos governos de 2002 em diante.

Eu aposto 100 reais, e deposito em conta: UM INDICADOR:

INFLAÇÃO ACUMULADA, CRESCIMENTO DO PIB, RELAÇÃO DÍVIDA/PIB, DÍVIDA PÚBLICA, INVESTIMENTO SOCIAL PER CAPITA, JUROS, EMPREGOS, GASTOS COM JUROS EM RELAÇÃO AO PIB, ETC, ETC, ETC.

Desculpe por usar caixa alta, Roberto, mas não dá para ser diferente.

Economia bem gerida pela direita? Quem é que acredita numa idiotice destas?

Economia bem gerida pela direita, nem nos EEUU e nem da Europa, meu filho.