quarta-feira, abril 05, 2017

Superficial e profunda, perto e longe, consumo (de fatos) ou produção (de interpretações)?

Não precisa mais.

Pouco além de dez e menos do que quinze dias, relativamente longe das notícias online, serve para você perceber como a leitura diária e contínua das partes deve estar atrapalhando a leitura do todo.

A informação online não tem volta. É um fato. Em si, nunca foi ou será problema.

Porém, a imersão total e contínua nela, é sim – e estou cada vez mais convicto disto – uma forma de se perder a capacidade para ler e interpretar o todo, o geral, e aquilo que interessa, tirando os detalhes.

Sim, estes são importantes e parte do todo. Sem eles, o todo o não existe.

Só que olhar contínuo das partes, que exige mais proximidade, impede que se enxergue o todo que exige – mesmo que relativa - distância.

Perto e longe. Parte e todo. A proximidade permite observar o real, mas só a distância parece consentir a interpretação mais geral daquilo que se observa.

Seria possível juntar ambas? Creio que sim. Mas as evidências parecem mostrar que se torna necessário alternar a leitura das partes e do todo.

Neste período, de quase duas semanas, eu fiquei relativamente distante das informações online.

Digo, relativamente, porque, na atualidade, é quase impossível se desligar completamente, ao ter que manter as conversas com os familiares e amigos, além de precisar dos acessos para saber sobre o tempo, as passagens, os trajetos (gps), etc.

Esta pequena temporalidade, reforçou a interpretação de que o acompanhamento diário dos fatos, tende a entorpecer a possibilidade de compreensão mais geral da realidade.

Levanto a ideia por observar como após um certo distanciamento, algumas delas parecem bem mais evidentes, quando antes sequer eram enxergadas.

O acompanhamento diuturno dos “fatos” editados (ou escolhidos) demandam sempre mais acompanhamento, assim como novela ou procissão que tende a tornar as leituras parciais – e muitas vezes fragmentadas – mais superficiais. Muita informação é quase igual a nenhuma notícia.

Tudo isto toma tempo. Muito tempo. Porque sempre há uma “novidade”.

Desta forma, conversa-se (pessoalmente ou digitalmente) sobre os fatos e quase nunca – ou raramente - sobre as interpretações.

Diversos autores já trataram deste tema, há mais ou menos tempo, considerando ou não a questão dos sistemas informacionais que tornaram esta análise ainda mais complexa.

Mas, essa breve reflexão é fruto apenas da observação de um quotidiano que parece não ser enxergado. Porém, pode também ser somente uma divagação do final de um breve período de viagem e descanso.

Diante dela, eu tendo a interpretar que a pós-modernidade seria uma espécie de irmã da pós-verdade que necessita ser mais que refletida combatida dentro do processo civilizatório.

Para mim, que sou blogueiro há quase treze anos – e de forma ininterrupta – esta reflexão é importante, mesmo que eu tenha me embrenhado na questão mais – e cada vez mais - como forma de interpretação da realidade, e de compartilhamento, do que de narrativa de fatos.

Porém, mesmo que a causa possa ser nobre, não há como deixar de indagar, se ao invés de auxiliar, você não estaria contribuindo para pulverizar ainda mais as ideias, atrapalhando as interpretações, que são cada vez mais raras.

Preciso escrever para poder pensar, por isso o blog.

Estou de volta!

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