domingo, dezembro 07, 2025

Economia Política da Tecnologia Digital no Brasil: extrativismo Hi-Tech das Big Techs

Uma análise um pouco mais detalhada sobre os dados das receitas, impostos e remessas ao exterior realizadas pelas Big Techs no Brasil, apontam para uma enorme extração de valor e transferência de renda e também de poder político realizada por essas gigantes corporações sobre o país.

A Google e a Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp) obtêm cerca de 40% das suas receitas nos EUA, onde se localizam as suas sedes, mas lá que pagam aproximadamente 80% dos impostos, fora o que ainda pagam de dividendos e lucros aos seus acionistas (fundos e grandes investidores nos EUA).

Ou seja, nos demais países, onde conseguem 60% de suas rendas com usuários dos seus serviços, essas Big Techs pagam apenas cerca de 20% do total em impostos. E ainda reclamam das cargas tributárias dos países mundo afora.

Em matéria na FSP, publicada hoje (07 dez. 20250, p. A28), da jornalista Patrícia Campos Melo com título e subtítulo: “Big Techs enviam mais dinheiro ao exterior, mas tributação da remessa cai – Entre 2014 e 2024, grandes empresas de tecnologia passaram a enviar para fora mais de metade do que ganham no Brasil, faturamento bruto das plataformas cresceu 585%”, alguns dados reafirmam não apenas o tamanho da economia de dados e da tecnologia digital no Brasil, como um dos maiores mercados do mundo, como também expõem o tamanho da extração que realizam no país. [1]

Em 2024, as Big Techs alcançaram R$144 bilhões em receita bruta no Brasil e remeteram ao exterior o enorme valor de R$ 80,3 bilhões, equivalentes a 55% da receita, valor bem superior aos R$ 2,8 bilhões (atualizados e corrigidos) do que enviaram ao exterior há dez anos através em 2024. O pico em termos percentuais dessa remessa ao exterior se deu em 2023 quando chegou a 61,8% da receita bruta (e não a líquida que foi ainda bem maior.

Estudo encomendado à Consultoria LCA pelas próprias Big Techs, através da associação que representa a Amazon, Google e Meta no Brasil (Câmara Brasileira de Economia Digital), admite que recolhem apenas 16,4% de suas receitas brutas (não líquida) em tributos.

A matéria traz ainda infográficos com dados da Receita Federal sobre a evolução das receitas brutas totais das Big Techs entre 2014 e 2024, assim como das remessas de lucros enviadas ao exterior.



Através dele é possível identificar o valor de R$ 80,3 bilhões enviado pelas Big Techs ao exterior no ano passado (2024). Para se ter uma ideia desse volume de recursos, podemos ver que ele é aproximadamente igual ao valor dos investimentos federais do Brasil para o orçamento de 2026 (LOA) equivalente a R$ 85,5 bilhões. 

É um valor colossal, espantoso. Se tabularnos os últimos 5 anos (2020 a 2024), vê-se que as remessas enviadas ao exterior somam aproximadamente R$ 260 bilhões, quase U$ 50 bilhões, segundo dados da Receita Federal.

Trata-se de uma espécie de vampirismo digital ou um extrativismo Hi-Tech que essas gigantes corporações realizam sobre a economia de todo o país, considerando sua atuação transversal e transsetorial com amplo espectro de atuação.

Atualmente, as Big Techs têm a proteção política de Trump que exige “liberdade” e ameaça as nações que tentam regular e tributar justamente esses oligopólios americanos. 

Assim, essas gigantes corporações americanas que operam como plataformas-raiz, estabelecem o que temos chamado de dominação tecnológica que explica a formação desses maiores oligopólios da história da humanidade, articulados e controlados sob a lógica da hegemonia financeira em processos de assetização realizados pelas gestoras dos grandes fundos globais. Há que se impor limites para essa extração de valor.


Referência

[1] Folha de São Paulo. Patrícia Campos Melo em 07 dez. 2025, p. A28. Big Techs enviam mais dinheiro ao exterior, mas tributação da remessa cai – Entre 2014 e 2024, grandes empresas de tecnologia passaram a enviar para fora mais de metade do que ganham no Brasil, faturamento bruto das plataformas cresceu 585%. Disponível em:  https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2025/12/parcela-do-faturamento-das-big-techs-remetida-ao-exterior-aumenta-323-enquanto-taxacao-de-remessas-cai-73.shtml

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