sábado, janeiro 26, 2008

Complexos

Artigo semanal do blogueiro publicado ontem, na Folha da Manhã. Complexos É relativamente comum que pessoas de meia-idade, como este articulista, comecem a desenvolver certas manias. Uma delas é a de implicar com certas palavras. Assim, voltei ao hábito, salutar por sinal, de recorrer aos velhos e bons dicionários. Como se pode ver uma mania se liga a outras. Hoje minha implicância é com o termo complexo. Não falo da palavra quando relacionada à confusão ou complicação, ou algo que o valha explicado lá no Aurélio. A minha invocação é sobre o termo que os empreendedores passaram a adotar para os investimentos, segundo eles, de maior porte. Porém, maior é maior e, não necessariamente, complexo. Assim está surgindo o Complexo Petroquímico do estado do Rio de Janeiro (Comperj) que quase foi em Guriri e acabou em Itaboraí. Agora o Complexo Portuário do Açu. Aproveito o parêntese para pensar junto com você leitor: teria sido para a região, em termos de investimentos, uma boa, esta troca de complexos, ou melhor, de empreendimentos? O tempo dirá. Porém, mais uma vez recorrendo à análise do tempo, que é aquilo que chamamos de história e que nos ajuda a imaginar o futuro, fico a analisar sobre a forma que nossa região está entrando na era da globalização. Na época da cana o senhorzinho plantava, colhia, esmagava e cozinhava a cana em busca do açúcar produzido com a ajuda dos escravos e depois dos baixos assalariados. Desde lá, seus ganhos eram negociados pelo vil metal, nos distantes escritórios do Rio. O petróleo do litoral da nossa Baixada vai direto para os mercados globais, também negociados bem longe. Por aqui ficam somente os trocados sob a forma de royalties. Os tempos se modificaram junto com os complexos, mas a historinha continua na sua marcha. Complexos hoje são negociados, antes mesmo de serem construídos. Mudam as pessoas, mantém-se a história: ganham os mesmos que ganhavam antes, não importando se o mercado está aqui ou acolá. Talvez seja mesmo um problema de complexo, não de inferioridade, mas de ideais: o de que os frutos do desenvolvimento fossem repartidos. Enfim, melhor ser menos complexo, embora permaneça a madura implicância com a palavra.

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