segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Aristides Soffiati comenta nota em que foi citado pelo André Pinto sobre questões ambientais da nossa região

Por e-mail, comentando postagem antiga que ainda não localizei, o professor Aristides Soffiati, faz interessante comentário que o blog disponibiliza na íntegra abaixo:

"Prezado Roberto
Como um comentário a uma matéria de André Pinto ultrapassou o limite dos blogues, envio-a pelo que parece convencional nos dias de hoje. Detesto limites. 
Abraços Soffiati".

"Prezado André 
Parabéns pela análise e me desculpe por cumprimentá-lo com tanto atraso. Se você me permite, gostaria de trazer algumas contribuições às suas excelentes considerações. 

1- Na região norte fluminense (denominação geográfica que meu amigo Alceo Magnanini, do alto do seu profundo conhecimento de campo, considera absolutamente errada), existem duas restingas. A primeira se estende de Barra do Furado a Macaé e conta com 123 mil anos de idade, segundo livro dos geólogos Suguio, Martin, Flexor e Dominguez. Sobre ela, foi criado o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. Está para sair um artigo meu sobre o nome do Parque, cujo batismo me cabe, mas que o escrivão entendeu incorretamente o nome da criança. Os dois nomes propostos foram Jurubatiba e Jagoroaba. O IBAMA gostou mais do primeiro. O nome da UC deveria ser Parque Nacional de Jurubatiba, situado na restinga de Carapebus, pois este último nome designa a maior lagoa desta restinga. A segunda se estende do Cabo de São Tomé a Manguinhos. É relativamente nova, pois se formou, segundo os geólogos acima mencionados, nos últimos 5 mil anos. Trata-se da maior restinga do Estado do Rio de Janeiro e uma das maiores do Brasil. Proponho que ela passe a se chamar Restinga de Paraíba do Sul, pois este rio não apenas a corta como também é responsável, junto com o mar, por sua formação. 

2- Antes das minhas aulas de campo, faço uma explanação breve para meus alunos em sala de aula. Mostro-lhes um mapa geológico da área a ser visitada e lhes pergunto o que veem. No máximo, respondem que estão vendo rios e lagoas. Jamais alguém notou como, em ambas as margens do Paraíba, a configuração geológica muda. Na margem esquerda, a partir de Itereré, há nítidos terrenos de tabuleiro, com lagoas perpendiculares à costa, antigos cursos d’água barrados pela restinga. Nesta, a disposição do terreno muda, com lagoas e banhados paralelos à costa. Eles resultaram, como você bem assinala, do processo de transgressão (avanço) e regressão (recuo) marinhas. Recuos muito grandes deixaram atrás de si a Lagoa do Campelo e os Brejos de Mundeuzinho , dos Cocos, dos Farias e do Mangue Seco; as Lagoas do Comércio, da Taboa, do Meio e da Praia, estas últimas em Gargaú, formam uma enorme sequência de depressões intercordões arenosos assinalando antigas cristas praiais (que denominamos comumente de cômoros). As lagoas de Gruçaí, Iquipari e Açu foram criadas por outro processo e integravam o delta do Paraíba como braços extravasores deste e da Lagoa Feia. Na margem direita, divisa-se, nitidamente, a planície aluvial e a restinga. 

3- Estas depressões e os cordões arenosos paralelos à costa falam com eloqüência, mas, infelizmente, o poder público e a sociedade não conhecem a língua deles. É preciso um programa urgente de alfabetização para ensinar as pessoas a ouvir a restinga. Repare que a vegetação nativa de maior porte na restinga se desenvolve sobre os cordões. Nas depressões, a vegetação é aquática ou hidrófila (amiga da água). Quando chove, as depressões acumulam água e se enriquecem em biodiversidade. Ao mesmo tempo, elas funcionam como reservatórios de água para o lençol freático e como retentores de água no continente. 

4- Por este ângulo, Guaxindiba, Sossego, Santa Clara, Gargaú, Atafona, São João da Barra e Gruçaí foram erguidos sobre um terreno complexo, mas sem observar esta complexidade. Estes núcleos populacionais removeram a vegetação nativa psamófila (amiga de solo arenoso) herbácea, arbustiva e arbórea, passando sem nenhum respeito sobre as depressões e os cordões arenosos. A ligação entre o Rio Paraíba do Sul e as Lagoas de Gruçaí, Iquipari e Açu foi interrompida pelo canal do Quitingute. O mesmo aconteceu com o famoso valão de Gruçaí, marca de uma grande regressão marinha pretérita. Esta depressão ligava a Lagoa de Gruçaí ao Rio Paraíba do Sul. Em seu livro Vento Nordeste< /em>, Hélvio Santafé registra a presença de manguezal perto do Chapéu de Sol. Como isto seria possível? Pelo avanço das marés pelo valão até lá, transportando sementes das três espécies de mangue da nossa região. A ligação deste paleocanal com o mar foi transformado na Área de Proteção Ambiental da CEHAB, mas considero imperioso reexaminar esta APA quanto a seu nome, a sua delimitação, ao seu plano de manejo (?), a sua história e a sua importância. 

5- Os núcleos urbanos na Restinga de Paraíba do Sul exigiram desmatamento e ultrajaram a malha hídrica nativa. Estes atentados não devem ser atribuídos a nenhum prefeito, mas a todos e também à população. Melhor dizendo, a uma concepção segundo a qual o espaço está à nossa disposição. A vegetação nativa de restinga foi, em sua maior parte, substituída por lavouras de curta duração, que apresentaram níveis declinantes de produtividade depois que o húmus natural das matas se esgotou, exigindo o uso de fertilizantes químicos e de agrotóxicos. Em seguida, instalou-se uma pecuária magra. Os núcleos urbanos também exigiram remoção de vegetação nativa e feriram a disposição dos fluxos hídricos, Hoje, sofrem as consequências de intervenções tão contranaturais. Onde atualmente se situa o SESC Mineiro, em Gruçaí, existia uma floresta de restinga na qual, certa vez, me perdi. Hoje, lá, estende-se um paredão que abriga uma excrescência. Fui agredido verbalmente, certa vez, pelo diretor do SESC Mineiro por fazer esta análise. Depois, ele me pediu desculpas, creio que por entender minhas críticas serem impessoais, mas não pertinentes. 

6- O valão de Gruçaí foi todo segmentado, principalmente pelo meio urbano. Mas, como a natureza sempre busca recuperar o equilíbrio perdido, as águas ultrapassaram a estrada em direção à Lagoa de Gruçaí, nas cheias dos últimos 4 anos. O poder público teve de abrir uma vala, onde deveria ser instalada uma ponte ou um bueiro celular. No trevo de Gruçaí, ocorreu o mesmo. Em caráter emergencial, a prefeitura tentou conter as águas com diques marginais de areia, mas as águas espalharam a areia para o meio da pista. Resultado: meu irmão, indo de motocicleta rumo a Campos, tentou evitar a areia para não escorregar e foi para o meio da pista. Em sentido contrário, vinha outro motociclista que agiu da mesma forma. Os dois colidiram. O outro morreu. Meu irmão teve seu antebraço esquerdo estilhaçado. Até hoje, não se recuperou do acidente. Todos entendem que se tratou de um simples acidente, não se podendo invocar qualquer componente ambiental ou qualquer responsabilidade do poder público. 

Por hoje, basta, André.
Um grande abraço. Soffiati".

15 comentários:

Anônimo disse...

Prezados Roberto e André
Você me permitem transformar este comentário em artigo jornalístico? É que estou muito atarefado e sem tempo de escrever dois artigos por semana, como normalmente faço. Assunto não me falta. Só não disponho de tempo. Venha logo, aposentadoria.
Abraços
Soffiati

Roberto Moraes disse...

Caro Soffiati,

Seria uma ótima e ao mesmo tempo uma honra. O texto é de sua propriedade com todos os seus argumentos.

Abs.

jeca tatu disse...

uma pena que seja publicado no jornal daqueles que representam os interesses de classe daqueles acostumados a degradação, e da rapinagem do espaço e do dinheiro público.

pérolas aos porcos, seria a imagem de linguagem para ilustrar essa promíscua e estranha relação.

mas não poderia ser diferente, afinal, o articulista é parte de uma intelectualidade que gosta de se deixar capturar por essa gente.

vive a ilusão que contribui para ocupar algum espaço relevante para suas discussões, mas o que faz é aleijá-las de legitimidade quando se coloca a serviço de quem só lhe dá espaço para lustrar seu odioso meio de um "verniz de mudernidade".

a vanguarda do atraso. sempre.

não, não, não, professor Roberto, o texto não seria propriedade do autor. seu comportamento nos faz crer que todo texto já tem na sua gênese a encomenda.

triste fim do homem-ambientalista que sabia javanês.

Arthur Soffiati disse...

Estou num espaço midiático que muitas pessoas de esquerda gostariam de estar. O curioso é que nunca abdiquei dos meus princípios e das minhas posições para escrever nele. Por várias, fui censurado. Nosso Jeca Tatu não imagina quantos artigos meus deixaram de ser publicados pela censura. Melhor seria dizer que sou infiltrado do que cooptado. Nunca deixei de emitir minha opinião e meus princípios no meio em que escrevo. É muito simplista, do ponto de vista político, pensar assim. Lembre-se que Marx escreveu para jornais burgueses na Inglaterra e nos Estados Unidos.
Antes desenvolver táticas para ser lido mais longe do que não ter nada a dizer e ficar fazendo críticas extremistas e superficiais.
Arthur Soffiati, que não tem medo de se esconder sob pseudônimo.

Marcos disse...

Caro prof. Soffiati, caso vá transformar este texto em artigo, verifique que GRUSSAÍ É COM SS E NÃO COM Ç.
Sabemos que o Sr. luta com veemencia muitas lutas inglórias, mas também procura chifre em cabeça de macaco. Às vezes é preciso ter mais coerência do que lutar contra o que não existe. Saudações respeitosas.

jeca tatu disse...

Eis aí que se revela o nosso intelectual.

Primeiro, a presunção: compara-se a Marx. Bom depois disso, resta muito pouca coisa para levá-lo à sério.

Não é preciso avivar a memória do escirba para pontuar a diferença entre ambos. Ele bem sabe, só quis fazer alguma provocação cínica a nossa inteligência. Pois não conseguiu.

Marx era um intelectual-militante, uma pessoa articulada aos movimentos políticos de sua época, com produção intelectual e práxis política orgânica, e com o sacrifício de sua própria vida pessoal, o que sabemos, nem de longe é o caso do classe média abastada Professor Soffiati(nada contra, diga-se de passagem).

Nunca se envolveu com nada, além de seu próprio umbigo ambientalista.

Não há princípios nele, pois ele é em si, princípio, meio e fim de si mesmo.

Vamos a segunda parte:

Infiltrado?

Há 30 anos? E o que mudou no meio no qual escreve para supormos que sua presença interferiu?

Bom, se mudarmos o sinal da pergunta, veremos que mudou muito mais o professor, ou seria, domesticou-se?

Enfim, resta a questão do pseudônimo. Essa é rasteira demais, parece até o discurso do seu "patrão", que odeia os pseudônimos, principalmente, os que não estão sob sua chibata.

Pois eu cá me recordo que o Soffiati já utilizou esse artifício, que agora, não aprova mais.

Vêem como quem mudou quem nessa relação?


PS: Carlos Lacerda também foi censurado, e até cassado, imaginem.

PS2: Eu não se que tipo de esquerda você se refere quando diz que alguns da "esquerda" gostaria de lá estar. Isso quer dizer que é esse o tipo de esquerda que você é? ou que você não é de esquerda?

PS3:Bom, por mim, posso dizer que fiu chamado a ser um "infiltrado" e, é claro, recusei, e olha que eu nem tinha "tanto" a oferecer como você.

Cordial abraço.

Anônimo disse...

JECA TATU NAO É FRACO NAO,HEIM?SOFFIAI ESÁ ULTRAPASSADO AE MESMO PELO "PATRÃO".
EZ
OBS:SOFFIATI,PODEMOS USAR PSEUDONIMOS ,JÁ QUE JÁ USOU E CONINUA USANDO.

Anônimo disse...

Passei a consultar o blog de Roberto Moraes recentemente porque, antes, não dispunha de tempo. Optei por ele por conhecer Roberto, saber do seu equilíbrio e do seu caráter democrático. Minha intenção era obter informações que não chegam pelos meios convencionais e contribuir com comentários equilibrados, não para ficar batendo boca com covardes. Sei muito bem dos direitos que vocês têm de se esconderem na sombra do anonimato. Fiquem na escuridão com seus gracejos, chacotas, pilhérias. Só discuto com seriedade e não vou perder meu tempo com provocações de irresponsáveis.
Aristides Arthur Soffiati Netto/Edgar Vianna de Andrade

Anônimo disse...

No seu caso, Marcos, bastava perguntar se a grafia correta é Grussaí ou Gruçaí. Em tupi, é Gurusai. Antigamente, escrevia-se Gruçaí. Dei preferência a esta forma de grafar. É de se perguntar por que Grussaí e Açu. Por que não Assu?
Quanto a eu procurar chifre em cabeça de macaco, opinião sua e problema meu.
Cordialmente
Soffiati

Anônimo disse...

LOUVÁVEL A RESPOSTA DE SOFFIATI.A ROUPA SUJA FOI LAVADA.JECA TATU DEIXOU SUA OPINIÃO,SOFFIATI RESPONDEU E USOU SEU PSEUDONIMO QUE TODOS JÁ SABIAM.RESUMINDO:OS DOIS SÃO FORTES,CADA UM NO SEU QUADRADO.O BLOG CONTINUA CARACTEISTICAMENTE EQUILIBRADO E DEMOCÁTICO.
EZ

jeca tatu da silva(ex-anônimo) disse...

vejam só,

enquanto nutriu alguma perpsectiva de "ganhar" o debate, não se importou o emério professor, e respondeu a esse jeca tatu.

bom, foi buscar lã, e saiu tosquiado.

agora(deve ser botafoguense), perdeu a peleja, e reclama das regras e dos jogadores.ilegítimo chororô.

mas e os argumentos? qual nada, prefere brigar com os galhos a enfrentar a raiz do problema.

vamos a mais uma etapa de nossa opinião desqualificada e irresponsável:

triste que nosso homem-ambientalista que sabia javanês seja tão aguerrido na sua defesa de posição no jornal-mercenário, logo no blog que é processado por eles. mais uma contradição do nosso vestal.quase uma indelicadeza.

depois, veio a "aula" de desconhecimento de História, logo a matéria que ele melhor devia conhecer:

disse o professor que é um infiltrado, e tal qual Marx(?)ampliava os espaços de sua comunicação com os que precisam de seu saber que alivia almas ignaras.

disse-nos que Marx escrevia nos jornais burgueses ingleses e de outros paíse da Europa, como a Alemanha.

cabe aqui uma opinião desqualificada:

os jornais no início e meio do século XIX nem de longe poderiam ser comparados com a mídia de hoje, tanto em sua natureza econômica, tanto pelo seu papel político.

se no século XIX, a mídia, ainda incipiente, se financiava de suas vendas na banca, e logo, precisava ampliar o espectro de seus leitores, inclusive com a publicação de opiniões diversificadas(como a de Marx), hoje, a mídia não se sustenta pela venda de seu conteúdo, e nem tampouco sustenta essa venda pela multiplicidade de opiniões, ao contrário.

verticalizou a opinião em pensamento único, age como partido político e se arvora como ún ico mediador da vontade e saber popular.

assim, a mídia, a qual serve o nosso intelectual, utiliza seu poder para achacar governos eleitos, e impor sua agenda ao resto da sociedade.

paradoxalmente, vejam só, essa mídia que o professor diz lhe permitir ampliar seu discurso, só atinge 7 a 8% da população do país.em campos dos goytacazes deve ser menos, mas ele não se arevem a auferir, afinal, como justificar os contratos com o poder público?

nosso professor, o ambientalista que sabia javanês é só mais um cúmplice dessa história.

resta saber se consciente ou não. afinal, ele tem o direito de escolher de que lado está. ele só não tem o direito de dizer que está enganado, pois um homem com seu saber acadêmico não tem direito a ingenuidade.

mas não importa: o resultado é o mesmo.

greta garbo, quem diria, morreu no irajá.

e lá se vai mais uma fraude pela foz do paraíba.

jeca tatu jr disse...

ahhh, e antes que eu me esquela:
"biribiribá, também não quero mais brincá".

o professor é daqueles que quando criança, levava a bola embaixo do braço se não ganhasse o jogo.

adolescência tardia é isso aí.

Anônimo disse...

Esses academicos e suas guerras de vaidades...cansa, mas fico com Jeca q matou a cobra e mostrou o pau sem babacao de ovo(a)...

Jeca tatu, o chato disse...

Meu caro comentarista,

a quem interessar possa:

Jeca Tatu não é acadêmico, nem terminou a graduação.

O debate aqui não é sobre a proeficiência acadêmica do Soffiati, aliás, inquestionável.

O debate é sobre a serviço de quem está está proeficiência.

Jeca Tatu nunca se arvoraria em questionar os postulados registrados pelo professor-ambientalista-que-sabia-javanês. Nunca.

O problema, como disse, é sua captura por quem aprofunda os problemas que ele diz combater.

Um abraço, e deixa eu tirar o meu bicho de pé, que está coçando demais.

André disse...

É ridículo termos ainda esse tipo de "escritores", nos dias atuais, que ao invés de valorizar e apoiar nossos pesquisadores, como é o caso do professor Soffiati, perdem tempo criticando e denegrindo sua imagem por puro despeito e inveja. Cara, corra atrás dos seus méritos e deixe os pesquisadores respeitados e consagrados continuarem suas pesquisas em paz! Eles correm atrás dos seus sonhos e contribuem muito com suas pesquisas! Eles deixarão seguidores de respeito, não por fofocas, mas por belos trabalhos científicos.

André?RJ