terça-feira, fevereiro 23, 2010

Nacionalista, antenado e solidário

Na quinta-feira antes do carnaval fui a Santa Rita, distrito de São Francisco do Itabapoana, almoçar com meu avô Manoel Estevão de Moraes. Estava devendo uma visita desde que faltei, por conta de trabalho, ao almoço de comemoração dos seus 98 anos. Como sempre o "Caboeiro do Pé Rachado", apesar de algumas dificuldades próprias da idade, queria conversar. A prosa é sua grande paixão. A sua lucidez e o interesse nas coisas e nas pessoas, o faz ser sempre um bom papo, não apenas, para nós seus parentes.
Lembrei de comentar aqui sobre ele, por conta da nota abaixo sobre o investimento em alta tecnologia. Explico: ele que sempre quer saber mais detalhes, sobre petróleo, royalties, agricultura e outros problemas que ouve no rádio ou na televisão, ou nas conversas que tem com os que lhe visitam, me perguntou o que era "chip".
Achei que tinha entendido errado e perguntei por que queria saber e aí ele explicou que tinha ouvido no rádio sobre a inauguração feita, por Lula, na semana anterior, de uma a fábrica de "chip"no Sul do país. Tentei explicar sem muitos detalhes, mas ele entendeu e disse: "esse Lula é sabido. Está fazendo igual Getúlio com a usina de Volta Redonda".
No momento seguinte, como sempre acontece, ele quis comentar sobre as coisas de nossa região. Assim, ele quis saber sobre o Porto do Açu: o que está pronto? O que vai ser, quantos estão trabalhando, etc. Quando expliquei sobre a exportação de minério, o mineroduto, etc... ele perguntou: "isso é bom para o país?"
Falei que sim, sobre os empregos... falei que não pelos problemas ambientais... mas o Caboieiro quis saber se não era melhor usar o minério aqui no Brasil. Falei da siderúrgica, da termelética com o carvão que está previsto de vir nos navios que levarão o minério, e ainda de outras possibilidades. Porém, mais uma vez, espantei-me com o aguçado senso - que já seria incrível pela sagacidade mental e política num senhor de 98 anos - com a sua preocupação com a nação e com o resultado coletivo destes investimentos.
Mais uma vez voltei encantado com aquele que ensina com a humildade de quem estaria aprendendo. Que boa conversa, em meio a tantas que a gente tem por aí, que só trazem ódios, pessimismo e interesses individuais.
Por fim, junto esta a outras conversas que atravesso em notas aqui neste espaço, pensando o quê tem sido feito para, um homem nesta idade, vivendo no interior há muitas décadas, ter o pensamento e a capacidade de análise que tem o meu avô Manoel Estevão de Moraes, com tão pouco estudo formal, quanto o nosso presidente Lula? Nas academias, nos jornais e na política há, por outro lado, gente que pensa que sabe tudo. E que pensa só em si e para si, e quase nunca no país e/ou em seu povo.

10 comentários:

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Que postagem linda, Roberto!
É isso aí.
E que privilégio é ter um vovô lúcido, antenado, de feição mansa e com o coração aberto a aprender.

Muito bom!
Parabéns!

Anônimo disse...

Caro Professor Roberto,
Fui obrigada a ler essa postagem para meu pai, que tem 72 anos de idade.
Com lágrimas nos olhos ele disse: 'o campista é inteligente'. Já viu de tudo nessa vida, com 98 anos... É mais sábio, do que muitos q se dizem sábios...
Parabéns, pelo carinho e pela bela homenagem. Mas, não menos parabéns, pelo ensinamento.

Angeline

Marcos Valério Cabeludo disse...

Parabéns Roberto, já li o Caboeiro do pé rachado, senti ali muitas saudades de meus avós já falecidos, que por sinal seriam vizinhos do Sr Estevão ali em Pitangueiras... Penso que este sentido nacionalista e a preocupação com o bem coletivo se fez muito presente em outros tempos lembro bem dos meus vôs... Abraços!

julliana disse...

emocionante esse relato, lendo essas frases e tentando imaginar como foi o seu dia com o vô, posso confirmar que poucos dias viveu um dia tão intenso e de aprendisagem, pois quem perguntava era seu vô e vc respondia, porém o maior beneficiado foi vc e todos nós leitores por saber que existe pessoas que é preocupado com a população..e antes de saber se irira trazer dinheiro perguntou se era bom pra gente?? FORMIDÁVEL...PARABÉNS ROBERTO POR TER TIDO ESSA OPORTUNIDADE DE COMPARTILHAR UM POUCO DA SABEDORIA E HUMILDADE DA SUA FAMÍLIA.espero que não demore a voltar visitar se vovô.

uma abraço julliana

nucleolenilsonchaves disse...

Caro Professor Roberto,

Você já poderá, na próxima conversa com seu Manoel, falar que o PT de Campos tem um Núcleo, denominado Núcleo Lenilson Chaves e que esse Núcleo tem um blog.

blogdonucleo.blogspot.com

sejam todos bem-vindos.

Fatinha disse...

Olá Roberto, maravilha esse seu vovô. Que delícia. Como estamos carentes de pessoas do bem como ele, como você e como todas essas pessoas humildes que formam o nosso país. GENTE DE FIBRA, COMO TAMBÉm O MEU PAI COM 82 ANOS, FAMOSO NOS LUGARES POR ONDE VIVEU TAMBÉM POR SUA SABEDORIA E FIBRA. "SEU FLORIANO DE OUTEIRO", muito correto em toda a sua vida. Temos muito a aprender com eles. Ás vezes ficamos cabisbaixos e sem esperanças de dias melhores com tudo o que estamos vendo a nossa volta. Gostaríamos que os novos que estão no poder tivessem um pai, ou um avô, lúcido, do bem para aprenderem a ser heróis como eles e mudar a nossa história DE VERDADE.
Grande abraço.

Vania disse...

Roberto, um vovô desse quilate é privilégio de poucos. Que riqueza, se para você ele é um tesouro,para ele, ter você como neto deve ser bom demais também. Aproveite todos os momentinhos possíveis porque quando parte..., deixa saudades eternas.

Provisano disse...

Esse Caboeiro do Pé Rachado é de uma sabedoria ímpar. Fiquei morrendo de inveja - sadia é claro - de ti, Professor!

Frederico disse...

Tive imenso prazer e até emoção ao ler seu relato. Lamento não ter tido a capacidade de aproveitar a oportunidade de escrever sobre o meu avô, que muito lembra o seu, deixando registrado para filhos, netos bisnetos esses belos exemplos de vida. Parabéns. Imprimi e estou passando para outros terem o previlégio dessa leitura.

Luiz Felipe Muniz disse...

Grande "Seu Manel" Estevão, um verdadeiro bom papo naquela varanda arejada de Santa Rita!

Meses atrás, Roberto, eu também tive esta oportunidade magnífica com o seu avô e fiquei radiante com a alegria dele ao saber que eu era o neto do seu (dele) falecido grande amigo "Seu Muniz".

Recordamos juntos bons momentos de minha infância nas diversas visitas em que meu avô lá fazia para curtir uma galinha caipira ao molho pardo na companhia ilustre dos irmãos Estevão...

Bacana, Roberto, o seu manifesto aqui, também eu terminei a leitura com saudades profundas do meu querido avô.
Forte abraço, LF