sábado, outubro 13, 2018

As duas redes de campanha do Bolsonaro, a "memificação da política" e os riscos dessa estratégia!

Já começam a ser mapeadas as duas redes de watsApp que alimentam com “Fake News” e “Memes” a campanha do Bolsonaro. Elas tiveram um auge de movimento nos últimos dez dias antes do 1º turno. Agora receosos da procura pela origem elas reduziram muito.

Fundamentalmente são duas grandes redes:
1) Área e trema de segurança e envolve de forma articulada e hierárquica todos aqueles envolvidos no setor desde o plano federal às cidades e comunidades. Nesta área, desde militares das três forças, policiais federais, policiais civis e militares, guardas municipais, segurança privada vendida a empresas e instituições e outras pessoas que atuam e têm preocupação com o tema da segurança pública. Percebam bem. Não se trata de instituições e sim pessoas que atuam nessas instituições e que se identificam com o tema. Aqui os “memes e fakes” que circulam e ganham espaço são sobre a necessidade do uso de armas (o debate do posse e porte de armas), os crimes, as críticas aos direitos humanos, o caso Mariele, etc.

2) Pessoas ligadas às igrejas e que valorizam a religião. Novamente, eu insisto trata-se de pessoas e não formalmente dos comandos das igrejas, embora, algumas vezes isso se confunda. Nessa área os temas dos “memes e fakes” criticam o combate ao racismo e ao homossexualismo, igualdade de gêneros, etc. É uma pauta que trabalha no campo da moral, da religião e dos costumes.

Além destas duas grandes redes que possuem nós e troncos que se cruzam há temas transversais que alimentam estas duas redes e suas subredes que chegam até os grupos dos amigos de trabalho, da família, do futebol etc. O mais forte tema transversal que servem às duas áreas é a que traz de volta a questão da ameaça ao comunismo e ao que chamam dos riscos de uma venezuelização do Brasil. Como se não fossemos um país soberano e com características econômica, política, social e cultural tão diversa.

É interessante que as pessoas possam observar nos “memes e fake” que recebem estes materiais, se eles não se encaixam, em sua grande maioria, nesses temas e com esses enfoques.
Essas redes e subredes foram sendo formadas com auxílio de quem conhece o assunto fora do país. Essa gestão é trabalhosa e a escolha dos temas e imagens a serem utilizadas é criteriosa e obedece a uma hierarquia que visa atender a um determinado tipo de público que se busca ampliar o apoio eleitoral e mais vulnerável a esses materiais.

Esse trabalho de organização ganhou espaço, estrutura e experiência a partir dos movimento dos caminhoneiros que ampliaram sua pressão contra os aumentos do diesel no Brasil, a partir dessa que é uma das subredes com um nós com essa campanha política.

Há informações de que a coordenação da campanha do Bolsonaro já se preocupa com os efeitos contrários que começaram a ser sentidos, por parte das pessoas que hoje percebem que podem ter sido enganadas e vítimas desse processo.

A entrevista assustada do candidato, ontem no Rio, tem um pouco esse propósito de evitar esse sentimento, na medida que ele decidiu não participar dos primeiros debates e a ações de violência nas ruas e redes sociais já são sentidas e até hoje mais amplamente abordada pelo Jornal Nacional.

É interessante observar que a “memificação da política” fenômeno que vem sendo estudado e pesquisado por cientistas políticos, procura usar mais com imagens do que textos. Induzir a conclusão do que concluir para o receptor o que ele vê. Assim, nesse processo a mensagem tende a produzir no receptor, uma sensação de que é ele quem está interpretando a novidade sobre o que ele recebeu na mensagem de alguém que ele conhece.

Isso gera um impulso instantâneo no receptor que sente “empoderado” com ele e assim repassa a mensagem com orgulho, como se ele estivesse descobrindo aquela informação nova.

Porém, há um repique desse processo. Similar ao uso de droga e bebidas com a ressaca. Quando este veiculador da mensagem descobre que outros estão fazendo o mesmo e que a mensagem está sendo questionada e desmitificada como “fake”.

Aí vem o desencanto e muitas vezes depois a irritação por ter sido enganado diante daqueles para quem veiculou a mensagem fake.

Como já disse há quem esteja estudando isso a fundo. Porém, não faz sentido diante da gravidade e riscos que a nação se encontra deixar isso apenas no campo da análise de cientistas políticos e sociólogos para depois da eleição.

Assim, depois de trocar ideias e interpretações com várias pessoas sobre o tema, as formas e as articulações, eu resolvi trazer essa questão para um diálogo mais aberto com as pessoas.

As redes podem ser muito úteis para expandir e aprofundar a análise desse processo, com o intuito de ajudar a enfrentar os riscos não apenas da “memificação da política”, mas evitar que essas posições rasas e da antipolítica nos leve a situações que fujam da mediação da política como meio de manter e aperfeiçoar o processo democrático e civilizatório.


PS.: Atualizado às 01:08 de 13/10/18:
O segredo e o elemento-chave das redes é a INTEGRAÇÃO! A Interconexão! A sua hierarquia. 
Assim seria possível estimar que em algumas horas se possa chegar a milhões na base que sempre pode ser expandida. 

A Democracia depende que se crie formas para se enfrentar esse que é mais um dos monstros da pós-modernidade líquida e fragmentada.
 
Veja que a sua potência está exatamente na integração que é o inverso da fragmentação, só que de forma superficial.
Enquanto não se enfrenta esse fenômeno, as democracias ocidentais estarão em risco grave.

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