sábado, março 09, 2013

"Tempo livre", televisão e...

Os resultados de um teste do futuro sistema do IBGE para apurar o chamado "tempo livre" foram agora divulgados.

Eles trazem diversas curiosidades. Por exemplo, eles indicam que o tempo gasto em atividades culturais, hobbies e esportes — típicas de tempo livre — não fica maior, entre pessoas com 25 anos ou mais, à medida que se sobe na escolaridade.

Os entrevistados dessa faixa etária que tinham de 0 a 3 anos de estudo despendiam 2 horas e 26 minutos por dia àqueles fins; à escolaridade de 4 a 7 anos correspondiam 2 horas e 24 minutos; a 8 anos ou mais, 2 horas e 18 minutos. Ou seja, diferenças bastante pequenas.

Também se verificou, no mesmo universo etário, que a variação ascendente de escolaridade corresponde a uma diminuição do intervalo reservado ao sono e aos cuidados pessoais, como comer, beber, descansar, zelar pela saúde.

O teste mostrou que os meios de comunicação de massa, como a televisão, preenchem parcela importante do tempo livre, em todos os grupos de escolaridade. 

Entrevistados com 0 a 3 anos de estudo relataram passar 3 horas e 34 minutos em frente à televisão, que se comparam a 3 horas e 29 para quem tem de 4 a 7 anos, e 3 horas e 22 minutos para os com 8 anos ou mais de estudo.

Para efeito de comparação, entre os franceses assalariados, assistir à TV representou 54% do que se considerava tempo de lazer — 1 hora e 52 minutos por dia de um total de 3 horas e 28 minutos. Outros 33 minutos eram despendidos com o uso da internet. Esportes e caminhada somavam mais 24 minutos e leitura, 9 minutos. Tal detalhamento deverá ser possível também no Brasil, quando o sistema do IBGE estiver implementado.

Em relação ao dormir — que não é considerado tempo livre —, o teste também revelou diferenças em relação a graus de escolaridade: de 8 horas e 32 minutos de sono para pessoas com 0 a 3 anos, o indicador cai para 8 horas e 9 minutos para os que tinham de 4 a 7 anos de escolaridade e para 7 horas e 58 minutos entre aqueles com 8 anos ou mais de estudo.

O tempo dedicado a cuidados pessoais, que inclui comer e fazer higiene pessoal, também é decrescente, de acordo com as faixas de escolaridade: 4 horas e 8 minutos, 3 horas e 45 minutos e 3 horas e 32 minutos,
respectivamente.

Todos estes dados apareceram numa excelente matéria cujo título é "Fora do expediente" de autoria de Vitor Sorano e Cyro Andrade, no caderno "Eu&Fim de Semana do Valor, na edição do dia 1 de março de 2013.

Eles dizem que a amostra inicial que geraram os números do Brasil ainda é pequena e que o IBGE e gerados pelo que eles chamam de "diários de tempo" e que pretendem implementar a pesquisa no âmbito nacional com atualizações a cada cinco anos.

No quesito assistir à televisão, eu acabei me recordando da psicanalista Maria Rita Kehl, ao chamar a televisão de "marca de fantasia", no livro organizado por Adauto Novaes, "Muito além do espetáculo" da editora Senac, 2005.

Lá Kehl disse: "a televisão é o instrumento mais eficiente para ficcionar diariamente a vida social. A televisão é ao mesmo tempo doméstica e pública e assim estabelece uma ponte entre o público e o privado. Ela é doméstica como uma lâmpada, cotidiana como o pão, onipotente e onisciente como Deus. A televisão é tecnicamente capaz de fabricar, para cada fato da vida cotidiana, sua dose de fantasia, assim como antigamente vinha estampado nas garrafas de coca-cola."

O restante das reflexões eu deixo para o leitor deste blog.
PS.: Atualização às 12:20 para correção de um parágrafo cujo texto estava relativamente truncado.

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