domingo, março 27, 2016

Retomando as utopias em meio à diversidade

Em épocas de travessias, como a atual conjuntura política no Brasil, recorrer ao conhecimento adquirido pelas nossas civilizações é sempre uma forma de tentar aprofundar na leitura deste fenômeno, buscando uma melhor forma de intervir.

Para além das disputas de poder e representação política e do uso de interpretações abstratas e subjetivas, do arcabouço jurídico político existente, os tempos da atual modernidade líquida, para além do Brasil, tem propiciado o esgarçamento da convivência real entre os humanos. Mas não deve ser encarado como o fim.

Civilizações e culturas são questionadas em nome de supremacias e hegemonias. Os riscos da barbárie são sempre lembrados. Tentam nos fazer crer que as utopias desapareceram, diante do pragmatismo dos interesses reais e imediatos.

Outros se abraçaram às utopias não humanistas, a naturalista, ou a pós-humanista, a partir das questões postas pelo conceito de "choque de civilizações", descrito por Huntington.

Em meio a tudo isto, me parece que a ideia da utopia parece mais potente que antes. Utopia em meio à dinâmica dos movimentos e dos conflitos sociais inter e intranacionais.

Os conflitos estão (ou seguem em toda a parte) e parecem ser sinais de que a energia segue dinâmica na busca para reduzir desigualdades e assumir diversidades. Ao contrário do que se imagina, os conflitos não se anulam, eles tendem a avançar para um novo patamar.

Porém o movimento não é natural e nem decorre da inércia. Este movimento continua sendo produzido pelos homens, pelas culturas e pelas civilizações.

Não há nada que possa nos evidenciar que se caminha para a unificação das civilizações e das culturas, mesmo que a luta por hegemonias e pelo poder unilateral, siga ainda com mais força.

Aí parece estar a grande questão. A convivência entre as diversidades. A civilização é a possibilidade de uma cultura conviver com outra cultura, com a diversidade.

O filósofo francês Fausto Wolf lembra que o bárbaro considera que tudo que não é igual a ele, não é humano. E assim, a barbárie seria o outro a ser destruído.

Wolf gosta de recordar aquilo que chama como o grande momento da civilização européia, o do século X, na região ao sul da Espanha, na Andaluzia.

Na ocasião três culturas, a judaica, muçulmana e a cristã conviveram em diversidade. Ele considera que este foi um grande momento da civilização, com mestiçagem cultural, mas, ao mesmo tempo, um momento de criação literária e musical muito grande, tudo construído na possibilidade do diálogo.

Wolf faz ainda questão de separar conceitualmente as noções de cultura e de civilização. Em sua interpretação, elas não se colocam no mesmo nível. A "civilização seria, meramente, a possibilidade da existência da diversidade de culturas".

Em meio a esta reflexões, num domingo de Páscoa, originário de uma das culturas, a cristã, eu entendo que seja uma oportunidade de reforçar a retomada do ideário da utopia humanista, de luta pela igualdade, em meio às diversidades.

Mais que isto, há que se lutar contra a barbárie e contra o desejo de aniquilamento do que é diverso, seja em termos de cultura, ou mesmo da política, na busca pelo domínio do poder de representar.

O diverso não é o bárbaro, mas também não pode ser nem exclusivo e muito menos superior. Nesta linha devemos ampliar a luta contra o fascismo, doença civilizacional, não erradicada e que demanda novo mutirão de vacina, nas ruas, casas e praças.

No caso do Brasil há ainda que se lutar pelo Estado Democrático de Direito, sem o qual regrediremos. Bom domingo a todas e todos!

6 comentários:

Sandalias Personalizadas disse...

professor gostaria de ver um artigo seu falando da realidade do pt e de lula se realmente eles esta preocupados com essa tal democracia a qual o sr defende?

Roberto Moraes disse...

Cada um calça as sandálias que julga adequada a si e aos outros.

Quem lê o blog já cansou de ler por aqui as críticas que faço ao governo e ao PT por ter repetido o que os demais partidos fizeram dentro do sistema político vigente.

Isto não impede de mais uma vez falar e de ter discernimento de que a mudança da forma de fazer política precisa ser aperfeiçoada. Por todos, indistintamente.

O que é cretino é que queiram bancar de falsos moralistas, isentando todos os demais. O caso da aliança de Cunha com a oposição para se eleger e se manter na presidência da Câmara mostra até onde este falso moralismo vai. Seletivamente.

É desnecessário repetir que o Mensalão começou mineiro até ser seguido no plano nacional como financiamento eleitoral pelo PT, além de outros usos. O Mensalão nacional foi julgado o mineiro até hoje, cadê? O trensalão de São Paulo fica rodando no TJ-SP até também caducar pelo prazo. E o Merendão de SP? A lista de Furnas do 1/3...

Os casos são similares aos partidos que estiveram no poder. FHC usou a Globo para pagar os salários da amante. Depois que a Globo percebeu que estava sendo monitorada, FHC arrumou a empresa do amigo A Brasif e lhe deu vantagens para uso das lojas dos free-shops dos aeroportos e assim, a mesada da amante e do seu filho forma mantidos no exterior.

Os casos do PT você ouve todos os dias na Globo. Eles seguem. As informações do processo são diariamente vazadas. E os demais. Uma ponta de nota para fingir parcialidade e são esquecidos.

Não é possível que suas sandálias passem por cima disto tudo sem perceber a diferença nos tratamentos. Ah, sim elas também são personalizadas. Assim, umas são investigadas a outras não.

O país precisa avançar no seu sistema político. Os corruptos punidos. Todos.

Os financiamentos empresariais de campanhas suspensos. Mas, coincidência, o PSDB, o DEM, PPS e outros aliados querem manter as campanhas caras e receber o dinheiro do poder econômico que controla a política.

Sim, o financiamento com as sandálias personalizadas.

Sim Democracia é tratar a todos igualmente e permitir que se avance na redução das desigualdades em personalizações. É a representação política podendo representar a todos, tanto os que mais precisam da política, nas classes de mais baixa renda e também, e porque não ao poder econômico, mas de forma similar, pedir que seja igual já seria demais.

Assim, eu vejo que hoje com Cunha querendo e presidindo o impeachment de Dilma, o que se quer é tomar o poder sem ter tido voto para isto e depois suspender as investigações da mesma forma que se fez com a Operação Mãos Limpas na Itália, que ao final do processo elegeu o Roberto Marinho de lá, o "impoluto" Berlusconi e hoje o sistema político da Itália é tão problemático quanto antes.

E tudo isto sem falar nos interesses estrangeiros sobre o Brasil, contra a nossa soberania e de olho em nosso petróleo que o Serra se comprometeu a entregar à petrolífera americana Chevron e que agora está ansioso para junto com Temer cumprir a promessa, mesmo investigado pelas falcatruas feitas nos governos FHC.

Calço as sandálias da humildade e assim como David, lutar contra Golias do poder da Globo, de parte do judiciário, ancorado no poder econômico que quer o governo para reduzir a rede de proteção social.

Assim, eu dispenso a personalização das sandálias, porque prefiro estar com quem não quer ser diferente.

Roberto Moraes disse...

Ah não disse, mas voltei para lembrar que no que diz respeito aos governos para interesse da maioria da população, mesmo problemas, os últimos foram, infinitamente melhores, do que os de FHC.

Os problemas de hoje da economia são em grande parte reflexo da crise econômica mundial de 2008/2009 que contidas na ocasião, agora respingam, mas em condições ainda infinitamente menos piores do que as vividas nos 8 anos de FHC.

Comparem todos os índices de inflação e mesmo de desemprego de hoje, no auge da crise com as do período FHC. As vagas ampliadas nas universidades federais, nos IFFs no ProUni. Entre tantos outros. Distante do desejável, mas infinitamente diferente e melhor.

Roberto Moraes disse...

E veja ainda o que o Temer diz que vai fazer se assumir após o golpe que tenta dar em Dilma segundo a p´ropria mídia comercial:

"A "plataforma" do vice¬presidente Michel Temer: Eliminar vinculações constitucionais para a saúde e educação, flexibilizar direitos trabalhistas, aumentar a idade mínima de aposentadoria, eliminar a regra de reajuste real do salário mínimo".

Ou seja, governar para os ricos e abandonar a proteção que garante a inclusão social das pessoas de menor renda que faz a economia se movimentar e gerar empregos.

É por este dois motivos que querem tirar Dilma:
1) Acabar com as investigações da Lava-jato para tirar Cunha, Aécio e outros das investigações;

2) Tirar os direitos sociais alegando que só assim a economia melhora. Sempre punindo os mais pobres e que mais precisam dos governos.

Com a redução de verbas que hoje são garantidas para a Educação e para a Saúde, muitos outros programas ainda mantidos serão retirados, aliás, como está sendo feito na Argentina pelo presidente. Só que lá eleito, mesmo que com pouca diferença, mas eleito. Aqui, depois de perder 4 eleições estão com receio de perder a quinta, assim apelam para o golpe, pouco se importando com a questão democrática.

Roberto Moraes disse...

Podem comentar nos veículos do golpe Globo e Veja, a leitura dos midiotas.

A disputa o bloguinho do David contra a Globolias.

kkkk coloquem em manchete kkk. Os golpistas perderam toda a noção da realidade.

Roberto Moraes disse...

Podem comentar nos veículos do golpe Globo e Veja, a leitura dos midiotas.

A disputa o bloguinho do David contra a Globolias.

kkkk coloquem em manchete kkk. Os golpistas perderam toda a noção da realidade.