quinta-feira, agosto 03, 2017

Em junho Brasil importou 702 mil barris por dia de derivados e exportou 1,4 milhão de barris por dia de petróleo cru, enquanto nossas refinarias têm 30% de capacidade ociosa

Os dados são de assombrar. O desmonte e a desintegração de nossa cadeia produtiva do setor de petróleo continua espantando grande parte do mundo. Não conseguem explicação de como um estado-nação pode deixar isto acontecer à luz do dia.

Desde maio o blog vem alertando para este inversão inaceitável das relações do Brasil e da Petrobras dentro da cadeia produtiva do petróleo. (veja aquiaqui e aqui)

Segundo os dados oficiais da ANP no primeiro semestre de 2017, o refino de petróleo no Brasil reduziu 7,9%. Assim, em junho as refinarias brasileiras alcançaram o patamar de 70% da atual capacidade instalada de 2,397 milhões de barris por dia.

Em junho, apenas 1,710 milhões de barris foram processados, deixando uma capacidade ociosa de 687 mil barris por dia (bpd). Quanto mais ociosidade se trabalha, maior tende a ser os custos com o processamento nas refinarias, que já sofrem por ter que disputar com instalações tecnologicamente mais avançadas.

De outro lado, o Brasil não para de aumentar as importações de derivados, desde diesel e gasolina até outros como nafta, lubrificantes, querosene, asfalto, coques, etc.  Em junho, as importações de derivados alcançaram 702 mil barris por dia (bpd), valor quase equivalente aos 687 mil barris por dia importados. Deste total, em torno de 200 mil bpd é de diesel e 100 mil bpd de gasolina e os 400 mil bpd de outros derivados.

Ainda analisando a relação entre o aumento entre importação de petróleo refinado (combustíveis) e a ampliação da capacidade de nossas refinarias, chama a atenção que o Brasil esteja aumentando a exportação de óleo cru.

No 1º semestre 2016, o Brasil exportou 220,7 milhões de barris de petróleo, o que equivale a uma média de exportação de 1,1 milhão de barris por dia de óleo cru. Só em junho este valor atingiu a 43,361 milhões de barris, o que equivale a uma média de exportação de 1,445 milhão de barris por dia de óleo cru. Sabe-se que há diferenças entre os diversos tipos de petróleo (leve e pesado) produzido internamente e as instalações em nossas refinarias, mas isto não explica toda esta proporção.

Assim, aos poucos, o Brasil vai se tornando uma Nigéria ou Angola, deixando de agregar valor com processamento industrial e concentrando no setor extrativo-exportador, exatamente no setor, onde o país guardava tanta esperança para contribuir para o desenvolvimento social de sua população.

Abaixo replicamos o esquema gráfico da desintegração do setor de petróleo no país que já explicitamos em outros textos. O desmonte nacional do setor acontece junto de um processo de re-verticalização global feitas pelas grandes corporações globais, onde atuam de forma articulada as petroleiras, as tradings e os fundos financeiros.

Não isso não é por acaso. É o mercado definindo o papel que determinou para o Brasil, mesmo com a condição do país ter se tornado uma importante fronteira de exploração de petróleo com a descoberta e o início da produção do pré-sal, que hoje já concentra a maior parte da produção de óleo/gás do Brasil.

   Fonte: Tese de doutorado do blogueiro (p.222) cujo título é "A relação transescalar e multidimensional "Petróleo-Porto"    
   como produtora de novas territorialidades", defendida em 9 de março 2017, no PPFH-UERJ.

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