segunda-feira, dezembro 03, 2018

Qatar anuncia saída da Opep em janeiro. O que está por trás da decisão?

A informação foi veiculada hoje aqui pelo jornal espanhol El País. [1]

A Opep vem perdendo o seu espaço na geopolítica da energia. Hoje a Opep controla apenas 1/3 da produção mundial. Porém, junto com a Rússia ela ainda tem peso.

Porém, interessa aos EUA essa fragmentação desses estados-nações que são fortes no setor petróleo desde a década de 40, quando da ocorrência do 1º Choque de Petróleo.

A pressão dos EUA por essa fragmentação é grande, ainda mais agora que os problemas do seu antigo aliado, a Arábia Saudita estão se ampliando com o reconhecimento mundial, daquilo que ao olhar do ocidente é uma ditadura, embora nunca se fale isso dos sauditas.

Vale ainda lembrar que o Qatar possui um fortíssimo fundo soberano originário da riqueza do petróleo, o QIA (Qatar Investment Authority) com ativos estimados em mais de US$ 300 bilhões.
O QIA criou uma espécie de sub-fundo controlado pelo holding founds que se chama Qatar Sports Investments (QSI), com sede em Doha, na Suíça. 

O QSI tem investimentos na área de eventos, esportes e lazer. O QSI é dono do clube de futebol francês, PSG que comprou o passe de Neymar por quase R$ 1 bilhão em 2017. Do campeonato francês e da televisão que transmite o campeonato para o mundo e está por trás da organização da Copa do Mundo do Qatar em 2022. [2]

O Qatar é muito forte na extração de gás natural e o maior exportador mundial sob a forma líquida (GNL - Gás Natural Liquefeito ou LNG) que dá mobilidade ao gás.

Também é oportuno recordar que o gás natural é considerado como o combustível da matriz de transição energética, porque polui menos que o óleo. Até o barateamento (relativo) das unidades de liquefação só poderiam se exportados por pipelines (gasodutos), mas agora são feitos por navios gaseiros (LNG) que ao chegar ao destino passam por unidades de regaseificação para retornarem à condição gasosa, usado como insumo de algumas indústrias e como fonte das usinas termelétricas (UTEs) para produzir energia elétrica.

Neste tipo de exportação de LNG o Qatar começa a ter como concorrente forte o próprio os EUA, a partir de sua base na Lousiania. No dia 21 ago. de 2018 o blog produziu uma postagem chamando a atenção que o Gás Natural é parte da guerra comercial dos EUA com a China. Aliás, a China também tem interesses na aliança com o Qatar e relações com essa decisão [3] [4].

O Qatar, ao contrário do Brasil sabe da onde vem a origem do seu capital que constitui o seu fundo e depois irriga outras frações do seu capital com instalações no próprio país ou no mundo.


Referências:
[1] Matéria do El País em 3 de dez. 2017. Catar anuncia sua saída da OPEP. País é alvo de boicote dos vizinhos Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Barein e Egito desde 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/03/economia/1543818620_154253.html?id_externo_rsoc=TW_BR_CM&fbclid=IwAR11J_tx6NBg5N1ZL4H4EuQZEU-ZiX5mvxMnevkhqegFTxwJc70Q12deR2s

[2] Sobre o assunto ver postagem do blog em 5 ago. 2017. Os fundos soberanos e o movimento do capital também na área de eventos: o caso da transferência de Neymar para o PSG. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/08/os-fundos-soberanos-e-o-movimento-do.html

[3] Postagem do blog em 21 de agosto de 2018. Gás natural é parte da guerra comercial EUA x China. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2018/08/gas-natural-e-parte-da-guerra-comercial.html

[4] Artigo deste autor publicado aqui neste blog em 11 jul. 2016 que aprofunda a análise da importância estratégica do GNL na geopolítica da energia. A ampliação do poder estratégico e geopolítico do Gás Natural (GNL) na matriz energética mundial. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/07/a-ampliacao-do-poder-estrategico-e.html

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