sábado, setembro 27, 2025

A profunda conexão da extrema-direita com o crime organizado no Brasil

Impressiona como vai ficando clara a profunda relação entre a extrema-direita, as milícias, a corrupção - com participação de agentes e frações do Estado e da segurança pública - e o crime organizado, em várias dimensões e escalas. Desde a base ao topo da pirâmide que envolve rede de empresas, mas em especial o circuito financeiro com atuação de pessoas e técnicos com grande experiência nesse mercado. E também não quer dizer que toda a extrema-direita estaria envolvida nos crimes, mas tá claro que parte dela se cruza com o PCC. O aprofundamento das investigações tem clareado as relações.
 
A forte e precisa ação do governo federal, PF, RF e do MPF têm sido impecável, em alguns casos com ajuda das polícias estaduais, em outros, com oposição delas e em especial dos governadores.


O passo seguinte e indispensável é a aprovação do projeto legislativo (PEC 18/2025) do governo federal para regulamentar o sistema único de segurança pública (SUSP). 

Até a mídia corporativa já passou a entender e defender a importância do projeto para se avançar no combate contra o crime organizado que lançou seus tentáculos sobre a economia legal, algumas igrejas e para a política partidária no legislativo, executivo e mesmo sobre frações do judiciário nos seus três níveis.

Os dados sobre as investigações e operações são impressionantes, não apenas sobre o volume de recursos e extensão das áreas de atuação, mas sobre a participação de diferentes agentes, em especial do alto circuito financeiro que incluem desde administradoras de fundos e das fintechs (bancos digitais e tecnológicos). Trata-se de conexões em muitos casos transnacionais que vão bem além de nossas fronteiras.
 
Lá atrás, em 2019, quando pesquisei e escrevi, o livro sobre "A 'indústria' dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo", eu já chamava a atenção sobre os recursos que circulavam no esquema paralelo, mundialmente conhecido como "shadow bank" (banco sombra). 

Além disso, já era possível perceber o quanto era difícil e opaco acompanhar os movimentos de alguns destes fundos financeiros. Sabia-se, com alguma facilidade, onde os fundos investiam (a divulgação atraía mais investidores e, assim, ampliava o processo de capitalização), mas não se sabia a origem e os proprietários destes dinheiros.

Pois bem, essas investigações indicam algumas destas pontas de novelo que estavam encobertas.
 
Evidentemente, não quer dizer que todo o setor financeiro estaria metido nesses esquemas, mas seria estranho que no Brasil, o crime organizado não estivesse presente entre as gestoras de fundos financeiros que agora em 2025, já administram ativos da ordem de R$ 10,4 trilhões (referência do dia 23/09/2025), segundo dados recentes da Anbima, associação privada que acompanha o mercado de capitais.


PS.: Anexo. Infográfico sobre áreas de atuação internacional do crime organizado na leitura da Fundação Heinrich Böll do Brasil que analisa também as formas de crime e os setores atingidos ligados à produção de carbono com reflexos sobre o clima no Brasil. Veja aqui, uma postagem dessa fundação com o título "A última fronteira: O crime organizado transnacional e a luta contra as mudanças climáticas".

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