quinta-feira, julho 14, 2011

Os narradores do Açu

É isto que a velha mídia não compreende. Como com tão pouco recursos pessoas é possível produzir um documentário, conectar e fazer ligações entre as questões locais e globais. Riqueza e pobreza. Ameaças e oportunidades. O pequeno vídeo de 18 minutos foi feito por alunos do 7º período de Comunicação Social da Uniflu/Fafic, do professor de Narrativas e Linguagens Jornalísticas, Vitor Menezes. Ele chegou ao blog através de e-mail como acontece com a maioria das informações e questionamentos que a população deseja que seja compartilhada e debatida de uma forma mais ampla, do que se dispõe a fazer a velha mídia, com seus interesses de intermediação comercial, e não com objetivo divulgado aos trouxas que acreditam que em sua informação. O webdoc, como é tecnicamente chamada esta produção, mistura a realidade local com a entrevista do empresário Eike Batista, ao programa Manhattan Connection da Globo News. O blog não é contra a instalação do empreendimento no Açu. Como já escreveu diversas vezes aqui nestes espaço, vê nele, ameaças e oportunidades, porém, defende que o debate aberto sobre os problemas sejam enfrentados de frente. Que haja regulação por parte dos poderes constituídos e espaço para discussão com a comunidade sobre o processo de implantação do empreendimento. Este debate é necessário e este blog, contribuirá como já vem fazndo, para ampliar o quanto puder as possibilidades de que ele efetivamente aconteça. Vejam o vídeo abaixo, tirem as suas conclusões e participe do debate. O título faz relação com o filme "Os narradores de Javé" de 2004 que conta uma história de exclusão no sertão nordestino. A montagem com o programa da Globo News contextualiza a questão estimulando o debate:

19 comentários:

denis disse...

Parabéns aos responsáveis pelo documentário, realidade nua e crua, comparações pontuais, muito bom mesmo. O nosso país precisa de uma imprensa livre assim para dar um choque de realidade, ao menos o youtube o governo não controla.

Blog "O Vagalume" disse...

Em primeiro lugar temos que parabenizar os alunos e o Prof. Vítor Menezes pelo excelente trabalho.
Em segundo lugar gostaria de registrar que existem várias forças e interesses envolvidos e nesse caso parece estar valendo a lei do mais forte.
Será que vivemos num Estado Democrático de Direito?

Ana Paula disse...

Estou orgulhosa de ter feito parte da reportagem do documentário. Foi, como vc disse, um produção sem custos, mas que esperamos ser visto e ouvido por quem desconhece as historias desses moradores, que cultivaram toda uma vida nesse pequeno espaço, onde moram... ou moravam.

Ana Paula disse...

Estou orgulhosa de ter feito parte dessa reportageM, como vc disse, de baixo custo, mas esperamos que as pessoas que ainda nao conhecem a vida desses moradores, vejam o sofrimento de alguém que viveu toda uma historia naquele local.

Vania Cruz disse...

Parabéns a esses jovens quase jornalistas que foram buscar a realidade que consome a vida num debate justo porém, "cruel" com o homem da terra.Emocionantes depoimentos contextualizados com o progresso que não perdoa.É fato.

Priscilla Alves disse...

Tentamos passar a realidade como é, contada através desses agricultores. Desejo que todos que assistirem esse webdoc se sensibilizem assim como nós.

Bianca Alonso disse...

Agradeço em nome de toda equipe pelos elogios. Nosso objetivo é mostrar a história de outro ângulo e ela é contada pelos personagens principais: os moradores que cresceram e criaram filhos e netos naquele lugar. Eles falam de sentimento, amor pela terra em que vivem, amor pela raiz histórica quem vem de gerações!

Anônimo disse...

Um ponto de vista interessante! Louvável a atitude de deixar esses coitados se expressarem. Bem elaborado o documentário. Porem deveria ter buscado mais fatos, para não expor afirmações questionáveis e duvidosas. Como por exemplo quando uma senhora diz que estão apanhando as terras de graça! ora, todos estao sendo indenizados, como vivemos em um pais burrocratico, alguns processos demoram, mas sem sombra de duvidas todos receberam e muito bem, pelas propriedades. E aqueles que por ventura não venham receber, nao sao donos de absolutamente nada, sao vagabundos, que se apoderaram de lotes no passado, e ninguem os tirou ate agora.

Ou entao como relata o cidadao Rodrigo Gomes, dizendo ali nao tem posseiros? Nao mesmo? Eu digo que tem sim!

Bom o documentario, so acho que deveriam poupar esses coitados de servirem como massa de manobra para politicagem.

Carlinhos

AngelMira disse...

Caro Carlinhos:
Vc diz que eles estão sendo indenizados. Então pergunto: será que esse é o cerne do debate?
Será que essa indenização é suficiente para representar o interesse público sobre o privado, quando o interesse dessa população é preterido?
Creio que retratar esse impasse e essa realidade, não chega nem perto de "massa de manobra da politicagem", como o sr. afirma.

Anônimo disse...

Sempre aparece um desagradável puxa saco de alguns politicozinhos com o mesmo discurso arrogante e que se acha no direito de questionar qualquer que seja o depoimento.
Mas ainda bem que esse tipo de gente é minoria.
Acredito que os responsáveis pelo documentário puderam ver quem fala a verdade nessa história e por tanto montaram muito bem o documentário, estão de parabéns por mostrarem a realidade com a alma e não com interesses financeiros de baixo nível.
Sr. Carlinhos, o senhor tem a lista com a quantidade de pessoas que venderam e receberam? DE 10 a 15 pessoas com alguma ligação política com o atual governo receberam e ai vem você pra cá dizer que vivemos em um país burocrático, deve ser mais um demagogo do governo!
Conheça a realidade, como esses alunos conheceram e não se leve por coisas pequenas como está levando, não deve ter propriedades lá ne? Se tivesse não estaria escrevendo o que escreveu!

Sampaio disse...

ÉH!! COMO SE FOSSE FACIL FALAR E FAZER, COMO DISSE O AGRICULTOR DO AÇU PARA ELES O DINHEIRO NÃO É SÓ O QUE IMPORTA, PARA TODOS ELES ALI FICA O MAIOR VINCULO DAS SUAS VIDAS, COMO COSTUMES, PARENTESCOS E AFINIDDADE E MODO DE VIDA, ALI SE ENCONTRA OS AMIGOS, FAMILIARES E DESCENDENTES. OS VALORES IMOBILIARIOS PARA ELES MUITAS VEZES NÃO VALE ARRISCAR SAIR DE UM LOCAL QUE JÁ CONHECEM PARA AVENTURAR EM OUTRA FORMA DE VIDA TOTALMENTE DIFERENTE DA QUAL PASSARAM A VIDA TODA, COMO FALAR PARA AQUELE PRODUTOR QUE DISSE ¨O QUE EU VOU FAZER DA VIDA SE ME TIRAREM DAQUI¨, REALMENTE VÃO TIRA-LO DA SUA TERRA E VÃO DAR- LHE DINHEIRO, E DEPOIS O QUE ELE VAI FAZER, O DINHEIRO NÃO COMPRA OUTRA TERRA PRÓXIMA DE ONDE ELE VIVE E VIVEU A VIDA TODA, ELE VAI PARAR DE PRODUZIR, E VAI POR MUITAS VEZES DELAPIDAR TODO O DINHEIRO RECEBIDO, FICANDO EM UMA SITUAÇÃO COMPLICADA, A PREFEITA CARLA MACHADO, DEVERIA OLHAR DE UMA FORMA ESPECIAL PARA OS AGRICULTORES DO AÇU E NÃO OLHAR SOMENTE O LADO DOS INVESTIMENTOS DA LLX.

Leticia Bucker disse...

Eu estou em um momento de êxtase, feliz por estarmos causando discussões e um pouco frustrada de saber que existem pessoas que não consideram as histórias que foram protagonizadas ali. Não existe indenização que possa sobrepor a relação que cada agricultor tem com a terra...Como Seu Antônio comentou, "se você pega um passarinho que cresceu preso e solta ele morre. Se você pega um passarinho que cresceu solto e prende, ele morre.

vera lucia disse...

Após um final de um dia de trabalho árduo ao sentir o suor cair em seu rosto, dona Maria ou seu José já mais imaginou que um dia este mesmo suor se transformaria em lagrimas. Eles não entendem porque expulsão dos seus aconchegos sem a menor explicação. É realmente isso é Brasil. Vera Lucia Açu sjb.

Anônimo disse...

Bacana o documentario... Discussao desnecessaria essa! Sao pontos de vista diferentes...
No fim todos tem a sua razão, tem alguns utopicos que defende as minorias...
Outros o poder economico... RUIM COM O EIKE? PIOR SEM ELE!...
E no fim nao se chega a conclusao nenhuma...

Anônimo disse...

Ratificando o meu ultimo Post, para nao parecer que fico em cima do muro...
Quando o Carlinhos diz que ali existe posseiros, tambem acredito que sim, afinal trata-se de um povo que praticamente vive de subsistencia...E nao creio que a maioria tenha algum documento, que comprove propriedade de fato ...
E quando digo utópico, porque realmente é triste a situaçao de muitas pessoas nao só no Açu, mas por todo o mundo... E isso nunca irá acabar... Alguns tentam ajudar, encaminhar, e no fim sempre existira essas situaçoes...
Ambos estao certos, e errados ao mesmo tempo!
Sempre que alguem subir outro tera que cair...
O documentario retrata bem uma realidade, seguindo um ponto de vista! Parabens aos autores por isso...

Paula

Allan Rodrigues disse...

Como podemos ajudar? vamos ajudarr: movimento saim das nossas terras sangue-sugas.

Ana Paula disse...

Caro 1º Anônimo: somos alunos de uma falculdade, não fazemos parte de grupos politicos e muito menos estamos utilizando essas pessoas como massa de monobra.
Caso vc já tenha ido no local, deve ter percebido que não há vagabundos naquela terra, apenas trabalhadores, que trabalham mto para terem o que comer.
e caso vc tivesse alma, se colocaria no lugar deles, para ter uma noçao de como eles devem está se sentindo com essa situação.
Como foi exposto no doc, imagine se entrassem na sua casa e dizessem que ela não é mais sua, e que vão te colocar do outro lado do mundo, longe de sua familia e amigos, de emprego garantido.... mas que um dia irão te pagar um dinheiro.. SE É QUE VÃO PAGAR ALGUMA COISA.

Você aceitaria?

Anônimo disse...

Roberto,

O documentário é excelente e dá voz aos excluídos, o eixo de discussão postado nos comentários sobre documentos é ridículo, pois de que adianta ter documentos? Se mesmo os que possuem serão obrigados a deixar a terra? Ah a indenização, tá mas a pergunta é outra? Eles querem vender? Não adianta querer pular esta etapa que é a mais importante do debate, afinal nem todo mundo tem um preço? A mídia tradicional supri o debate do documentário, e coloca a situação como se fosse apenas questão de dinheiro.

Anônimo disse...

Roberto,

Concluindo o post acima, quando vi o documentário lembrei-me da famosa carta do índio seattle ao presidente dos EUA, falando sobre a questão da terra, creio que o sentimento do cacique seja o mesmo da população de SJB. Abaixo uma parte da carta:

"Como podeis comprar ou vender o céu, a tepidez do chão? A idéia não tem sentido para nós. Se não possuímos o frescor do ar ou o brilho da água, como podeis querer comprá-los? Qualquer parte desta terra é sagrada para meu povo. Qualquer folha de pinheiro, qualquer praia, a neblina dos bosques sombrios, o brilhante e zumbidor inseto, tudo é sagrado na memória e na experiência de meu povo. A seiva que percorre o interior das árvores leva em si as memórias do homem vermelho. (...)

Assim, quando o grande chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossas terras, ele está pedindo muito de nós. O grande Chefe manda dizer que nos reservará um sítio onde possamos viver confortavelmente por nós mesmos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Se é assim, vamos considerar a sua proposta sobre a compra de nossa terra. Mas tal compra não será fácil, já que esta terra é sagrada para nós. (...)

Nós mesmos sabemos que o homem branco não entende nosso modo de ser. Para ele um pedaço de terra não se distingue de outro qualquer, pois é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo de que precisa. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, depois que a submete a si, que a conquista, ele vai embora, à procura de outro lugar. Deixa atrás de si a sepultura de seus pais e não se importa. A cova de seus pais é a herança de seus filhos, ele os esquece. Trata a sua mãe, a terra, e seus irmãos, o céu como coisas a serrem comprados ou roubados, como se fossem peles de carneiro ou brilhantes contas sem valor. Seu apetite vai exaurir a terra, deixando atrás de si só desertos. Isso eu não compreendo. Nosso modo de ser é completamente diferente do vosso. A visão de vossas cidades faz doer aos olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e como tal, nada possa compreender.

Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera, o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem e não possa compreender.

O barulho serve apenas para insultar os ouvidos. E que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à margem dos charcos à noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfrolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do meio-dia ou aromatizada pelo perfume dos pinhos. (...)

Se vendermos nossa terra a vós, deveis conservá-la à parte, como sagrada, como um lugar onde mesmo um homem branco possa ir sorver a brisa aromatizada pelas flores dos bosques. (...)

Que será dos homens sem os animais? Se todos os animais desaparecem, o homem morreria de solidão espiritual. Porque tudo isso pode cada vez mais afetar os homens. Tudo está encaminhado. (...)

Nós o veremos. De uma coisa sabemos, é que talvez o homem branco venha a descobrir um dia: Nosso Deus é o mesmo deus. Podeis pensar hoje que somente vós o possuis, como desejais possuir a terra, mas não podeis. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual tanto para o homem branco, quanto para o homem vermelho. (...)

Mas no nosso parecer, brilhareis alto, iluminado pela força do Deus que vos trouxe a esta terra e por algum favor especial vos outorgou domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos como será no dia em que o último búfalo for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão das brilhantes colinas bloqueada por fios falantes. Onde está o matagal? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. O fim do viver e o início do sobreviver."

Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/cartaindio.htm