sexta-feira, janeiro 20, 2012

Do Estadão

O Dênis Toledo lá do Açu encaminhou ao blog a reportagem do jornal Estado de São Paulo:

“Defensoria vê falhas em obra de Eike Batista”

“Representantes do Conselho de Direitos Humanos vistoriam construção do porto do Açu e constatam arbitrariedades contra população da área

SERGIO TORRES , ENVIADO ESPECIAL , SÃO JOÃO DA BARRA - O Estado de S.Paulo

Em vistoria feita de surpresa nos dois últimos dias em São João da Barra (norte fluminense), representantes do Conselho de Direitos Humanos do Estado do Rio constataram a prática de arbitrariedades contra a população da área desapropriada para a construção do porto do Açu, empreendimento do megaempresário Eike Batista.

A presidente do conselho, Andréa Sepúlveda, disse ontem que os proprietários rurais são pressionadas a deixar suas terras com rapidez e por remuneração inferior aos preços de mercado.

Defensora pública, Andréa percorreu a região acompanhada de dirigentes da Pastoral da Terra e da Associação de Proprietários Rurais e de Imóveis do Município de São João da Barra. Ela chegou a se reunir com cerca de 50 ruralistas em uma propriedade batizada de "casa da resistência", onde integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) instalaram-se em dois barracões. "Os moradores gostariam de negociar melhor as indenizações. Há pressão, assédio moral. O projeto todo de ocupação da terra deveria ter sido discutido antes com a população", afirmou ela.

Ao ser informado no Rio da presença de integrantes do conselho - vinculado à Secretaria Estadual de Direitos Humanos, mas com autonomia de atuação - em São João da Barra, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Júlio Bueno, disse que gostaria de ter sido procurado antes. "Estranho muito que o conselho não tenha vindo me perguntar em primeiro lugar. O ato de força da desapropriação nunca é agradável, é imperial, mas é um ato da democracia brasileira. Ele se dá pelo pagamento da propriedade. O objetivo é o bem coletivo. É muito mais importante fazer aço do que plantar maxixe, com todo respeito a quem planta maxixe", afirmou ele, em referência à futura instalação de uma siderúrgica do grupo ítalo-argentino Ternium no parque industrial do Açu.

Pelos números divulgados pela Companhia de Desenvolvimento Estado do Rio (Codin), responsável pelas desapropriações, a primeira fase delas, em área de 23 quilômetros quadrados, incluiu 151 propriedades rurais, das quais apenas 16 usadas como moradia. As 16 famílias foram indenizadas e reassentadas em uma vila construída nas imediações do porto do Açu. O preço médio do hectare pago foi de R$ 100 mil. Em 2005, antes do projeto, o hectare valia R$ 14,6 mil. Os preços foram estabelecidos de acordo com as diretrizes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para propriedades rurais.

Rodrigo Santos, vice-presidente da associação de moradores, reclama que o número de moradores indenizado é pequeno. Segundo ele, há cerca de 850 famílias na área desapropriada, que deveriam ser indenizadas com valores dez vezes superior ao que vem sendo pago. "Reconheço 16 famílias. O resto são invasores. Espero ser convidado para a reunião do conselho (hoje no Rio, às 14h). No meu entender, isso é marola. A inteligência é finita, a burrice, infinita. Dizer que são 850 famílias é uma piada", reagiu o secretário Bueno.”

Um comentário:

Anônimo disse...

O infeliz comentário do Secretário bem que poderia ter sido omitido.

O despreparado considera ser mais importante fazer aço do que plantar alimentos.

Não consigo vislumbrar "interesse público" em um investimento privado que tem como único objetivo obter lucro.

Será que se eu resolver colocar uma empresa de limpeza no centro de uma cidade o Estado desapropriará o espaço e me presenteará, em troca dos empregos que fornecerei?

Todos sabemos que o empreendimento de Eike Batista servirá principalmente para aumentar a concentração de renda.
Concentração essa que o Brasil diz querer combater.

No futuro teremos um dos homens mais ricos do mundo ou o homem mais rico do mundo, e muitos milhões de mais pobres e mais miseráveis do mundo.

A quem interessa essa concentração de renda?

Por que Eike Batista, sendo o homem mais rico do Brasil, tem que receber favores e doações estatais para seu lucrativo empreendimento?

Por que outros empresários que investem aqui, dão emprego e concentram muito menos reda que Eike Batista, não têm direito ao mesmo favor estatal?

Por que o investimento visando lucro que Eike Batista faz tem tratamento tão diferente dos demais?

Nascimento Jr
nascimento.jr@bol.com.br