quarta-feira, janeiro 14, 2015

Visão estratégica é necessária na tomada de decisão a partir dos atuais baixos preços do petróleo

A matéria abaixo é do Wall Street Journal (WSJ) na edição de hoje. Ela levanta pontos interessantes sobre o tempo de pesquisa, início e custo de pesquisa e produção do gás de xisto e das reservas offshore e, especialmente, mostra a repetição de similar situação há três décadas.

Interessante aqui relembrar que há trinta anos atrás a exploração na Bacia de Campos estava ainda no início. Na ocasião com a redução do preço do barril no mercado internacional, a um custo inferior ao da produção inicial na Bacia de Campos, muitos defenderam a interrupção da exploração offshore, considerando-a um desperdício, ao observar a situação conjuntural, sem levar em conta uma visão estratégica e geopolítica. Mais adiante a situação política mundial fez o petróleo aumentar de preço enormemente, ao mesmo tempo em que o custos de produção em nosso litoral foi se reduzindo com a expertise adquirida. Essa visão histórica precisa estar presente na análise do momento atual.

A reportagem do Wall Street Journal peca apenas em considerar toda a questão como um problema de "mercado" sem levar em conta a geopolítica envolvida, assim como a "nova guerra fria" onde os EUA mira na estratégia dos baixos preços junto com a Arábia Saudita.

O primeiro aposta numa crise que embarace e até derrube Putin na Rússia e de quebra também a Venezuela, enquanto o segundo (Arábia) atinge seu inimigo mortal, o Irã.

Os beneficiados com os preços baixos são além dos países europeus que são produtores e não produzem um gota de óleo, e de forma especial, a China, maior importadora mundial e também a Índia. Assim, parece que o alvo pode não ser atingido já que com a crise russa, a China se aproximou ainda mais do Putin.

Enfim, é interessante acompanhar essa movimentação para ver até onde vai. Vale ainda conhecer que antes da Petrobras ser atingida, há outras petrolíferas gigantes como mostra o infográfico que colocamos ao final desta matéria de hoje, que também é do Wall Street Journal, do dia 10 de dezembro de 2014, numa matéria cujo título é: "Petróleo barato coloca megaprojetos na berlinda". Os grifos na reportagem abaixo do WSJ de hoje são do blog e visam chamar a atenção para alguns pontos:

"Colapso no preço do petróleo lembra os anos 80, com uma diferença: o xisto"
Russel Gold

"Uma enorme onda de oferta de petróleo produzido fora do Oriente Médio inundou o mercado mundial. Mas a sede global pelo combustível não acompanhou. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo ficou às margens, observando enquanto os preços desabavam.

Bem-vindo ao novo mundo do petróleo de 2015 — uma repetição surpreendente da história de 30 anos atrás. Entre novembro de 1985 e março de 1986, o preço do petróleo bruto caiu 67%. Entre junho de 2014 e hoje, os preços caíram 57% e ainda podem recuar ainda mais.

Depois do colapso de meados dos anos 80, demorou quase duas décadas para que os preços do petróleo voltassem a subir para os níveis anteriores à queda e permanecessem em alta. Hoje, uma pergunta aterroriza os executivos do setor: Vai demorar tanto tempo dessa vez?

A resposta talvez esteja em uma enorme diferença entre hoje e 30 anos atrás: a velocidade do xisto.

Antes de as empresas de petróleo dos Estados Unidos terem descoberto como extrair petróleo das formações de xisto, os projetos petrolíferos frequentemente demoravam anos para serem executados. Vinte anos se passaram entre o momento em que um pescador encontrou uma mancha escura nas águas da costa do México e que o petróleo começou a jorrar no gigantesco projeto Cantarell na península de Yucatan. Foram necessários nove anos e bilhões de dólares para levar o petróleo bruto do norte do Alasca aos mercados globais.

Hoje, o descobrimento e a exploração de petróleo de rochas de xisto significam que a produção é mais rápida e está mais próxima do mercado americano — no Texas, Dakota do Norte, Colorado, Oklahoma, Wyoming e até Ohio. Perfurar e fraturar rochas hidraulicamente demora semanas, não anos. Um poço caro sai por US$ 10 milhões, comparado com os bilhões exigidos para perfurar no oceano e construir a infraestrutura necessária. Além disso, os investimentos, tanto em tempo quanto em dinheiro, estão minguando rapidamente.

O ciclo de investimento em um campo de petróleo encolheu. Exploradores descobriram a formação de xisto de Eagle Ford, no Texas, em 2008. Em cinco anos, ela passou a produzir um milhão de barris por dia — graças ao fluxo abundante de capital que pagou pela exploração de outros milhares de novos poços. Os poços de xisto secam rápido e, para que os campos continuem produzindo, são necessárias perfurações constantes.

A produção de petróleo de xisto, que permite uma reação rápida, pode ajudar a reduzir a oferta de forma mais acelerada que no passado, devolvendo o equilíbrio ao mercado sem que seja necessário esperar por anos. Tanto petróleo novo disponível em poços de xisto fáceis de explorar também pode tornar as altas de preço menos frequentes.

Mas isso não significa que os preços vão se recuperar em breve ou voltar para o nível de três dígitos visto meses atrás. A pressão nos preços pode ser necessária por mais alguns meses no setor do petróleo dos EUA e seus financiadores para controlar a oferta.

O Goldman Sachs Group Inc. informou na segunda-feira que prevê uma recuperação “em forma de U”, com preços deprimidos até que o mercado se reequilibre e eles voltem a subir em 2016. O banco acrescentou que espera um preço médio para o petróleo bruto em 2015 de US$ 47,15 por barril, bem abaixo da previsão anterior de US$ 73,75.

Para a indústria, um ano de preços baixos não se compara com uma década inteira. Mas não é difícil de prever o que acontecerá: O boom de petróleo de xisto tem apenas cinco anos — e enfrenta sua primeira crise. “Ninguém sabe quais seriam as consequências de um ‘teste de estresse’ na produção americana”, diz Leonardo Maugeri, acadêmico da Universidade Harvard que já foi um alto executivo da gigante petrolífera italiana Eni SpA.

Muitos economistas e analistas da indústria acreditam que os preços provavelmente se recuperarão até o fim do ano. O preço do barril de petróleo que é referência mundial, que fechou ontem em US$ 46,59, “deverá voltar ao patamar de US$ 70 e eu suspeito que se manterá aí por algum tempo”, diz Stephen P.A. Brown, economista de energia da Universidade de Nevada, em Las Vegas, e ex-economista da regional de Dallas do Federal Reserve, o banco central dos EUA.

Durante a última grande explosão de preços do petróleo provocada pela redução de oferta, a demanda permaneceu paralisada por vários anos, em parte graças a medidas de economia que os americanos adotaram depois do embargo árabe nos anos 70. O país adotou padrões de eficiência de consumo para os carros e o uso de petróleo para gerar eletricidade caiu em desuso.

Ao mesmo tempo, a produção de petróleo de países fora da Opep cresceu rapidamente. A produção no Mar do Norte explodiu assim como na China e em Omã. O México começou a exportar mais de 1 milhão de barris por dia em 1981 de seu complexo de Cantarell. Até o setor petrolífero americano começou a extrair mais petróleo de seus campos relativamente pequenos mas de custo elevado.

Assim, um excesso de oferta foi criado. No princípio, quando os preços começaram a cair, a Arábia Saudita tentou impulsionar as cotações reduzindo sua produção, que caiu de 10 milhões de barris por dia no início da década para 2,3 milhões de barris em agosto de 1985, segundo a Agência de Informação de Energia dos EUA. No fim daquele ano, cansados de perder mercado para os novos exportadores de petróleo, os sauditas jogaram a toalha e voltaram a produzir mais — assim como o resto da Opep.

Os preços mundiais entraram em queda livre, indo de cerca de U$ 30 por barril em novembro de 1985 para quase US$ 10 em julho de 1986. O setor americano praticamente fechou as portas. No fim de 1985, havia cerca de 2.300 poços sendo explorados. Um ano depois havia perto de 1 mil.

Os preços voltaram a subir alguns anos depois, impulsionados pela invasão do Kuait em 1990. Mas a alta não durou muito, terminando em 1991 quando a Operação Tempestade no Deserto expulsou as tropas iraquianas do Kuait e os incêndios provocados pelos invasores em retirada foram apagados. Depois, os preços se mantiveram baixos, entre US$ 15 e US$ 25, até o fim daquela década.

A oferta voltou a buscar o equilíbrio, com a demanda retomando o crescimento só a partir de 2000. O crescimento econômico global, especialmente na Ásia, elevou a demanda pelo petróleo bruto à medida que a classe média chinesa começava a dirigir carros. A importação de petróleo da China, que era virtualmente zero em 1985, tem crescido de maneira estável desde então. Ontem, as importações chinesas atingiram um novo recorde, de cerca de sete milhões de barris por dia. Os preços subiram muito em 2008 e depois caíram com a crise econômica e a recessão. Mas a queda de preço foi breve e se recuperou rapidamente.

Hoje, a demanda por petróleo bruto está crescendo, embora lentamente, em todo o mundo. A saúde da economia global e o apetite chinês por combustíveis terão um impacto significativo nos preços do petróleo bruto nos EUA e no mundo. Um evento externo — uma guerra ou conflito civil em um país grande produtor de petróleo — pode elevar os preços novamente.

Como no passado, a Arábia Saudita está apostando que os preços baixos forçarão os outros produtores a reduzir a exploração. Os preços em queda irão afetar a produção americana, mas talvez menos do que a Opep esperava. O custo de produção de petróleo de xisto — especialmente nos novos campos americanos responsáveis pela grande explosão na produção — está caindo.

Desde que os preços do petróleo começaram a cair, muitas empresas reduziram planos de gastos de capital para 2015. Mas a produção continua subindo.

Mike Rothman, presidente da Cornerstone Analytics, diz que, como os custos de perfuração estão recuando, não está claro quando a produção de xisto nos EUA vai cair. “Quão rápida será a resposta do xisto para essa queda nos preços? Essa é uma pergunta sem resposta”, diz. “Com o xisto, estamos lidando com um cenário muito diferente.”


Um comentário:

douglas da mata disse...

Roberto,

Eu creio que o principal problema da matéria do WSJ é a própria fonte, ou seja, a voz do mercado sempre trará mensagens cifradas (e outras nem tanto) para justificar seus "contrabandos"...

Isto não quer dizer que haja muita coisa verdadeira ali, mas...

Sabemos todos que subidas e quedas no preço do óleo (assim como tudo que diz respeito ao "mercado") tem pouco ou nada a ver com oferta e demanda.

De fato, ainda que consideremos a crise e sua repressão na demanda mundial, somemos a isto as inovações que dotam motores a combustão de muito mais efeciência de geração de energia por unidade queimada, aliada ao fato do surgimentos dos combustíveis não-fósseis (apesar da atual inviabilidade econômica e a questão da segurança alimentar), o certo é que o custo do barril (produção) ainda é cerca de 15 dólares (média entre a extração off shore e on shore, e a de águas muito profundas).

Ou seja: a 100, 120 ou a 49, qualquer preço será sempre resultado de especulação.

Mas não só especulação, porque assim como a noção de "mercado", a especulação também não é um ente sobrenatural, exercida por "espíritos" ou ectoplasmas, mas por gente que lucra e que tem interesses políticos.

Não acredito em derrubada (deliberada) de Putin.

Os imbecis da Europa e EUA sabem (ou deveriam) que é melhor um problema mais ou menos previsível e estável que um outro louco descontrolado com arsenal atômico nas mãos.

Lembremos que mesmo que o preço do petróleo avilte alguns fundamentos macroeconômicos de países produtores extremamente dependentes deste cadeia produtiva (como Venezuela e Rússia), há uma benesse (propositalmente) não citada pelo texto.

Ora, como grandes exportadores, estes países tendem a sofrer com a valorização de suas moedas (que mata o resto da indústria) e a necessidade de preços altos acaba por influenciar os orçamentos públicos, utilizados para compensar a diferença da conta petróleo, ou seja, a bancar o preço doméstico dentro dos limites de competitividade das empresas e do bolso dos cidadãos e de toda cadeia produtiva do resto da economia, que não podem suportar o repasse do barril a mais de U$100.


Em outras palavras: A economia de países produtores, salvo o setor do petróleo, sofre e muito, com os preços altos, ainda mais nos países onde a riqueza deste setor não reverte para a maioria da população (sabemos bem o que é isto).

Vou dar um exemplo bem próximo:

A simples perspectiva de baixa do preço, um um horizonte de médio prazo, poderá trazer para o nível real uma série de preços da economia regional, desde imóveis até serviços, vide o caso do Macaé e Rio das Ostras.

Enfim, eu creio que este solavanco nos preços visa um alvo bem mais específico, ainda mais que as "forças do mercado" nunca estariam a favor de posições chinesas:

Fazer a "depuração" e tirar do jogo alguns players (como a Petrobras), forçar fusões e recuos, para abrir campo para a rearrumação da hegemonia das quatro irmãs na esperada recuperação da economia que se anuncia...

Este foi o meu chute...