quinta-feira, março 22, 2018

Parente favorece as tradings - de onde veio - do setor de petróleo e derivados com sua política de preços no país. Assim, a Vitol a maior do mundo, aumenta seus lucros e atuação no Brasil

Já comentei aqui em diversas postagens nos últimos dois anos sobre o papel das tradings suíças no comércio de petróleo e derivados do mundo. A Vitol atualmente comercializa mais de 7 milhões de barris por dia, mais que o dobro de toda a produção brasileira. Em 2015, no auge da fase de colapso de preços do barril de petróleo, o Vitol Group que nasceu na Holanda, obteve o maior lucro de toda a sua história. [1]

Ou seja, na fase de mais baixos preços, as tradings que ganham com a diferença entre o preço de compra e de venda da mercadoria, atuando como intermediários, ampliaram os seus lucros, por conta da instabilidade do mercado.

Isso não aconteceu só com a Vitol. O mesmo se deu com o Gunvor Group, Trafigura Group e também com a Glencore, sendo que esta última trading atua também no comércio de minério. Em comum todas têm as suas sedes  atualmente instaladas na Suíça, conhecido paraíso fiscal, para reduzir taxas de impostos a serem pagos aos governos.

As tradings hoje na efervescência da economia global e da baixa regulação dos estados nacionais são corporações que acumulam os maiores lucros se aproximando dos ganhos dos grandes bancos e das companhias de telecomunicações e acima até das players petroleiras. 

O mesmo que se dá com as tradings de comércio de combustíveis e minerais se dá com outras que atuam no campo do agronegócios como a Bunge, ADM, Cargil, Louis Dreyfus. As traders financiam os produtores, fornecem sementes e insumos, atuam na logística de transporte, nos terminais portuários e no comércio futuro que vincula a produção, amplia o poder de especulação e garante que terão a maior parte dos lucros com a produção em qualquer lugar do mundo. 

Todas estas tradings estão instaladas e possuem importantes bases no país e cresceram seus negócios após o golpe político que controla o governo após o impeachment.

No caso do comércio de petróleo e bruto e seus derivados vale observar os movimentos destas traders. A política adotada pela diretoria da Petrobras, encabeçada pelo Pedro Parente favorece enormemente aos ganhos destas tradings

Bom lembrar que o Parente veio da presidência de uma destas tradings, a Bunge, que atua no setor de agronegócios com altíssimo faturamento no Brasil e na América latina. 

Parente e sua diretoria que assumiu após o golpe político, ao decidir alterar a política de preços dos derivados, aumentando o preço do diesel, gasolina e gás de cozinha, de forma desproporcional aos preços internacionais, favoreceu este setor.

Desestruturou o setor de refino, reduzindo o percentual de utilização de 95% das refinarias instaladas no país para menos de 70%, ao mesmo tempo que passou a exportar mais óleo cru e importar mais derivados de petróleo, especialmente dos EUA. 

Estes movimentos levaram o país, a ter agora em 2018, quase 400 empresas atuando com importação de combustíveis, mas sempre vinculadas a estas grandes tradings, em especial, a Vitol. 

Assim, estas intermediárias (traders) passaram a ter lucros colossais com estas decisões da Petrobras. Elas ampliaram muito os ganhos com a exportação sem igual de óleo cru e simultaneamente com a importação record de derivados e combustíveis.

Assim, estas tradings também ampliaram o seu olhar e planejar novas atuações no Brasil. Estas são as razões básicas que explicam a informação veiculada em manchete de capa (e P.B1) do Valor, na última terça-feira (20/03/2018), com o título "Alesat negocia venda de seus postos à Vitol, da Holanda". [2]

A trading Vitol observando os ganhos atuais proporcionados pela atual direção da Petrobras querem avançar não apenas para o comércio, exportação de óleo cru e importação de combustíveis, mas também com a distribuição através de uma rede de postos como é a da rede Ale, a quarta maior distribuidora de combustíveis do Brasil, com faturamento anual de R$ 12,5 bilhões. 

Por trás destes negócios estão grandes bancos do país como Itaú e Safra, assim como grandes bancos estrangeiros como BNP Paribas e BBA. Fato que demonstra o volume de recursos e interesses envolvidos neste tipo de negócio que ampliou enormemente os seus ganhos, com a redução do peso no setor da Petrobras e como consequência de sua mudanças nas políticas de preços. 

Estas alterações trouxeram problemas para a Petrobras vista de forma integrada (em toda a cadeia do poço ao posto) e vem favorecendo enormemente as tradings, assim como as petroleiras estrangeiras, que possuem refinarias no exterior, empresas de importação de combustíveis e rede de postos no Brasil, como por exemplo a Shell e Esso que também aumentaram muito os seus faturamentos. 

É oportuno ainda lembrar que a a Vitol é um dos três grupos interessados na BR Distribuidora em assunto que já foi discutido em reuniões do Conselho de Administração (CA) da Petrobras, desde 2016. Vide aqui postagem do blog em 23 jul. 2016: "A venda da BR Distribuidora. Trading suíça Vitol é um dos 3 grupos interessados. O que significa?" [3]. Veja esta outra postagem em 8 ago. 2016: Petrobras confirma avaliação e preocupação do blog com a venda da BR para a Vitol Group. [4]

Parente conhece bem as tradings a quem há muito tempo presta serviços e atende a interesses e certamente sabia bem o que estava fazendo ao decidir sobre esta nova política de preços dos combustíveis no Brasil que penaliza a população e favorece enormemente a estas tradings

Não é difícil investigar além desta, outras relações decorrente destas inciativas. Estes movimentos também envolvem os fundos financeiros que hoje estão como acionistas e controladores de diversas corporações e assim, são instrumentos para o movimento destas frações do capital sobre o setor petróleo no Brasil. Adiante voltarei ao tema dos fundos de investimentos e sua forma de atuação no Brasil pós-golpe político e controle do atual governo.


Referências:
[1] Postagem no Blog do Roberto Moraes em 10 de abril de 2016. Especulação e lucro com petróleo. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/04/especulacao-e-lucro-com-petroleo.html

[2] FILGUEIRAS, Maria Luíza. Matéria do Valor em 20 mar. 2018, capa e P. B1. Alesat negocia venda de seus postos à Vitol, da Holanda". Disponível aqui: http://www.valor.com.br/empresas/5395649/alesat-negocia-venda-de-seus-postos-vitol-da-holanda. Desdobramento da reportagem: Grupo holandês Vitol negocia compra da distribuidora Alesat. Disponível aqui: http://www.valor.com.br/empresas/5395521/grupo-holandes-vitol-negocia-compra-da-distribuidora-alesat

[3] Postagem no Blog do Roberto Moraes em 23 de julho de 2016. A venda da BR Distribuidora. Trading suíça Vitol é um dos 3 grupos interessados. O que significa? Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/07/a-venda-da-br-distribuidora-trading.html

[4] Postagem no Blog do Roberto Moraes em 8 de ago. de 2016.  Disponível em: Petrobras confirma avaliação e preocupação do blog com a venda da BR para a Vitol Group. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/08/petrobras-confirma-avaliacao-e.html

PS.: Atualização às 23:32 de 23/03/2018: Para breves acréscimos no texto.

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