quinta-feira, fevereiro 21, 2019

Anúncio de 13 mil empregos com complexo de gás e UTE no Açu é irresponsável

A frase foi dita por um morador de São João da Barra município onde está localizado o Porto do Açu, diante da fala do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, quando o mesmo assinou, na segunda-feira (18/02), a autorização para o terminal portuário da Gás Natural Açu (GNA), onde será recebido o gás natural, sob a forma liquefeita para ser regaseificado, e assim atender ao funcionamento da usina termelétrica (UTE).

Já é muito conhecida essa esperteza de superestimar as expectativas de empregos diretos e indiretos de empreendimentos por parte tanto do empreendedor, quanto das autoridades responsáveis pelas autorizações e licenciamentos.  Hoje, esse velho artifício já é conhecido de parte mais expressiva da população que busca se inteirar mais sobre os assuntos e buscam informações sobre os projetos. 

É certo que essa especulação de número de empregos diretos e indiretos não sai só da cabeça do gestor público, mesmo quando divulgados por esses que sequer conhecem o projeto. A Prumo sabe e bem do que aqui está sendo questionado.  
Construção da UTE-1 no Porto do Açu

É também uma realidade que o projeto desse empreendimento que se trata de um complexo de gás natural (Hub) envolve não apenas o terminal portuário que teve a autorização concedida nesse ato pelo ministro, mas envolve ainda a construção no futuro de uma unidade de tratamento de gás, duas termelétricas e um ramal de gasoduto. Hoje, uma primeira UTE, GNA1 (1,3 GW) já está sendo construída pela Construtora Andrade Gutierrez e há previsão de construção de outra, GNA2 (1,7 GW).

Juntas, as duas UTEs possuirão uma capacidade total instalada de 3 GW, num projeto que prevê investimentos de R$ 8 bilhões até 2023. O projeto é um consórcio liderado pela Prumo Logística Global controladora do Porto do Açu, a BP e a Siemens com financiamento de R$ 1,76 do BNDES e garantia do banco alemão KfW.

Em 21 de dezembro de 2018 este blog fez uma extensa postagem falando sobre o projeto, seu financiamento e os significados da expansão dos projetos abrigados no Porto do Açu que pode ser lido aqui.

Ainda sobre o assunto de investimentos em UTEs à gás natural na região, no dia último dia 13 de fevereiro de 2019, o blog postou outro texto, sobre a UTE que o fundo Pátria e a Shell construirão em Macaé, quando também analisou as dinâmicas socioeconômicas regionais decorrentes dessa expansão da geração elétrica na região vinculadas ao acesso ao gás natural. Esse texto pode ser lido aqui.

Por tudo isso, e por estar acompanhando esses “grandes projetos de investimentos” (GPI) vinculado à relação petróleo-porto já há algum tempo, não é difícil de dizer que esses números de estimativas de empregos são extremamente fantasiosos e muito irresponsáveis.

Entre várias outras razões, porque mesmo que todos esses empreendimento sejam implantados, eles se darão em boa medida, de forma sequencial. Assim, eles não gerarão tantos empregos (ainda que incluindo os indiretos), e mesmo se considerado a época da construção, quando os empregos chegam a ter uma relação entre 5 e 10 veze maior quando comparado depois à demanda necessária para operação/manutenção das unidades.
Fila com 2 mil a 3 mil trabalhadores formada na rua
Nestor Rocha da Silva, Praia do Açu quando
do anúncio da construção da UTE-1.

Sendo assim, essa irresponsabilidade dos empreendedores/gestores amplia ainda mais os impactos sócio territoriais do empreendimento, em desfavor das comunidades locais e regionais.

A atração de pessoas que vêm atrás de empregos (que já estão chegando às dezenas diariamente), para além da necessidade real para a construção e operação das unidades, pressiona ainda mais a demanda por serviços públicos de transporte, saúde e segurança, em boa parte sob responsabilidade das prefeituras. E, mais que isso, reforça, sobretudo, a ideia de que a corporação enxerga esse território e as pessoas da região, apenas com algo a ser usado.

PS.: Atualizado às 12:48: Para incluir a foto da fila de 2 mil a 3 mil trabalhadores, formada em novembro de 2017, quando do anúncio da construção da UTE-1 pela Construtora Andrade Gutierrez.

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