domingo, junho 02, 2019

O escoamento da energia elétrica produzida nas UTEs da GNA no Porto do Açu demandará nova linha de transmissão de 500 KV e subestação (SE) na Baixada Campista: impactos e interesses

As informações que constam dessa postagem têm origem nos Estudos para Licitação da Expansão da Transmissão (Análise Técnica e Econômica de Alternativas) e no Detalhamento de Alternativa de Referência, para Escoamento do Potencial Termelétrico do ERJ e ES, feitos pela Empresa Pública de Energia (EPE), vinculada ao Ministério das Minas e Energia (MME). Ambos divulgados em julho de 2018.

São estudos extensos e com muitos dados técnicos e econômicos que fazem diversas análises sobre a interligação da produção da energia elétrica ao Sistema Integrado Nacional (SIN). Aqui será exposto apenas um breve resumo dos mesmos objetivando ampliar o conhecimento sobre o mesmo.

O volume de energia elétrica que será gerado pelas usinas termelétricas da Gás Natural Açu (GNA-I e II - além da previsão de outras unidades numa segunda etapa) demandarão novas linhas de transmissão e interligação ao Sistema Integrado Nacional (SIN).

Estas duas usinas termelétricas estão sendo instaladas junto ao Porto do Açu, controlado pela Prumo Logística Global S.A. e se utilizarão da interligação da UTE à subestação (SE) de Furnas em Campos, mas também de uma nova Linha de Transmissão (LT) de 500.000 volts - e não mais 345.000 volts - como a linha de transmissão que faz a integração com o primeiro ramal já construído pela Prumo e hoje de propriedade da GNA.

Essa nova linha de transmissão (LT) deverá ter um percurso, em parte paralelo à outra na direção a Rio Novo do Sul (ES) – 127 km de Campos - e Mutum (MG) – 246 km de Campos. Os acessos em direção ao Espírito Santo, ainda não estão claros para o autor desse blog, embora tenha obtido informações de proprietários rurais do município de São Francisco do Itabapoana, que foram contatados para negociações, indenizações e reservas de área.

Área projetada para subestação de 500 KV na Baixada Campista.
A subestação na Baixada Campista foi projetada para a área de Tocos, próximo a um conjunto habitacional e um aeródromo, localização também próxima a um sítio arqueológico e a áreas de processos minerários que incluem extração de argila, segundo os estudos. Veja ao lado a imagem da área delimitada para a subestação (SE-2) que consta dos estudos.

Os estudos informam ainda que não identificaram na área prevista para a subestação, assentamentos rurais, unidades de conservação, terras indígenas, territórios quilombolas e nem cavernas. O mesmo não se sabe em relação ao trajeto desenhado para as Linhas de Transmissão, considerando que a de 345 KV construída pela Prumo desde o Açu até Campos. Este trecho, como é conhecido, foi objeto de fortes impactos sociais que geraram processos judiciais, porque eles não se tratam de desapropriações, que só podem ser feitas pelo governo, mas sim de indenizações de empresas particulares pelo uso das áreas de terceiros.

Os estudos trabalham com três (3) alternativas de áreas, para as quais também estimaram os custos para a instalação da subestação em torno de R$ 3,20 por metro quadrado, o que daria um valor total para a área entre 300 mil m² e 350 mil m² prevista de cerca de R$ 1 milhão.

Os estudos além dos aspectos técnicos-econômicos levaram em consideração aquilo que os seus autores chamaram de “complexidade socioambiental, potenciais atrasos no processo de licenciamento ambiental e os custos e a complexidade fundiária” do trajeto para a LT.

Considerando as várias etapas até expansão em 2029, em toda a extensão dessa interligação da rede de energia elétrica, o custo total dos investimentos atinge o valor acumulado de cerca de R$ 4,3 bilhões, contemplando a instalação de 2.320 km de linhas de transmissão em 500 kV, três novas subestações de rede básica e 6.600 MVA em novas transformações.

Abaixo segue o mapa do Corredor para a LT 500 KV2 de Campos até Mutum-MG, passando pelo ES. O corredor foi previsto com largura de 10 km para possibilitar alternativas factíveis de traçado numa extensão de 230 km. O estudo diz que esse corredor possui boa acessibilidade em termos de rodovias (federais: BR-101; BR-262; BR-356; BR-482; estaduais: RJ, 158; 194; ES-181; ES-472; ES-484; ES-379 e MG-108) entre outras estradas vicinais. 


Mapa do projeto do corredor da LT de 500 KV do Açu (SJB); Campos; ES e MG.

Análise econômica-social-espacial-ambiental dessa rede de energia elétrica e suas implicações 
Em termos de análise no campo “espaço-economia”, esse tipo de empreendimento se trata do que chamamos de redes técnicas (linhas de transmissão de energia e telecomunicações, rodovias, ferrovias e dutos) que cortam e produzem o território, integra regiões, mas possui o foco corporativos em seus extremos. 

Pode-se ainda interpretar que essa rede técnica amplia a integração entre os circuitos espaciais da energia (petróleo e gás natural no caso como fonte primária) instalados entre o ERJ e o ES, de forma mais especial, assunto que venho tratando aqui, já há algum tempo.

Sobre o uso do solo, há que se observar que os locais de passagens de suas redes sempre representam para os empreendedores, mais problemas e impactos em relação aos seus objetivos em termos de soluções e transporte para a sua energia. 

Os empreendedores possuem interesses na fluidez no transporte de sua energia, e assim evitam se envolver (enlaçar) com as comunidades percorridas pelos suas redes técnicas e assim, esses territórios (onde se incluem as pessoas e populações) são vistas como problemas, com as suas rugosidades e o seu cotidiano. Interessa a verticalidade e a fluidez dos negócios e se rejeita a horizontalidade da vida cotidiana nas populações nativas.

Assim, como a energia elétrica é cada vez mais uma commodity determinada pela oferta e o seu percurso entre geração (nas diferentes formas termelétrica, eólica, solar, hídrica, etc.) e sua distribuição e consumo são cada vez mais controladas por sistemas integrados digitais. 

Desta forma, as decisões sobre tudo isso depende pouco da regulação dos governos e cada vez mais são controlados pelas corporações que passaram a um novo patamar de apropriação das rendas da energia gerada a partir da especulação sobre preços controlados pelo mercado.

Nesse esquema, a produção o controle da distribuição em circuito integrada atende mais aos interesses e controle sobre preços (semanais e diários no mercado de energia) do que à demanda e aos consumos das regiões.

Por isso, tenho insistido tanto na necessidade de se entender as cadeias de produção por setor econômico - e seus enlaces em outras frações – em várias dimensões e de forma transescalar do local, ao nacional e global onde os vários interesses se encontram. No caso em questão se trata da produção e distribuição de energia com a participação de capitais americano e alemão.

A exposição desses dados em o objetivo de ampliar a divulgação das informações sobre o que se projeta sobre as regiões envolvidas e também de levantar questões para um debate mais amplo, sob diferentes aspectos, mas certamente envolvendo os interesses comunitários das populações das regiões envolvidas.


PS.: Atualizado 11/06/2019: Para acrescentar comentário de um observador sobre as obras na LT que ligam o Açu à Baixada Campista e ao entrocamento em Campos:

"Professor eu moro em goitacazes e tenho notado muita movimentação de operarios instalando os cabos nas torres que foram construidas algum tempo atras e que pareciam abandonadas. Tem duas redes uma de 345 que ja conta com 3 fases ligadas e a oitra rede de torres começaram a instalar os cabos nas ultimas semanas. Joje mesmo vi muitos realizando montagem de estrutura para passar os cabos sobre a estrada dos ceramistas. Em relação a subestação existe uma area sendo cercada pela mesma equipe na antiga fazenda da tocaia proximo ao condominio da cobstrutora realiza,em goitacazes que fica dentro desse raio que esta no mapa que o senhor postou, onde eu estou imaginando que será a subestação. A empresa é engelift e tem muitos carros com adesivo cinza padrão porto do açu escrito ALB.
Então pelo que percebi ja esta andamento a execução desse projeto."

2 comentários:

Unknown disse...

Professor eu moro em goitacazes e tenho notado muita movimentação de operarios instalando os cabos nas torres que foram construidas algum tempo atras e que pareciam abandonadas. Tem duas redes uma de 345 que ja conta com 3 fases ligadas e a oitra rede de torres começaram a instalar os cabos nas ultimas semanas. Joje mesmo vi muitos realizando montagem de estrutura para passar os cabos sobre a estrada dos ceramistas. Em relação a subestação existe uma area sendo cercada pela mesma equipe na antiga fazenda da tocaia proximo ao condominio da cobstrutora realiza,em goitacazes que fica dentro desse raio que esta no mapa que o senhor postou, onde eu estou imaginando que será a subestação. A empresa é engelift e tem muitos carros com adesivo cinza padrão porto do açu escrito ALB.
Então pelo que percebi ja esta andamento a execução desse projeto.

Roberto Moraes disse...

Muito obrigado pelas informações.

Vou depois ir ao local observar. Por favor, nos mantenha informados.

Abs.
Roberto.