segunda-feira, fevereiro 10, 2020

Noruega faz marketing com redução das emissões, enquanto amplia exploração de petróleo no Brasil

Este breve texto é um comentário sobre a matéria (aqui) do Valor Online (9 Fev. 2020): "Noruega anuncia nova meta climática de 50% de corte nas emissões de gases-estufa em 2030".

A Noruega localizada no norte da Europa faz marketing pela decisão de corte das emissões no seu país. Porém, hoje, através da sua estatal de petróleo, a Equinor, passou a possuir no Brasil – e não mais em seu país - as suas maiores reservas de petróleo. Inclusive depois comprar da Petrobras, a preço de xepa, o campo de Carcará no Pré-sal, tendo tido a ousadia de rebatizá-lo como Bacalhau.

Assim, é fácil. Reduzir as emissões de gases do efeito estufa no país com os cortes das emissões de carbono (combustíveis fósseis) no mesmo tempo que amplia as suas reservas além-mar, com o uso de dinheiro de seu fundo soberano, propagandeando e vangloriando-se de ampliação dos esforços na direção do que defende o Painel Internacional sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU.

Parece interessante esse debate. A questão ambiental é tratada como um problema que exige governança global entre nações. Porém, as corporações, mesmo controladas pelas nações (estatais) - ou ainda mais livremente as corporações privadas, agem livremente de forma transfronteiriça. No meio desse imbróglio, os chamados créditos de carbono, não dão conta do essencial, ficam apenas na periferia do problema.

Neste sentido, considerando a matriz energética brasileira muito mais limpa que as demais, por conta, em especial dos recursos hídricos (hidrelétricas), as reservas do pré-sal se tornaram ainda mais estratégicas, em termos geopolíticos, para outras nações do capitalismo central.

Como economia periférica, o Brasil com essa enorme reserva e simultaneamente, com um gigantesco mercado consumidor aqui mesmo no país, as nações economicamente mais fortes ao investirem no setor de petróleo aqui, podem dizer que por lá, estão investindo na limpeza de sua matriz energética, sem considerar o que suas corporações fazem pelo mundo. No caso, a Noruega diz faça o que a minha Equinor não faz.

3 comentários:

Clipping disse...

A matéria diz "A Noruega localizada no norte da Europa faz marketing pela decisão de corte das emissões no seu país." No entanto na própria pagina da empresa, na reportagem em questão, a seguinte informação é compartilhada:
"Equinor is aiming to reduce the CO2 intensity of its globally operated oil and gas production".
Dessa forma a medida é global (incluindo Brasil) e não apenas no seu pais...
Pouca informação, muito opinião!

Roberto Moraes disse...

Pois é assim para quem consome a informação do jeito que ela é divulgada, mais como marketing do que como fato em si.

Como a Equinor vai reduzir as emissões se ela segue adquirindo mais ativos e ampliando a exploração?

Essa é a contradição entre a propaganda que chama de informação e a realidade. É exatamente disto que trato na crítica. A governança do tema é global, mas os critérios de redução são dos Estados-nações.

Essa é questão. Os limites da governança global para além dos limites de regulação dos Estados-nações. Assim como na questão financeira, a capilaridade transfronteiriça das corporações e fundos financeiros permitem o controle e a construção de uma realidade que é medida pelos países, encima do qual o IPCC mede e estabelece metas.

Esse debate hoje envolve todos os fóruns internacionais que tentam também compreender a relação entre as grandes cadeias de valor global e o mundo das finanças e dos capitais de riscos que elas atraem em busca de maiores lucros.

Roberto Moraes disse...

Com uma leitura ainda mais atenta da matéria da matéria pode se perceber que que o compromisso é do país, a Noruega, mas corporação se coloca para o mundo, como outras multinacionais como uma empresa transnacional e neste sentido a relação de uma e outra é distinta.

As metas no Acordo de Paris são com os países. Assim como as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), definidas a cada cinco anos.


Aí reside uma parte das contradições em que a governança global, via os estados, tem dificuldade para alcançar as empresas que se colocam com relações distintas entre as nações.

Sem visão crítica essa questões não são observadas e as falas descritas como fatos são tidas como verdades.

A neutralidade dos fatos é um mito. Aliás, todos os fatos merecem ser analisados, porque o copo meio cheio pode ser também meio vazio, conforme o ângulo de observação.

Uma interpretação mais densa prescinde de uma análise mais crítica, de opiniões divergentes para que possam ser levadas a interpretações mais potentes e um pouco mais próxima da realidade.