A holding Prumo Logística Global que controla o Porto do Açu (RJ) e é controlada pela gestora do fundo financeiro americano EIG Partners (EIG Global Energy Partners) fechou o primeiro semestre de 2025 com uma dívida de R$ 14,1 bilhões, diante de uma movimentação de cargas no valor FOB em dólar de US$ 2,410 bilhões (25% maior que 2024 que foi de US$ 1,918 bilhão); receita no semestre de R$ 950,7 milhões (28,9% maior que 2024 que foi de R$ 741,4 milhões) e um lucro também semestral de 142,7 milhões. Portanto um crescimento naul expressivo em movimentação de cargas, receitas e lucros entre 25% e 30%.
A gestora estadudinense de fundos EIG Global Energy Partners (EIG Asset
Management) controladora da Prumo opera desde 1982, atua hoje em 6 continentes
e 44 países, controla 420 companhias e tem participação de US$ 51,3 bilhões em
ativos em todo o mundo. Em 2013, quando da derrocada de Eike, por conta dos investimentos
na sua empresa de petróleo OGX, a EIG Partners injetou uma quantia em recursos
e ficou com o controle da empresa LLX companhia de logística Eike Batista e logo depois trocou o nome da
companhia para Prumo Logística Global que, a seguir, se transformou num grupo (holding) com
várias empresas subsidiárias entre elas o Porto do Açu (PdA).
1 - Da gênese da LLX
à Prumo dos dias atuais
Em 2014, o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos (EAU),
Mubadala, que tinha um crédito de US$ 2 bilhões com a holding EBX, ficou com as
ações da LLX que restavam com o empresário Eike Batista. Cinco anos depois, em 2028,
a Prumo fechou o capital e saiu da Bolsa de Valores, adquirindo as ações dos
investidores minoritários tendo como principal ativo o Porto do Açu e empresas coligadas.
Mesmo acompanhando menos assiduamente os últimos movimentos
relativos ao empreendimento do complexo logístico portuário industrial do Açu
(antes chamado de Clipa), venho anualmente comentando sobre os valores relativos
à movimentação de cargas (exportações +/- 90% e importações de cerca de 10%)
do empreendimento do Açu.
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Foto de Ricardo Stuckert / PR em 28 jul. 2025. |
Agora em 2025, o complexo logístico portuário do Porto do Açu atua com dois principais terminais: T1 (offshore onde exporta petróleo e minério de ferro); T2 (onshore onde operam o apoio offshore com o terminal de apoio offshore da americana Edson Chouest, o TMULT, terminal multicargas e vários outros terminais de empresas. No total são 11 terminais e 28 empresas instaladas no complexo.
No espaço de 90 Km² de área disponível para instalações industriais, energia e outros negócios, há duas unidades de geração termelétrica da GNA (I e II) e vários projetos de negócios, embora ainda hoje não mais que 10% de toda a área comprada e desapropriada violentamente de pequenos produtores do antigo 5º Distrito de São João da Barra.
A maior movimentação (disparada) de cargas do Porto do Açu é de petróleo (cerca de 40% das exportações brasileiras) efetuada no terminal T-Oil para cerca de 8 diferentes petroleiras, além da Petrobras e minério de ferro para a mineradora Anglo American. Petróleo e minério ficam com cerca de 75% de toda a movimentação portuária de cargas.
Em outubro próximo, o Porto do Açu (PdA) completa 11 anos de
atividades de movimentação de cargas iniciada em 2024, com as exportações de
minério de ferro, através da joint venture Ferroport, formada entre a Prumo e a
mineradora Anglo American (corporação inglesa-sul africana).
2 - Região como mero “território
de passagem”
Nesse período de pouco mais de uma década, continuo afirmando
que, majoritariamente, a região do Norte Fluminense que concedeu o espaço litorâneo
para instalação do empreendimento do complexo do Açu, com características de
Cadeia de Valor Global (CVG) Açu, segue como uma espécie de “território de
passagem” de uma colossal riqueza que circula por aqui (quase R$ 40 bilhões
apenas no ano de 2024). Porém, agregando muito pouca coisa à região onde produz
enormes impactos nem sempre identificados, como as violentas desapropriações, o
avanço do mar no balneário de Barra do Açu (impacto previsto desde o EIA-Rima),
sobre o trânsito, embora também gere postos de trabalho (em quantidade bem menor
que a divulgada na fase de operação após a construção dos empreendimentos) e a
receita de ISS.
Essa condição a que tenho chamado de "território de
passagem" é uma das características principais de um porto de 5ª geração como
o caso do Açu com conexões na escala global (interligando pontos de uma cadeia
de valor global - CVG). Até hoje o Porto do Açu incorpora pouco valor em atividades
industriais, que seria do que foi estimado como um complexo
logístico-industrial (ou Zona Industrial Portuária - ZIP ou MIDAs, Maritime
Industrial Development Area) para uso da enorme retroárea de mais de 90 Km²,
fruto, como já foi dito, em boa parte, de centenas de desapropriações violentas,
sobre pequenos produtores rurais, cuja maioria até hoje não recebeu suas
indenizações que aguardam a definição dos processos judiciais.
As exceções são as duas unidades de geração de energia
elétrica (UTE) da GNA e a FMC-Technip com a produção de tubos flexíveis para
uso nas instalações offshore das petroleiras para extração de petróleo. A
geração de energia a gás pela GNA usa um terminal de GNL (Gás Natural
Liquefeito) que hoje é importado dos EUA e atende à GNA-I que entrou em
operação em 2021 com 1,3 GW de capacidade. Já a GNA-II foi inaugurada agora em
2025 com 1,7 GW de capacidade. Juntas, elas formam o maior complexo de geração de
eletricidade a gás natural da América Latina, com 3 GW de capacidade total, que
entram em operação, quando demandadas pelo sistema de energia elétrico
nacional.
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GNA-I e II e T2. Foto Ricardo Stuckert / PR 28 jul. 2025. |
Outra exceção pode ser a do projeto, já licenciado e aguardando investidores para implantação, na produção de hidrogênio verde que concorre com dezenas de outros projetos semelhantes a nível nacional, a maioria também projetada junto a complexos portuários. A exceção de servir à industrialização pode acontecer porque os produtos podem ter também pode ter como destino, basicamente, a exportação de amônia e não ao uso em industrialização no distrito industrial do porto, mantendo a atual característica de um porto de movimentação de cargas e riquezas de cadeias de valor global (CVG), sem gerar aquilo que os economistas chamam de externalidades dessa importante infraestrutura portuária do Açu, no Norte do Estado do Rio de Janeiro.
3 - Novos negócios, a
extraordinária dívida e a lógica da gestão de ativos dos investidores
A Prumo tem informado que até hoje o empreendimento no Açu
em São João da Barra já se utilizou de cerca de R$ 22 bilhões de investimentos (US$
4,1 bilhões) desde o início da construção do porto, em 2008, e tem expectativa de
investir outros R$ 20 bilhões nos próximos 10 anos.
A dívida financeira de R$ 14,1 bilhões tomados com
empréstimos no Brasil (indexada pelo CDI e IPCA e spread médio de 15,6%) – e com
emissão de debêntures (títulos privados) e no exterior (em dólar) é expressiva,
mesmo considerando o porte do empreendimento.
É possível que, ao longo do tempo, essa dívida possa ser saudada
em parte e/ou compartilhada com investimentos e divisão de sociedades com outros
investidores estrangeiros, interessados em investir na infraestrutura logística
brasileira, considerando o potencial de uso de nossos portos. Isso já vem
acontecendo com os negócios de algumas das empresas subsidiárias da Prumo, como no caso da Vast Infraestrutura, companhia que faz transbordo de petróleo no T1 e teve
70% vendida para a empresa chinesa China Merchants Port, CMP.
Porém, o investimento em infraestrutura, normalmente, têm
prazos de retorno mais longos e servem a corporações e fundos que também
possuem interesses nas movimentações de cargas de outros de seus negócios e
ativos. Nesse cenário, embora hoje a maioria dos investimentos e controle
de negócios no Porto do Açu, sejam ligados a investidores dos EUA, tem sido a
China a maior interessada nesses negócios portuários, infraestrutura e energia
no Brasil, o que colocaria o empreendimento na mesma encruzilhada da disputa
EUA x China, como elemento importante das atuais contendas geoeconômica e
geopolítica global. O crescimento atual da economia do Brasil cria expectativas de comércio externo. Já uma eventual redução dos negócios globais e mesmo novos conflitos regionais, por outro lado, impactam negativamente o uso dos terminais portuários e poderiam afastar investidores.
Do ponto de vista da região, se observa como importa tão
pouco os interesses regionais nas discussões sobre investimentos nesse grande
investimento. Negócios são fechados entre corporações no plano global e a
região assiste como se fosse a um programa de TV, sem perceber que muitas
dessas decisões influenciam pesadamente a realidade sobre o nosso território.
Um exemplo apenas dessa última semana, a mineradora Anglo
American, a primeira empresa a exportar pelo Porto do Açu, decidiu essa semana realizar
uma fusão bilionária com a mineradora canadense Teck Resources criando uma gigante
corporação do setor de mineração com sede no Canadá e negócios de ações em
Londres. Em 2024, a Anglo American já tinha aprovado a venda de 15% da sua
operação no Brasil, a Minas-Rio, para a Vale e tem sinalizado interesse em se
voltar mais para a extração de cobre de olho na expansão da eletrificação mundo
afora.
Negócios de infraestrutura logística tendem a se articular
com corporações que atuam em cadeias de valor global, se importando menos com
as questões locais e regionais, onde possuem capital fixo instalado no território.
Vislumbram alta fluidez das suas cargas para ganhos em produtividade, contabilizando
os ativos e nutrindo expectativas de grandes rentabilidades no menor prazo
possível, dentro da lógica de gestão de ativos que interessa aos investidores
cuja maioria nem sabe onde fica São João da Barra.