quinta-feira, junho 19, 2008

As praças

A praça é o epicentro da polis, da urbis, da vida organizada em sociedade, a praça é o lugar da diversão, da manifestação política e do exercício da sociabilidade”. Tenho um interesse particular pela observação da vida em comunidades. Mais as urbanas que as rurais, sem nenhum preconceito com as segundas, porém, mais interessadas nas complexidades das primeiras. Sempre me atraiu esta história dos espaços urbanos de convivência que tornam as praças um “lócus” privilegiado para as trocas. Mexe comigo o fato dos extremos que contestam a proliferação dos quiosques nas praças, assim como, a nostalgia insensível destes espaços como ambientes de contemplação pura. Nem um extremo e nem outro. Detesto a música alta pelo infortúnio a quem dela não quer usufruir, da mesma forma que a praça é do povo como o céu é do avião. A segunda tem controlador aéreo que o nosso compositor não conhecia, assim como a Postura Municipal tem que regular o uso cidadão dos espaços coletivos. Viva a praça e os demais espaços públicos que tornam uma cidade viva, mesmo que adormecida por quaisquer que sejam os motivos. Quais visões têm os pré-candidatos a prefeito da importância das praças como espaços da sociabilidade de nossa comunidade? Enfim trouxe para este espaço o tema, a partir da resenha do professor da PUC-SP, Rubens Naves, que nos forneceu o primeiro parágrafo devidamente aspado sobre o livro “Projeto da Praça – convívio e exclusão no espaço público” de autoria de Sun Alex, Editora Senac. Não conhecia o livro que agora tomei conhecimento pela resenha publicada na edição de junho do Le Monde Diplomatique Brasil. PS.: Definição de praça no Wikipédia que descreve também sua história e seu simbolismo: "Em uma definição bastante ampla, praça é qualquer espaço público urbano livre de edificações e que propicie convivência e/ou recreação para seus usuários. Normalmente, a apreensão do sentido de "praça" varia de população para população, de acordo com a cultura de cada lugar. Em geral, este tipo de espaço está associado à idéia de haver prioridade ao pedestre e não acessibilidade de veículos, mas esta não é uma regra. O termo também pode, no contexto militar, se referir a uma categoria de sargentos". "A Ágora grega e o Foro romano" "Talvez os primeiros espaços urbanos que tenham sido intencionalmente projetados para cumprirem o papel que hoje é dado às praças sejam a ágora, para os gregos, e o forum, para os romanos. Ambos os espaços possuíam, no contexto das cidades nas quais se inseriam, um aspecto simbológico bastante importante na cultura de cada um dos povos: eram a materialização de uma certa idéia de público". "A ágora grega era o espaço no qual a limitação da esfera pública urbana estava claramente decidida: aí se praticava a democracia direta, sendo o lugar, por excelência, da discussão e do debate de idéias entre os cidadãos. A ágora normalmente se delimitava por um mercado, um pórtico demais edifícios, sendo que dela era possível ver a acrópole, a morada dos deuses na mitologia grega. Já o fórum romano representava em si mesmo a monumentalidade do Estado, sendo que o indivíduo que por ele passasse estava espacialmente subordinado aos enormes prédios públicos que o configuravam. Diferenciava-se da ágora na medida em que o espaço de discussão não mais era a praça pública, aberta, mas o espaço fechado dos edifícios, nos quais a penetração era mais restrita".

2 comentários:

Clube de Leitura Alexander Seggie disse...

Roberto, este post seu muto me fez recordar que Papai nunca deixava de apoiar os movimento autênticos e populares, principalmente se tivessem origem em praças. Dizia ele citando Castro Alves:
"A praça é do povo, como o céu é do condor."

Clube de Leitura Alexander Seggie disse...

O POVO AO PODER

Quando nas praças s'eleva
Do Povo a sublime voz...
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz...

Que o gigante da calçada
De pé sobre a barrica
Desgrenhado, enorme, nu
Em Roma é catão ou Mário,

É Jesus sobre o Cálvario,
É Garibaldi ou Kosshut.

A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor!

Senhor!... pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua seu...
Ninguém vos rouba os castelos

Tendes palácios tão belos...
Deixai a terra ao Anteu.

Na tortura, na fogueira...
Nas tocas da inquisição
Chiava o ferro na carne
Porém gritava a aflição.
Pois bem...nest'hora poluta

Nós bebemos a cicuta
Sufocados no estertor;
Deixai-nos soltar um grito
Que topando no infinito

Talvez desperte o Senhor.

A palavra! Vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.
Mas qu'infâmia! Ai, velha Roma,
Ai cidade de Vendoma,
Ai mundos de cem heróis,
Dizei, cidades de pedra,
Onde a liberdade medra
Do porvir aos arrebóis.

Dizei, quando a voz dos Gracos
Tapou a destra da lei?
Onde a toga tribunícia
Foi calcada aos pés do rei?
Fala, soberba Inglaterra,
Do sul ao teu pobre irmão;
Dos teus tribunos que é feito?
Tu guarda-os no largo peito
Não no lodo da prisão.
No entanto em sombras tremendas
Descansa extinta a nação
Fria e treda como o morto.
E vós, que sentis-lhes os pulso
Apenas tremer convulso
Nas extremas contorções...
Não deixais que o filho louco
Grite "oh! Mãe, descansa um pouco
Sobre os nossos corações".

Mas embalde... Que o direito
Não é pasto de punhal.
Nem a patas de cavalos
Se faz um crime legal...
Ah! Não há muitos setembros,
Da plebe doem os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensangüentado
Diz: já não posso sofrer.

Pois bem! Nós que caminhamos
Do futuro para a luz,
Nós que o Calvário escalamos
Levando nos ombros a cruz,
Que do presente no escuro
Só temos fé no futuro,
Como alvorada do bem,
Como Laocoonte esmagado
Morreremos coroado
Erguendo os olhos além.

Irmão da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz...
Ai! Soberba populaça,
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.


Recife, 1864