terça-feira, novembro 04, 2014

Cascade

Ontem, em meu último dia em Roterdã, antes de vir para a Antuérpia na Bélgica, quando circulava na região central da cidade a caminho da Estação Central, ao passar na avenida Churchillplein, eis que deparo, ao lado do interessante Museu Marítimo, com a escultura, “Cascade” ou “Cascata”, onde obrigatoriamente enxerguei relações com a nossa região.

Logo imaginei que seu autor buscou mostrar a luta pela descoberta e pelo poder geopolítico que o petróleo gera com conseqüências sobre os homens que parecem se diluir por entre o líquido.
Talvez, o óleo em cascata, possa através da arte, também estar também nos mostrando o óleo que escorre em desperdício dos royalties, ao mesmo tempo em que reafirma a preocupação com o poder da energia e sua relação com portos e exploração offshore, na geopolítica mundial.

Um monumento entre tantos na moderna e reconstruída cidade portuária de Roterdã, junto ao Mar do Norte onde o petróleo também extraído offshore, mas, que talvez nos servisse de inspiração no Norte Fluminense.

Detalhes sobre a escultura Cascade (ou Cascata) informada pelos seus idealizadores em 2010:

A escultura é do Atelier Van Lieshout e segundo o autor evoca associações com a atual crise econômica, o esgotamento de matérias-primas e da falência da sociedade de consumo.

Essas interpretações são trazidas para um foco mais preciso por a localização da escultura na junção de Coolsingel e Blaak, no centro do coração comercial e financeiro da cidade de Roterdão. Ela tem 8,5 metros de altura, com base quadrada de 5,5 metros e foi confeccionada em poliéster (para mim uma espécie de fibra de vidro).

Como já disse, é ainda interessante observar sua localização ao lado do Museu Marítimo de Roterdã. Já descobri que o autor de “Cascade” assumiu sua forma final e cor na oficina de AVL no porto de Roterdã. No início de março de 2010 a escultura foi transportada para o outro lado do Rio Maas por navio, para atracar em Leuvehaven.

Descrição do Lieshout para a escultura: “A partir dos tambores de tamanho natural pinga uma massa viscosa em que se pode distinguir as formas de uma vintena de figuras humanas. Eles são seres anônimos, muitos deles em poses dramáticas. Um deles sobe. Em comparação com os contornos consistentes de tambores de óleo, os números são flácidos e sem forma. Apesar disso, essas formas formam uma rede que suporta a coluna. Baterias e formas humanas, formas rígidas e flácidos, derreteram juntos em um único conjunto”.

Por fim, vale observar como os tempos modernos e a forma de transporte em massa, transformaram o “barril” de petróleo num símbolo e numa unidade de medida (barril se transformou numa unidade de medida de petróleo líquido, geralmente petróleo cru, que equivale a 158,9 litros se for americano, ou 159,1 litros, se britânico), desde quando o produto passou a ser transportado em grandes volumes por dutos, ou por enormes navios petroleiros.

A arte e a vida em diferentes partes deste sistema-mundo global.

Sigamos em frente!

6 comentários:

Anônimo disse...

Que vidinha mais, ou, menos, professor. Curtindo abessa !!

Enfim, apesar de seus inegáveis méritos, mas, deve ser ótimo, ser militante petista ?

Roberto Moraes disse...

Gosto de comentários como este, cheios de preocupações e provocações.

Sei e nunca tive dúvidas que o blog incomoda muitos há tempos. Aliás, pensando bem, se não fosse assim, não teria razão de existir.

Entre outros "aborrecidos" há sobre o tema, alguns investidores e gerentes do porto. Os comentários anteriores já demonstravam que os "cães de guarda" estavam zangados. Entre estes há quem não queira que se tenha informações e conhecimentos mais consistentes sobre a realidade portuária mundial.

Há quem ainda viva em épocas pretéritas em que o conhecimento deveria ser exclusivamente uma concessão do capital. Lamentável. São os mesmos que negam problemas e impactos do porto na região.

O blog e o blogueiro aquiescem tanto reacionarismo, o mesmo que parece desejar o terceiro turno.

Não deveria, mas é sempre salutar explicar aos bem intencionados leitores e colaboradores como funciona o programa de bolsas (PDSE) da Capes/MEC.

Primeiro que o mesmo é um instituto na pós-graduação brasileira de quase três décadas. É um processo que se pode chamar de republicano. Você se candidata via um edital da instituição onde desenvolve seu doutorado, com apresentação de um plano de estudos e de pesquisas numa instituição no exterior, que manifeste interesse em recebê-lo para esta finalidade. Este aceite é sempre condicionado à análise e ajuste do projeto apresentado.

Caso seja aprovado no edital, o mesmo é enviado à Capes para análise e exigência. Só depois deste processo resumido à cima, você tem uma bolsa chamada "Doutorado-sanduíche" aprovada, com a concessão de uma ajuda de custo para deslocamento e estadia.

No meu caso especial a bolsa com ajuda de custo prevê o apoio exclusivo aos estudos na Universidade de Barcelona e por um período de três meses. Os deslocamentos previstos para pesquisas os portos em outras cidades e países estão correndo às minhas custas.

Além disso, decidi em comum acordo com a Universidade de Barcelona expandir minha estadia por mais um mês, para além dos três meses antes previstos, em função do volume de trabalho de coleta de dados e análises teórico-metodológica. Assim, mais esta despesa extra correrão por minha conta, o que fará com que as despesas totais, sejam o dobro do apoio governamental.

Sei que não é simples que alguém que só pensa em dinheiro entender isto. Aliás, é difícil para alguns que a nossa classe média possa se locomover onde quiser, usando os aviões da elite. Também não é difícil entender porque alguns tenham tanto receio que os brasileiros estudem e pesquisem e assim possam, refutar as bobagens de quem faz isto exclusivamente pelo poder econômico.

É bom ainda recordar que mesmo que o programa de bolsas PDSE já existisse, ele foi imensamente ampliado nos governos Lula e Dilma, junto do processo de criação do programa Ciências Sem Fronteiras que tanta ojeriza causa em FHC e a tucanada.

E olhe que FHC no passado também recebeu bolsas para estudar fora do país, apesar de depois ter renegado tudo o que escreveu em sua tese. Aliás, parte deste financiamento foi de fundação americana como Ford e outras.

... continua...

Roberto Moraes disse...

... Continuando...

Por fim, o questionamento sobre a visão republicana em que tais apoios acadêmicos são concedidos são bem próprios de quem olhando a si e os seus como o Aécio, por exemplo, num passado não tão distante, já vivesse às custas do erário público, desde os 17 anos como "ajudinha de papai, titio e vovô".

Enfim, isto faz parte do debate atual e contemporâneo. A mim não custa expor a realidade que é pública e pode ser analisada à luz dos relatórios e da produção acadêmica que este período já suscita.

Aproveitar e expor no blog para leitores e colaboradores parte do que vem sendo observado é um extra que este blogueiro-professor-pesquisador faz e com prazer. Não há porque separar estas coisas se sou apenas um de vida pública tão conhecida e exposta diariamente, ao contrário do comentarista que precisa se esconder.

Agradeço pelo comentário, porque, sem que fosse preciso, ele me deu oportunidade de explicar como as coisas funcionam.

Se desejar saber mais consulte o site da Capes: http://capes.gov.br/

E nesta toada continuamos seguindo em frente, cada vez mais convencido da direção seguida!

Anônimo disse...

Interessante como são as pessoas, muitas vezes mesquinhas e invejosas. Não só ele, mais milhares de brasileiros hoje estudam fora do país. Isso mostra o quanto o país está mudando nos últimos anos e o quanto ainda temos que evoluir e ainda iremos colher no futuro.

Nesse link se tem uma noção disso: http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/bolsistas-pelo-mundo

Parabéns Roberto, espero que os estudos e pesquisas feitos ai ajudem a formular novos conhecimentos acadêmicos aqui no Brasil.

E claro que tem que aproveitar as horas vagas que imagino serem poucas, pois alguns meses é pouco para adquirir todo o conhecimento necessário diante de um mundo cada vez mais dinâmico.

E só lamento por certas pessoas desprovidas de conhecimentos básicos fazer tais comentários.

Abraços e bons estudos!

Anônimo disse...

Sejamos honestos. Tá estudando fora porque o ensino no exterior, sem sombra de dúvida, é bem melhor.
Enquanto nosso ensino o público no Brasil, principalmente o fundamental e básico, é um desastre.



Roberto Moraes disse...

Tem gente que tem mentalidade tacanha mesmo.

É lamentável.

Na Universidade de Barcelona, no departamento onde estou vinculado se reconhece o estudos e o trabalho de pesquisa feito no Brasil.

Nossa produtividade e produção parece mais intensa é o que dizem. A quantidade de artigos e pesquisas acadêmicas feitas no Brasil e América do Sul e enviadas para serem publicadas aqui é enorme. Tenho ajudado em alguns pareceres.

Há sim bons professores e pesquisadores tanto aqui como no Brasil. Suas análises e pesquisas se complementam. Não há porque ficar trancado sem diálogo com outras pesquisas e estudos.

Este é o objetivo.

Qualquer ilação diferente disto parte do mesmo tom que abriu os comentários.

Os contatos feitos, os diálogos travados no campo de investigação que vim aprofundar justificam com sobras o esforço institucional e pessoal.

A economia global e toda a sua teia de relações no chamado circuito superior da economia é complexo, mas destrinchável quando levantados e linkados às diversas articulações que possuem, no campo da logística, da construção de infraestrutura, do setor financeiro, etc.

Mais adiante falarei sobre isto.

Para aqueles com quem vale o diálogo. E sigamos em frente!