quinta-feira, novembro 13, 2014

"Os desafios para as forças populares"

O blog recebeu da professora Ana Costa um email com uma sugestão de ampliação da divulgação e debate do editoral do jornal "Brasil de Fato". O blog considera o debate pertinente e assim publica abaixo o texto informal do seu email, como apresentação do editorial do jornal Brasil de Fato:

"Oi Roberto,
Estou observando que você está acompanhando direto a conjuntura no Brasil e agora, quase um correspondente internacional,(rss) e deve está percebendo que o fato de vencermos as eleições, mas com essa representação conservadora no Congresso e com esta dita oposição com sinalizações mais golpistas que de críticas ao governo, a presidenta eleita terá que se posicionar e apontar já, que coalizão ela vai construir, de centro esquerda, incorporando as forças que deram sustentação a sua reeleição e que têm demandas coletivas reprimidas, como é o caso da reforma agrária ou a reprodução do que se formou no primeiro mandato.
Se não leu este editorial do Jornal Brasil de Fato, dê uma olhada.
Abraços,
Ana"



Os desafios para as forças populares
Precisamos seguir construindo uma imensa frente popular, de massas, para estimular as lutas sociais e a mobilização popular
Editorial da edição 611 do Jornal Brasil de Fato - 11/11/2014
Passado as eleições, mais além do que balanços de vitórias e derrotas, o importante é compreender como a luta de classes se comportará no próximo período.
Muitos se iludem apenas com o comportamento das lideranças partidárias e como elas aparecem na mídia burguesa. Porém, no Brasil, os partidos políticos são meros instrumentos de grupos e personagens, que nem sempre tem correlação com os interesses de classes. Afinal, são nada menos de que 34 partidos com assento na Câmara, a maioria deles dirigidos por oportunistas em busca de privilégios pessoais ou de grupos.
A verdadeira luta de classes se move entre as classes e seus interesses históricos. A sociedade brasileira – dominada pelo modo capitalista de ser – é extremamente desigual. Temos, de um lado, uma burguesia (financeira, fundiária, comercial e industrial) composta por não mais de 5% da população. Alguns estudos apontam até ao redor de 1%. Temos uma pequena-burguesia, composta redor de 10 a 15% da população. São os profissionais liberais, com alta renda, e pequenos comerciantes e empresários do setor de serviços e indústria, a chamada classe média clássica, que não tem os grandes meios de produção, mas tem a cabeça e ideologia da burguesia. Além de terem muita influência na opinião pública, pela capilaridade e número de trabalhadores empregados. (E por isso foram os que mais apareceram na oposição ao governo Dilma e na campanha eleitoral).
E de outro lado, temos a imensa maioria do povo – entre 80 e 85% da população que são os que vivem do seu trabalho e que estão distribuídos em inúmeras categorias e setores sociais, nas cidades e no campo.
Nas campanhas eleitorais, a burguesia e a pequena burguesia sempre ficam disputando os votos dos trabalhadores, usando todo tipo de ardis e mentiras, justamente porque a classe dominante não tem votos suficientes na sua própria classe. Por isso, evitam debater projetos de classe na campanha e preferem temas ideológicos ou da corrupção, comportamento pessoal etc.
O projeto da classe dominante brasileira é voltar ao neoliberalismo, com a hegemonia total do grande capital financeiro, das empresas transnacionais e recolocar nossa economia na esfera dependente dos Estados Unidos.
A classe trabalhadora não tem um projeto claro, um programa unitário que aglutine as mais diferentes formas dela se organizar (movimentos, associações, partidos etc.). Porém, nos últimos meses, ficou evidente que é possível aglutinar-se ao redor da luta pelas reformas estruturais. Reformas como a mudança da matriz tributária, para penalizar os mais ricos. A reforma educacional, para garantir os 10% do PIB e o acesso de toda juventude à universidade. A reforma agrária. A reforma urbana, que controle a especulação imobiliária, garanta construção de moradias populares e transporte público gratuito e de qualidade. Mudanças na política do superávit primário, para destinar os recursos públicos (R$ 280 bilhões por ano) agora gastos em juros aos bancos, e destiná-los à educação – educação e industrialização do país.
Mas para alterar a correlação de forças que permita ao governo avançar, será necessário realizar uma reforma política, que virá apenas através de uma assembléia constituinte, soberana, que espelhe a vontade do povo, e exclusiva para mudar o sistema político.
O governo está entre esses dois projetos. E precisa agir logo, para demonstrar, pelo menos simbolicamente, de que lado está. Se cair nas emboscadas do PMDB, da mídia burguesa e outros porta-vozes da burguesia, e nomear ministros conservadores, perderá o necessário apoio popular. E será um governo marcado pela instabilidade, inércia e falta de credibilidade.
De nossa parte, dos movimentos populares, precisamos seguir construindo uma imensa frente popular, de massas, para estimular as lutas sociais e a mobilização popular, tendo como programa mínimo, urgente e necessário, a luta pela reforma política e pelas conquistas sociais, no âmbito das reformas estruturais.
Certamente 2015, será um ano que promete. Com muita mobilização, disputa política e ideológica entre as classes.

Nenhum comentário: