quinta-feira, abril 19, 2018

Moradores reclamam espaço para trabalhar no Porto do Açu

Um grupo de pessoas, articulados via redes sociais, especialmente através do aplicativo WatsApp, se reuniu numa pequena manifestação em frente a um suposto escritório da empresa Andrade Gutierrez, no balneário de Grussaí. A foto foi enviada ao blog por um dos manifestantes.





















A construtora Andrade Gutierrez é a empresa que está responsável pela construção que se incia da unidade de regaseificação e a primeira usina termelétrica (UTE), do que está previsto segundo os empreendedores para ser um polo (hub) de gás natural no Porto do Açu.

Os manifestantes reclamam que não são chamados para trabalhar e alegam que têm dificuldades de entregar seus currículos que só seriam aceitos por email. O fato ajudou a que eles começassem a se organizar para entender esta distância e agora para se manifestarem, onde reclamam contra o próprio Porto do Açu perguntando: "Cadê nossos empregos? Prumo e Andrade Gutierrez, respeitem o trabalhador da cidade".

O blog tem comentado aqui nestes espaço há muitos anos e em vários textos, sobre o fato de que o Porto do Açu estar dia-a-dia se conformando como uma espécie de enclave. Uma denominação teórica e acadêmica que em resumo pode ser interpretada que o porto quase não se relaciona com a cidade e região onde ele está instalado.

Antes este risco era uma hipótese, mesmo que muito provável, em função das características destes portos da chamada 5ª geração, porto-indústria, instalados em áreas mais afastadas da urbanização e que dialogam pouco com as comunidades locais e regionais.

Na realidade, o empreendimento usa o território e buscam fluidez de suas cargas e obtenção de retornos financeiros, embora gerem impactos socioambientais nos entornos onde os empreendimentos do porto são instalados.

Abaixo o blog disponibiliza o link para algumas notas em que tratou mais profundamente do assunto. A última delas foi publicada no último dia 23 de março de 2018 (aqui) analisando os resultados de 2017 da Prumo, onde analisou mais profundamente o empreendimento. A seguir outras postagens que tratam do assunto:

1 - Postagem em 23 de marrço de 2018: "Prumo divulga resultados de 2017 com prejuízo líquido de quase R$ 1 bi, dívida de R$ 5,1 bi e vínculo maior ao setor de óleo e gás. Porto do Açu é cada vez mais um enclave econômico". Disponível em:
http://www.robertomoraes.com.br/2018/03/prumo-divulga-resultados-de-2017-com.html

2 - Postagem em 23 de outubro de 2017: "Porto do Açu reforça-se cada vez mais como um enclave econômico". Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/10/porto-do-acu-reforca-se-cada-vez-mais.html

3 - Postagem em 14 de junho de 2016: "O Porto do Açu vai se consolidando como um enclave americano no Norte Fluminense: interpretação de uma década". Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/06/o-porto-do-acu-vai-se-consolidando-como.html

3 comentários:

Anônimo disse...

Dia desses encontrei uma vaga "meu número" na Prumo, fiz a aplicação pelo site vagas.com, busquei alguns contatos via linkediN, liguei pra empresa e consegui falar com um profissional do RH sobre meu perfil e a descição da vaga, mas pelo visto eles realmente preferem trazer profissionais de outras cidades, porque nem pra entrevista fui chamado.

O que temos é UM PORTO DE OPORTUNIDADES, desde que você não more em Campos...

Anônimo disse...

Caro Roberto,

houve um acordo entre a prefeitura de SJB e o Porto para redução nos impostos. Como contrapartida, o Porto tem que contratar um percentual mínimo de moradores do município.

No entanto, há graves problemas estruturais na nossa região: carência de mão de obra qualificada e profundos problemas educacionais. Tenho experiência em todas as esferas da educação e posso te dizer com toda a propriedade: a maior parcela dos alunos das escolas de São João da Barra não tem as mínimas condições de entrar no mercado de trabalho. Muitos se formam sem ao menos saber escrever o seu nome e/ou escrever uma receita de bolo. Como futuros empregados, grande parcela não conseguirá no mínimo escrever um simples relatório. Há um problema crônico de analfabetismo funcional! Muitos se formam sem ao menos saber ler e interpretar, muito menos escrever. Há um problema crônico no sistema educacional, não apenas do município de SJB, mas em nossa região. Logicamente que é um problema estrutural de nosso sistema educacional nacional, mas hoje as empresas podem garimpar os seus empregados em qualquer parte do mundo!

Mesmo nos cargos que exigem uma mínima qualificação, há inúmeros problemas com os trabalhadores de nossa região. Vou citar um exemplo: moro em um bairro novo em fase de expansão. Grande parte dos construtores não contratam pedreiros e peões de nossa região, mas do Espírito Santo, como da cidade de Guarapari. Isso mesmo, do Espírito Santo. Os pedreiros e peões deslocam pendularmente semanalmente para cá e são bem remunerados. Muitos andam de carro novo e/ou seminovo.

Por que os construtores não contratam os pedreiros de nossa região? Pois, em geral, cobram valores acima do mercado, apresentam graves problemas de qualificação na fase de construção da residência, não tem pontualidade, são muito faltosos... abrindo brechas para os trabalhadores do Espírito Santo.

Em qualquer setor, desde o primário até o quaternário, é difícil encontrar um bom profissional na nossa região. Diploma não é sinal de qualificação, existem outros atributos fundamentais. São João da Barra já virou uma "nova Macaé" e a tendência é aprofundar esse abismo entre os trabalhadores de nossa região e o Porto.

Roberto Moraes disse...

Não vou me estender, mas esses argumentos não se sustentam enquanto hipótese.

Este discurso é antigo e vale para outras regiões, onde o discurso é similar e os melhores sempre são atribuídos aos "de fora".

Nesta fase de obras do polo de gás, as exigências de qualificação não são tão grandes. Os argumentos citados são pontuais.

O discurso da "macaenização" a que já nos referíamos antes em diversas postagens, também não se aplica ao caso atual, na medida que grande parte da mão de obra, nos diversos níveis, mas em especial o técnico de nível médio, que atendeu às bases da exploração offshore em Macaé, desde o final da década de 70, era oriunda de Campos. Só na virada das décadas de 80 e 90 é que houve absorção maior de trabalhadores da região metropolitana fluminense e outros estados.

Há que se ter cuidado neste discurso excludente porque ele vitimiza e responsabiliza o trabalhador local e regional. E como disse isso acontece em outras regiões de formas muitos similares.

Na verdade os coordenadores de equipes, ou encarregados que são trazidos de fora, preferem sempre trazer as suas turmas. A isso se passou a chamar estas equipes de "peões de trecho".

Esta opção está ligada as relações de trabalho anteriores, confiança e ainda ao fato de que este trabalhador que se adapta ao "trecho", ou ao trabalho longe de suas comunidades, tendem a ser mais dedicados ao trabalho, até pela distância que estão de casa e de seus familiares.

Eles não rejeitam horas-extras (fazem sempre mais que os locais), porque preferem a acumulação de recursos e porque seus laços de amizades e famílias estão fora. Ao contrário dos trabalhadores das comunidades locais.

Além disso, eles se envolvem menos nas questões e nos conflitos locais e regionais, para os quais têm mais dificuldades de compreensão sobre os históricos.

Assim, é preciso observar de forma mais ampla a questão e os interesses envolvidos e sair deste discurso já conhecido. Se de um lado é possível compreender os interesses do empreendimento, de outro, não seria admissível, não reconhecer as demandas oriundas das comunidades do território impactado pelo empreendimento, mesmo que a contratação local/regional exigisse algumas coisas a mais.

Aceitar o inverso só faz sentido para que enxerga e conforma o empreendimento como um enclave sem nenhuma relação com o território.