domingo, dezembro 18, 2011

Campista, professora de literatura da Unicamp lança livro de contos

O caderno Eu & Fim de Semana do jornal Valor trouxe, na reportagem da Cristina R. Durán, informações sobre o livro da autora nascida em Campos e radicada em São Paulo:

“Contos de perda, dor, lembrança”

“A premiada Vilma Arêas lança “Vento Sul”

“A professora de literatura brasileira na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Vilma Arêas é precisa e preciosa na forma com que usa as palavras para descrever situações, personagens, sensações e sentimentos. Isso fica comprovado na leitura dos 20 contos reunidos no recém-lançado "Vento Sul".

Cada pequena ficção contida nas quatro partes que compõem o livro - "Matrizes", "Contracanto", "Planos Paralelos" e "Garoa, Sai dos Meus Olhos", esta última citando o poema "Garoa do Meu São Paulo", de Mário de Andrade - oferece uma história impactante. Mesmo quando aborda a morte, o suicídio, a separação - as perdas, enfim -, brinda o leitor com suavidade no ritmo das frases. Ela consegue mesclar, em duas páginas, drama, lirismo, poesia e às vezes, até, umas pitadas de humor.

Os seus personagens são pessoas simples, corriqueiras, percorrem cada dia a dia em família ou sós. Amam e sofrem. Recordam amigos e antigos amores. Recuperam histórias em uma espécie de redenção e, assim, resolvem questões que os assombraram parte da vida. Falam de vivos e de mortos, uns cedem lugar aos outros. Matam por amor ou por revolta. Revivem e, sobretudo, procuram viver.

Vilma alinhava, costura e arremata sentenças belíssimas como esta: "Mesmo de longe prendeu a respiração, pois sabia que qualquer sopro podia desfazer os corpos mantidos inteiros no oco da memória", no conto "Persistência da Memória". Outra: "As nuvens ainda retinham a mancha colorida do poente, iluminando as paredes do bar", em "O Rio". Todas as histórias são permeadas por ventos e ventanias. Ora metabolizam a liberdade, ora embelezam a dor. Às vezes trazem as chuvas e catástrofes naturais como consequência.

Certamente nada disso é à toa. O vento permeia o trabalho de Vilma desde que começou a publicar livros nos anos 1970. Como observa o jornalista, poeta e tradutor João Moura Jr. na orelha de "Vento Sul", o movimento do ar que lhe dá título já surge aliterante no primeiro livro de contos da escritora, "Partidas", publicado pela editora Francisco Alves em 1976 ("a saia de vual esvoaça com o vento sul). Ele escreve: "E sopra carregado de presságios ("era o vento sul que trazia ventania e chuvarada, arrancando planta, estragando a terra") ao longo de toda a obra ficcional da autora". Em todas as histórias esse vento espalha as sementes da perda e, no outro extremo, da persistência da memória.

Fluminense nascida em Campos, ela vive há muitos anos em São Paulo. Recebeu o Prêmio Jabuti duas vezes, pela novela "Aos Trancos e Relâmpagos" (literatura infantil, Scipione, 1988) e por "A Terceira Perna" (contos, Brasiliense, 1992). Em 2002, "Trouxa Frouxa" (contos) recebeu o Prêmio Alejandro José Cabassa (no 44º aniversário da União Brasileira de Escritores) e, em 2005, o ensaio "Clarice Lispector com a Ponta dos Dedos" recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) na categoria literatura.

São inéditos 14 textos de "Vento Sul". Os demais - "À Queima Roupa", "Persistência da Memória", "A Letra Z", "República Velha", "Sister", "Linhas e Trilhos", "Lugar Comum" e "Nem Todos os Gatos" já apareceram em jornais e revistas, como "Inimigo Rumor", "Remate de Males", "Piauí", "Literatura e Sociedade" e "Serrote", entre 2003 e 2011. É muito bem tê-los todos juntos em um único livro na estante, sobre o criado-mudo, na bolsa, onde estiver ao alcance da mão."

Nenhum comentário: