domingo, abril 05, 2015

Diante das coincidências históricas, meu barril primeiro!

Tentar juntar a realidade contemporânea com os registros históricos sempre traz alguma surpresa, porque quase sempre se imagina que só o presente é singular pela materialidade do real, quando a memória já se transformou em fenômeno.

Nessa toada, ao observar entre nas notícias da atualidade o alvoroço com o anúncio do acordo EUA-Irã é quase natural apontar a positividade do fato, sem maiores análises.

Para os humanistas o acordo no Irã sugere um grande avanço. Já, para as grandes petroleiras mundiais, a notícia reacende navas perspectivas de faturar com o óleo iraniano, mesmo em época de preços baixos. A BP, Shell, Total e outras comemoram.

Contraditoriamente, para a região a notícia poderia ser vista como negativa. Porque quanto mais petróleo produzido, menores os preços praticados no mercado internacional.

Assim, relembramos a máxima de que paz no mundo traria crise na planície. Assim, a torcida seria para ver o preço aumentar, significando mais royalties e orçamentos municipais. Dessa forma, a crise municipal só poderia ser superada com guerras.

Isso não é novidade para a planície. Talvez, nem seja coincidência para a nossa região. Fenômeno semelhante foi vivido por essas bandas há um século. 

Na ocasião, o excesso de produção açúcar no mundo jogou os preços lá embaixo. Depois dos agricultores e usineiros locais passarem o pires na capital federal, no Rio de Janeiro, apelando até para o campista Nilo Peçanha (ao passar pela vice e depois pela Presidência da República, no final da primeira década, do século XX, 1910) sem nenhum sucesso. 

Só o estourar da 1ª Guerra Mundial trouxe alívio, com a elevação dos preços do açúcar. A região festejou. Sobre a época Osório escreveu: "O açúcar sobe com a guerra e Campos cresce".

No momento, eu estou escrevendo um texto sobre essa coincidência. Na cata de informações localizei uma frase do Jorge Renato Pereira Pinto, ao relembrar essa história. 

Jorge Renato disse algo que temos repetido por aqui nos últimos anos, só que com o caso da nossa economia dos royalties: “o açúcar é indústria da guerra, só dá lucro quando o mundo se destrói nas guerras”. A frase foi lembrada pelo nosso escritor Osório Peixoto em seu último livro.

De forma similar, eu imagino que muitos possam estar rogando praga para que o acordo nuclear firmado com o Irã não prospere. Ou, que eles possam brigar com seus inimigos históricos, a Arábia Saudita fechando mutuamente os seus recheados campos petrolíferos. De quebra vão querer ainda, que o xisto americano suma, ou se dilua poluindo ainda mais as águas da América do Norte.

Enfim, lá ou aqui, ganham os que sempre ganharam e perdem os que sempre perderam, mesmo que o individualismo interprete que diante de tanta farinha, meu pirão primeiro. Ou, no caso com o ditado já adaptado: diante de tanto petróleo, meu barril primeiro!

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