terça-feira, outubro 21, 2008

Crônica sensacional!

Ela é de autoria do Joaquim Ferreira dos Santos e foi publicada ontem, no jornal, O Globo. O blog sabe que o assunto que está quente por aqui é a política e a eleição do próximo domingo. Até para isso ela serve. Ela trata da Urbe. Ela fala de cultura e de algo imaterial que não está nem nos equipamentos mais básicos que uma comunidade necessita, como saúde e/ou educação, mas faz um bem danado. Não há como ler um texto destes e sair indiferente... Isso é que é gostar de uma cidade, isto é apreciar o cidadão em suas mais diferentes manifestações que fogem ao padrão de qualquer tipo. Vale sua leitura e reflexão: "Da Penha ao Leblon" "Todos no mesmo trem para salvar o Rio" "Uma política suburbana para o Rio deve estabelecer, no parágrafo primeiro de suas vocações, a obrigatoriedade, assim que soasse o carrilhão das dezoito horas, de todos os cidadãos colocarem suas cadeiras na calçada da Avenida Atlântica ou na Avenida Monsenhor Félix. Fazer como os bois. Olhar o horizonte. Os antidepressivos, os relaxantes musculares, todos teriam suas vendas prejudicadas pelo exercício contra o estresse, a não-beligerância de olhar plácido. Era assim nos anos 50 da memória carioca, um piqueesconde entre Méier e Acari. Hoje é um filme que circula pela internet, um Rio paradisíaco, já com 20 milhões de acessos e 300 milhões de suspiros. Só uma política suburbana de convivência, em que se fortaleçam os laços de solidariedade, fará a senhora do 301 de Ipanema aconselhar à senhora do 302 que ponha a fatia de batata crua na base do pescoço do filho para lhe curar a febre da caxumba. Basta um bom gesto, a asa de borboleta que bate no Parque Ary Barroso, e o resto se contaminará. Mais verba para a educação, mais metrô e licitação para as linhas de ônibus. Mas é preciso acalmar os espíritos, dar uma volta de braços dados com a amiga na pracinha de domingo e deixar que os rapazes se aproximem, suaves, e digam a versão atual para o que no passado era “Você não estuda no Carmela Dutra?” Ser suburbano deve ser consagrado, no parágrafo segundo da nova constituição municipal, o elogio máximo da nova alma carioca que virá — virá que eu vi. Ao fim do expediente, no canto do Leme, os conjuntos de choro tocarão “Pedacinho do céu”. A paz reinará e definitivamente ficará claro. Suburbano, na civilização carioca, é elogio e vocação. É ala das baianas, padeiro na bicicleta, a Lira do Xopotó no Jardim do Méier e galo cantando às quatro da manhã. Eu ficaria ofendido se alguém me chamasse de “político”. Aí, sim, aí o pau quebrava na casa de Noca da Portela, e a Fera da Penha, a Invernada de Olaria e o Tião Medonho atravessariam o túnel para perguntar quem fez tamanha ofensa a um trabalhador honesto. Moisés, eterno xerife do Bangu, vestiria novamente o uniforme dos rosadinhos de Moça Bonita e, a classe de sempre, cortaria a bico da chuteira a grama da mansão do acusador. Nada disso será preciso. Reinará a paz no trem Penha-Leblon. Ser suburbano é honra ao mérito no quesito carioquice, a cadeira de palha em que Pixinguinha se balançava para a foto, o celeiro de craques de onde surgiu Zico, o Galinho de Quintino. Genuflexo em meio aos degraus da Penha, abraço o saquinho de Cosme e Damião que me vai eternamente n’alma, e perdôo quem não ouviu Jacob de pijama ao bandolim no quintal de Jacarepaguá. Eu tenho Piedade, Cascadura e Abolição por todos que não puderam ser vizinhos de Carlos Heitor Cony na Aldeia Campista, por todos que não andaram pelas ruas da Boca do Mato com os personagens de Stanislaw Ponte Preta. Eu sou Encantado pelos contrários e, com a hóstia-consagrada da Igreja da Vila Kosmos ainda guardada no canto da boca da primeira comunhão, a todos faço oração e conclamo. Só uma política suburbana de camaradagem e bola de gude reaproximará o carioca. O Paraíso Perdido é aqui perto. Você entra pelo Largo do Bicão, passa por uma banca que acabou de receber o “Almanaque do Jerônimo” e está lá, no recreio da Escola Grécia. O pessoal do escritório relaxará, acompanhado pelo banjo do Cacique de Ramos, depois de uma reunião sobre as perdas na Bolsa — e eis o parágrafo terceiro. Benzam-se todos com os Ramos da Eucaristia, as folhas douradas das amendoeiras do Parque Clementina de Jesus, que será imediatamente obrado pelo secretário de Urbanismo. Bonsucesso a quem irá dirigir nossa multidão de Clóvis e malhadores de Judas. Nas escolas de arte, os estudantes terão noção de estética aprendendo a debicar uma pipa. A política suburbana é uma UPA para a alma, um plano alternativo para desafogar o trânsito e acabar com o ridículo de motoristas saindo na mão por qualquer bobagem. Ser macho será desfilar no Bloco das Piranhas de Madureira. Ser fêmea será organizar um mocotó na laje todos os domingos para os vizinhos e parentes. Urge uma política menos prozac de recuperar os bons sentimentos e fazer com que as pessoas se animem novamente a conviver com o próximo, seu ex-inimigo. Tem jeito, e o caminho é pelo way of life da Estrada do Quitungo. Os técnicos da Coppe podem ajudar com opções de desenho urbano, os da Fundação Getúlio Vargas devem dar um jeito com o IPTU atrasado da prefeitura. A política suburbana, porém, aprendeu na filosofia ligeira do jogo da amarelinha e sabe da distância mínima entre o céu e o inferno. Sabe que é preciso cuidar de cada passo sem pisar na linha do tecnicismo frio. Uma política suburbana, baseada na cordialidade de Todos os Santos, na solidariedade feliz da praia na laje, eis uma maneira sofisticada de se arrumar o futuro. Eu pulei carniça com Zeca Pagodinho em Del Castilho, fui internado no hospício do Engenho de Dentro com Lima Barreto, e com Jorge Veiga eu conheci uma dona boa lá em Cascadura, grande criatura, mas que não sabia ler e nem tampouco escrever. Sou por uma política suburbana que devolva a cidade ao que já nos foi Glória, Saúde e Gamboa, e agora só se vê em vídeos nostálgicos no YouTube. Que o futuro prefeito diminua o IPTU e aumente a suburbanice da cidade, substitua por decreto o nome ridículo do Jardin Du Dimanche daquele prédio na Lagoa por alguma coisa do tipo “Cantinho de fulano e sicrana”, homenageando nesses dois nomes o mais antigo casal do pedaço. Suburbano é medalha de honra ao mérito, um pratinho de doce que se leva para casa, com um guardanapo em cima, depois da festa. A política suburbana não resolverá sozinha o problema dos hospitais públicos, mas melhorará a saúde mental das pessoas. Aos sábados, parágrafo último, todos colocariam seus carros na calçada, botariam a mangueira para fora e, depois de rir muito com essa bobagem Casseta e Planeta, passaríamos a tarde dando um brilho na nossa tão amassada auto-estima".

3 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia Professor acabo d ficar sabendo q não para d chegar ônibus em Campos vindo do Rio de Janeiro,será pq?Oh chegou tb um trio elétrico em Travessão vindo d Duque de Caxias(doação d Zito),eles até foram parados no posto Timbozão,só q não houve motivos p prisões eles disseram q não votavam aq(e os PMS acreditaram,patetas)e pelo oq estou vendo vai acontecer a mesma coisa de 2004 qdo então a candidata Rosinha era governadora do estado... eu nunca ví tanta gente estranha na nossa cidade,eram vans e ônibus q não paravam d chegar e tds eles lotados...dizem as mas linguas q são pessoas q o ex governador apoiou p prefeito em algumas cidades e o pessoal q trabalhou na campanha de Clarissa no Rio...rx

Anônimo disse...

Caro Professor Roberto,

Acho importantíssimo que esse tema seja colocado em debate:

Direto da Folha da Manhã, coluna Ponto Final:

Esperança

Na expectativa de projetos, no ciclo de entrevistas da Folha, em que Arnaldo participou sozinho, por recusa de Rosinha de ser ouvida pessoalmente por esta redação, uma proposta ousada há de se destacar. É a do choque de gestão, com a participação do professor Vicente Falconi e seu Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG)".


Por nova gestão 1

A idéia é simples, mas fundamental: consultoria externa para organizar contas e orientar investimentos. Falconi é criador do INDG e trabalhou para o governador Aécio Neves, reativando a saúde fiscal de Minas Gerais. O governador Sérgio Cabral é cliente do INDG, onde disse que encontrou o estado em situação de crise.


Por nova gestão 2

“Lá estamos indo além de reduzir sonegação e despesas”, diz o professor Falconi. E, completa: “Estamos rees-truturando várias secretarias, em todos seus processo”. Até na segurança pública, na parte de estratégia, o INDG presta consultoria ao governador Cabral. Campos precisa de algo similar, pela sua importância, por seu peso econômico.

Por nova gestão 3

Recursos há para que a proposta de Arnaldo Vianna seja posta em prática. Ele mesmo, na entrevista que deu à Folha no sábado, lembrou de uma verdade: é preciso mudar o modelo. “As pessoas acham que o presidente Lula mudou. Ele não mudou, foi mudado pela estrutura que escolheu para lhe acompanhar”, ressaltou.

Quanto iria custar aos cofres públicos a contratação de uma consultoria permanente para administrar todo o Município de Campos?

Como ficam os profissionais capacitados do Município diante dessa possibilidade?

Tema importante a ser discutido, pois é uma temeridade entregar os destinos da nossa economia nas mãos de uma empresa que não é habituada ao cotidiano de Campos!

Muitos projetos podem ser desenvolvidos no âmbito Municipal sem, necessariamente, contratar uma empresa de fora para esse tipo de consultoria!

Anônimo disse...

Bom dia professor,Muito boa esta crônica!Vejo tudo isto como um sonho.O difício são:" todos no mesmo trêm p/ salvar Campos" ,pois a cidade está dividida e nem todos falam a mesma lingua,na política isto é mais que normal alguns visam interesses próprios e outros querem um munícipio melhor p/ todos,porém o momento é de espera e fé.