sábado, dezembro 27, 2014

Mídia comercial na Espanha e no Brasil, uma breve e inicial análise comparativa

Eu tenho trazido para o debate aqui nesse espaço realidade da Espanha (e da Europa) em contraponto à realidade brasileira para uma discussão mais aprofundada.

A mídia comercial aqui na Espanha não é muito diferente da do Brasil. Porém, há distinções que não podem ser desconsideradas.

Aqui na Espanha, as informações internacionais aparecem nas primeiras páginas e não jogadas ao final do impresso.

Há posições políticas não difíceis de serem identificadas, porém, diferentemente do Brasil, normalmente a informação é separada da opinião. A opinião não é só da jornal, ou da editoria e sobre uma única questão.

É comum ela aparecer, em textos duplos e em posições e opiniões diversas, logo abaixo da notícia ou informação.

Isso faz uma enorme diferença.

Nem todos percebem isso no dia a dia. Porém, você se acostuma (e fica bem adaptado) com esta forma de ler a informação e depois, opiniões distintas.

Assim, você é respeitado, considerando que a sua posição é formada por você diante de contraposições, e não como costumamos ver no Brasil, onde você é bombardeado com uma única, misturada à sua interpretação, tentando formar sua opinião que depois será vendida (comercialmente), a um preço em que a propaganda foi incluída no preço.

Ainda assim, não há neutralidade, como tentam alguns passar.

Porém, não é tão absurdamente cretina, hipócrita e interessada como a mídia brasileira.

É interessante ainda observar, talvez por conta desta prática, que os jornais impressos aqui, mesmo diante dos avanços dos portais de notícias e das informações online destes mesmos impressos, que eles são muito procurados. Quase todos os restaurantes e bares disponibilizam aos seus clientes gratuitamente exemplares do dia. Eles são muito consultados e lidos.

Outro fato interessante é que os jornais locais/regionais possuem grande prestígio e são muito lidos. No caso aqui da Catalunya, alguns possuem tiragens próximas a de alguns impressos nacionais do Brasil.

Vale ainda registrar que aqui na Espanha, não se permite que empresas de mídia impressa tenham também concessões de rádio e televisão, que em sua maioria são controladas pelos governos provinciais ou nacionais.

Diante desta realidade que já conhecia de momentos (e passagens) anteriores, mas, agora com quatro meses de morando por aqui, eu me certifico e confirmo que precisamos regular esse processo no Brasil.

A sociedade tem o direito de interferir e interferir no tipo e na forma em que a informação lhe deve ser passada para formar a sua opinião. 

Talvez, essa seja uma das mais importantes reformas que temos pela frente. 

Outra de prioridade igual é a política, porém, ouso dizer que a reforma na instituição ligada à informação é a prioridade primeira. A conferir!

5 comentários:

Anônimo disse...

A Dilma nao consegue nem montar uma equipe ministerial minimamente decente, quanto fazer reforma politica ou aprovar uma regulacao da midia. Ela vai precisar, pelo menos, criar mais 39 ministerios para q comecem a levar isso a serio la em Brasilia.

Anônimo disse...

Professor:

O professor Beluzzo tem razão quando diz que a grande imprensa brasileira é um cartel. Aliás, outros cartéis pululam na economia brasileira como cogumelos em árvores. Construção, cimento, óleo e gás, bancos, ind. automotiva, remédios, aço, armas etc.

E como se combate os cartéis?

Criando Leis expropriando suas "conquistas" ainda que estas sejam de origem nebulosa ou fruto de protecionismo de mercado? Com censura no caso da mídia?

Penso que não!

Cartel se combate principalmente com concorrência. E o governo tem os instrumentos para viabilizar a livre concorrência. Ao invés de patrocinar leis e regulamentos que dificultam o crescimento de empresas menores devia caminhar no sentido contrário, com incentivos. Pode contratar com empresas menores. Dá mais trabalho, mas a distribuição de renda é maior.

Fiquemos no caso da mídia, objeto deste post:

Vá o senhor fundar um jornal. Ou o Altamiro Borges. Ou o Azenha. Ou o Miguel do Rosário. Ou o Luis Nassif. Ou o Douglas da Mata.

Mesmo que esta não seja a vontade dos citados, eles não passariam do projeto. Nem conseguiriam comprar o papel, se de papel fosse o periódico.

E porque?

Porque o cartel trabalha com afinco para se proteger de novos concorrentes. Patrocina leis, normas e entraves ao crescimento que os colocam como senhores do mercado. E o governo aceita isso porque no governo também estão os donos dos cartéis.

Não adianta reclamar que a Veja conspira contra o governo. Adianta viabilizar a possibilidade do Mino Carta ter uma revista de igual envergadura.

Não adianta esbravejar contra a Globo. Faz mais sentido ser possível a Band ou outra TV menor evoluir e construir uma boa rede. Hoje não é.

Faz sentido impedir que empresas grandes se tornem gigantescas com impostos seletivos e restrições, mas o que existe é uma restrição generalizada onde uma pequena empresa paga mais imposto que a uma grande empresa proporcionalmente. E tem quase que as mesmas obrigações. Só um grande conglomerado pode contornar o regramento ou mesmo confronta-lo. E para sua consolidação formam-se os cartéis.

Agora: Vai desatar este nó...

Roberto Moraes disse...

Sim, esse é um bom debate e nó a ser desatado.

Anônimo disse...

Esquerdistas keynesianos adoram a politica economica desenvolvimentista. Inclusive, esse desenvolvimentismo que nos levou ao buraco economico q estamos hoje e muito parecido com a politica economica durante o periodo militar. Delegam ao Estado o dever de impulsionar a economia, a qualquer custo. A Rede Globo, a tal "mídia comercial vendida, nojenta, manipuladora, etc" cresceu com fortes ligacoes ao estatismo militar. De forma semelhante, a JBS virou uma gigante que é hoje gracas a bilionarios empréstimos do BNDES (q inclusive empresta mais dinheiro a grandes empresas do que as pequenas). Hoje é criticada porque faz lobby no congresso, porque domina boa parte do mercado que atua, porque virou uma gigante capitalista opressora... a trajetória da Globo, da JBS, e da maioria de tantas outras empresas gigantes passa pelo farto credito do governo, isencoes fiscais, protecionismo e reservas de mercado garantidas pelo proprio governo. Depois ficam xingando e reclamando dos proprios monstros que criaram...

Anônimo disse...

Isso aí Anônimo das 5:46 PM. Criamos as cobras para nos morder.

O estado mínimo não existe, mas o estado máximo é um equívoco.

Tanto maior o estado, maior o poder do "facilitador" dos favores. Há que se encontrar o meio termo e isto também é um bom debate.

Mas enquanto a gente fica debatendo, tem gente ficando rico atravessando favores do governo. E quem produz, está amargando a derrocada.

Não é segredo que grande parte dos lucros das grandes empresas deve-se às aplicações financeiras. O dinheiro gerando dinheiro na farra dos derivativos como escreveu Harvey.

A produção, aquela que efetivamente GERA riqueza, está definhando ou confinada no trabalho semi-escravo a menos de 5 dólares por dia, mundo afora...

Então, que comece efetivamente a terceira guerra.