sábado, outubro 21, 2017

Significativa redução da renda do trabalho no Brasil

Uma análise feita nos dados mensais dos últimos 12 meses no Cadastro Geral de empregados e desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) e publicado pelo Valor [1], indicou que os salários dos trabalhadores admitidos estão 80% menores que dos demitidos na indústria.

Isso mesmo, além do aumento do desemprego, a renda do empregado cai 20% na indústria, 13% na área de serviços, 10% no comércio, 9% na construção civil. Apenas na agricultura, onde os salários já são baixos os valores dos salários entre admitidos e demitidos caíram apenas 1%.

Considerando os 5 setores da economia, na média a diferença entre os salários dos admitidos e demitidos é de 87%. Lembrando que isto é no mercado de trabalho formal. Abaixo o infográfico da matéria do Valor [1] mostrando a relação entre salário de admissão e demissão no período entre jan. 2014 e Ago 2017.
















No caso da indústria a perda de 20% é na média. Não é difícil imaginar que na indústria do petróleo, durante esta fase de colapso do ciclo petro-econômico, esta perda média de salário deve estar próximo dos 30%. Fora os casos em que a redução de salário se dá em acordos internos na empresa, sem que tenha havido demissão e ou (re)contratação.

O fato mostra, de maneira inequívoca, como na fase de colapso no ciclo econômico, a renda do trabalho é tão reduzida e num período de tempo tão rápido.

Parecem efeitos da apropriação da renda do trabalho pelo andar superior. Efeitos sociais das crises no ciclo econômico. Menos direitos sociais. Menores rendas e recolhimento dos excedentes da economia pelo andar superior na leitura do Arrighi, no seu imprescindível livro: "O mito do desenvolvimento".

Juntando este dado com os outros que mostram maiores captações para investimentos do setor financeiro em todo o país, é fácil observar para onde estes excedentes estão migrando no movimento cíclico, em que as crises são parte do sistema.

O que muitos não percebem é que desta forma – com menor renda - o consumo diminui e a saída da fase de colapso tende a ser mais longa, especialmente, quando se foca numa ideia fiscalista que quase encerra a economia per si, como uma forma de romper o desequilíbrio que limita, mesmo na ótica capitalista, a busca de uma nova fase de expansão.

Os gastos e investimentos do estado são fundamentais para alterar esta espiral para baixo. Eles podem ampliar as receitas do governo com os tributos. Porém, tudo isto é insuficiente diante dos ganhos rentistas cada vez maiores sobre a produção que limita o crescimento.

O setor financeiro e rentista cada vez se apropria mais e mais do setor produtivo. Sem alterar também esta lógica, o sistema nunca será estável nesse capitalismo tupiniquim que não aceita para de brincar nesta gangorra esquizofrênica, onde nunca sai da posição de cima.

Referências
[1]Matéria do Valor em 16 out. 2017. MARTINS, Arícia. Empresas ampliam defasagem salarial de novos contratados. Disponível em: http://www.valor.com.br/brasil/5156526/empresas-ampliam-defasagem-salarial-de-novos-contratados

[2] ARRIGHI, Giovanni. A ilusão do desenvolvimento. 1 ed. Petrópolis. Vozes, 1997.

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